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Q2444376
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A era dos memes na crise política atual
Seria cômico, se não fosse trágico, o estado
de irreverência do brasileiro frente à crise
em que o país encontra-se imerso. A nossa
capacidade de fazer piada de nós mesmos e
da acentuada crise político-econômica atual
nos instiga a refletir se estamos “jogando a
toalha” ou se este é apenas um “jeitinho
brasileiro” de encarar a realidade. A
criatividade de produzir piadas, memes e
áudios engraçados expõe um certo tipo de
estratégia do brasileiro para lidar com
situações de conflito: “Tira a Dilma. Tira o
Aécio. Tira o Cunha. Tira o Temer. Tira a
calça jeans e bota um fio dental, morena
você é tão sensual”. Eis uma das milhares de
piadas que circulam nas redes sociais e que,
de forma irreverente, estimulam o debate.
Não há aquele que não se divirta com essa
piada ou outra congênere; que não gargalhe
diante dos diversos textos engraçados que
circulam por meio de postagens ou
mensagens de celular, independentemente
do grau de escolaridade de quem
compartilha. Seja por meio do deboche e do
riso, é de “notório saber” que todas as
classes estão conscientes da gravidade da
situação e que, por conseguinte, concordam
que medidas enérgicas precisam ser
tomadas. A diferença está na forma
ideologicamente defendida para a tomada
de medidas.
A “memecrítica” é uma categoria de crítica
social que tem causado desconforto nos
políticos e membros dos poderes judiciário e
executivo, estimulando, inclusive, tentativas
frustradas de mapeamento e controle do
uso da internet por parte dos internautas.
[...]
Por outro lado, questionar as contradições
presentes apenas por meio da piada, em
certo aspecto politizada, não garante
mudanças sociais de grande impacto. Esses
manifestos e/ou críticas de formas isoladas
(ou uníssonas) podem, mesmo sem
intenção, relegar os cidadãos brasileiros a
um estado de inércia, a uma condição de
estado permanente de sonolência eterna
em “berço esplêndido”. Já os manifestos,
protestos e/ou passeatas nas ruas e demais
enfrentamentos em espaços de poder
instituídos ainda são os mecanismos mais
eloquentes e potenciais para contrapor
discursos e práticas opressoras que
contribuem para o caos social. É preciso o
tête-à-tête, o diálogo crítico e reflexivo em
casa, na comunidade e demais ambientes
socioculturais. Entretanto, um diálogo
respeitoso, cordial, que busca a alteridade.
Que apresente discordâncias, entretanto
respeite a opinião divergente, sem abrir
mão da ética e do respeito aos direitos
humanos.
(Luciano Freitas Filho – Carta Capital (adaptado),
junho/2017. Disponível em:<http://justificando.cartacapital.com.br/2017/06/07/
era-dos-memes-na-crise-politica-atual/> .)
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