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Q2044619 Português
Os homens que se transformavam em barbantes
Moacyr Scliar

Havia uma cidade, grande, desenvolvida. As pessoas que moravam lá eram saudáveis, simpáticas e alegres. Não me lembro o nome da cidade, porque eu tinha quinze anos quando passei por ela, levado por meu pai. Nessa época, não me preocupava com o nome, mas sim com os lugares propriamente. Acontece que, certo dia, um habitante desta cidade saiu de casa, pela manhã, dirigindo-se alegremente ao emprego. Fez todas as coisas de praxe. Cumprimentou os vizinhos, o barbeiro da esquina, o vendeiro, os colegas no ponto de ônibus, agradeceu ao motorista, ao ascensorista, sentou-se em sua mesa. Nesse dia, no fim do expediente, o homem notou que seu pulso esquerdo parecia mais fino. ―Bobagem. Impressão. Acho que estou cansado demais.‖ Foi para casa, jantou, viu telenovela, dormiu. Na manhã seguinte, o pulso tinha se afinado mais. E suas canelas pareciam de criança. Chamou a mulher. Ela ficou tão impressionada, que o homem se arrependeu de ter mostrado. Não havia dor, apenas fraqueza. Partiu para o emprego. Contente, cumprimentando as pessoas e agradecendo ao motorista e ao ascensorista. No meio da tarde, porém, não conseguiu trabalhar. O pulso estava fino e dobrava-se. Maleável, sem consistência. O homem, envergonhado, puxou a manga da camisa. O mais que pôde, para que os colegas não vissem. Mas viram. Porque o homem tinha o corpo transformado. A cabeça, única coisa normal, caiu sobre a mesa. O torso não era mais grosso que um lápis, suas pernas e braços, finos como cordéis. Mas ele estava lúcido, coerente, o cérebro não tinha sido perturbado. Além do impacto, e da surpresa ante o estranho, o homem continuava o mesmo. Levado para casa, chamaram o médico. E o médico chamou outro médico. Porque:

— Não é o primeiro. É o terceiro, nesta semana.

Os jornais noticiaram o fato e as notícias trouxeram à luz novos casos. Pela cidade inteira, acontecia aquilo, as pessoas se adelgaçavam, tornavam-se frágeis. Em pouco tempo, outro fato surgiu, ao lado dos homens que se transformavam em barbantes. Eram os que se transformavam em vidro. Tinham que ter muito cuidado, ao andar pela rua, ao trabalhar, porque podiam se quebrar com qualquer batida. Vez ou outra, os homens de vidro se desfaziam. Em plena rua, à vista de todos. Como o vidro blindex que se estilhaça por inteiro. Aquela população alegre, saudável, descontraída, começou a viver apavorada. Sem saber se, a qualquer momento, o vírus (seria vírus?) podia atacar. Mudando a pessoa em vidro ou barbante. Muitos começaram a se mudar, indo para cidades distantes. A secretaria de saúde analisou o ar, a água, tudo, em busca das causas. Mas o ar era bom, não poluído. E as águas vinham de nascentes puras ou de poços artesianos límpidos. Pensou-se que algumas pessoas podiam estar colocando elementos venenosos na comida ou em caixas de água. Investigações nada concluíram. E até hoje, nada se sabe. A cidade parece estar se habituando à possibilidade de eventualmente alguém se transmutar. Não causa mais surpresa quando um barbante é levado pelo vento ou, em dias de chuva, é tragado pela enxurrada. Ou quando os vidros se liquefazem, no momento em que uma pessoa vira a esquina ou dá um esbarrão noutra. A população se acostumou. Parece que o homem se adapta às piores condições, conformando-se com os acontecimentos. Naquela cidade, tudo é muito frágil, a vida humana tem a espessura de um fio. Ou é delgada como um vidro. Mas isto vai se constituindo na normalidade.

Extraído de: BRANDÃO, Ignácio de Loyola. Cadeiras proibidas. São Paulo: Global, 1998.
Releia o trecho extraído do texto "As pessoas que moravam eram saudáveis, simpáticas e alegres". Assinale a alternativa CORRETA sobre a palavra em destaque:
Alternativas

Gabarito comentado

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Para resolver esta questão, precisamos entender a função morfológica da palavra "lá" no contexto da frase. A frase é: "As pessoas que moravam eram saudáveis, simpáticas e alegres".

Alternativa correta: C - Trata-se de um advérbio que se refere ao sintagma “uma cidade”.

A palavra "lá" é, de fato, um advérbio de lugar. Neste contexto, ela está indicando o lugar onde as pessoas moravam, referindo-se a "uma cidade" mencionada anteriormente no texto. Os advérbios podem modificar verbos, adjetivos ou outros advérbios, mas, neste caso, ele está apontando para um lugar específico, que é a cidade mencionada.

Explicações sobre as alternativas incorretas:

A - Trata-se de um advérbio que se refere ao verbo “moravam”.
Embora "lá" seja um advérbio de lugar, a redação desta alternativa sugere que o advérbio está modificando diretamente o verbo "moravam", o que não é o caso. Ele está indicando o local da ação, mas seu papel principal na frase é identificar "uma cidade".

B - Trata-se de um adjunto adnominal indicativo de lugar.
Adjuntos adnominais geralmente se referem a elementos que qualificam o substantivo, como adjetivos ou locuções prepositivas. "Lá" é um advérbio, não um adjunto adnominal.

D - Trata-se de um conectivo indicativo de lugar.
Conectivos são termos que ligam orações ou partes do discurso. "Lá" não conecta partes da frase; ele apenas indica o lugar mencionado.

Espero que essa explicação tenha ajudado a esclarecer suas dúvidas sobre a função morfológica da palavra "lá". Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!

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Comentários

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Havia uma cidade, grande, desenvolvida. As pessoas que moravam eram saudáveis, simpáticas e alegres.

Retoma o termo cidade.

Gab letra c

Sempre leia o texto, pelo menos uma vez.

como pode um advérbio referir-se a substantivos ? questão errada

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