Compare “Com licença poética” de Adélia Prado com a primeira...
Texto 2 para as questões 36 e 37.
Com licença poética
Adélia Prado
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra
homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
Disponível em https://wp.ufpel.edu.br/
Compare “Com licença poética” de Adélia Prado com a primeira estrofe do “Poema de Sete Faces” de Carlos Drummond de Andrade.
Poema de sete faces
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
(Carlos Drummond de Andrade)
É percebível, no próprio título do poema “Com licença poética”, que Adélia Prado estabelece um diálogo com “Poema de sete faces” de Carlos Drummond de Andrade, ao anunciar um pedido de licença para entrar no universo drummoniano.
O recurso presente nessa intertextualidade pode ser considerado: