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Q582514 Português
TEXTO 1:

                                          Será que sou bobo?

                                                                                Walcyr Carrasco

      Ando perdido em uma selva de palavras. Existem termos destinados a dar a impressão de que algo não é exatamente o que é. Ou para botar verniz sobre uma atividade banal. Já estão, sim, incorporados no vocabulário. Servem para dar uma impressão enganosa. E também para ajudar as pessoas a parecer inteligentes e chiques porque parecem difíceis. Resolvi desvendar algumas dessas armadilhas verbais.

      Seminovo — Já não se fala em carro usado, mas em seminovo. Vendedores adorarn. O termo sugere que o carro não é tão velho assim, mesmo que se trate de uma Brasília sem motor. Ou que o câmbio saia na mão do comprador logo depois da primeira curva. E pura técnica de vendas. Vou guardá- lo para elogiar uma amiga que fez plástica. Talvez ela adore ouvir que está “seminova". Mas talvez...

      Sale — É a boa e velha liquidação. As lojas dos shoppings devem achar liquidação muito chula. Anunciam em inglês. Sale quer dizer que o estoque encalhou. A grife está liquidando, sim! Não se envergonhe de pedir mais descontos. Pode ser que não seja chique, mas aproveite.

      Loft — Quando o loft surgiu, nos Estados Unidos, era uma moradia instalada em antigos galpões industriais. Sempre enorme e sem paredes divisórias. Vejo anúncios de lofts a torto e a direito. A maioria corresponde a um antigo conjugado. Só não tem paredes, para lembrar seu similar americano. É preciso ser compreensivo. Qualquer um prefere dizer que está morando em um loft a dizer em uma quitinete de luxo.

      Cult — Não aguento mais ouvir falar que alguma porcaria é cult. O cult é o brega que ganhou status. O negócio é o seguinte: um bando de intelectuais adora assistir a filmes de terceira, programas de televisão populares e afins. Mas um intelectual não pode revelar que gosta de algo considerado brega. Então diz que é cult. Assim, se pode divertir com bobagens, como qualquer ser humano normal, sem deixar de parecer inteligente. Como conceito, próximo do cult está o trash. E o lixo elogiado. Trash é muito usado para filmes de terror. Um candidato a intelectual jamais confessa que não perde um episódio da série Sexta-Feira 13, por exemplo. Ergue o nariz e diz que é trash. Depois, agarra um saquinho de pipoca, senta na primeira fila e grita a cada vez que o Jason ergue o machado.

      Workshop — E uma espécie de curso intensivo. Existem os bons. Mas o termo se presta a muita empulhação. Pois, ao contrário dos cursos, no workshop ninguém tem a obrigação de aprender alguma coisa específica. Basta participar. Muitas vezes botam um sujeito famoso para dar palestras durante dois dias seguidos. Há alunos que chegam a roncar na sala. Depois fazem bonito dizendo que participaram de um workshop com fulano ou beltrano. A palavra é imponente, não é?

      Releitura — Ninguém, no meio artístico ou gastronômico, consegue sobreviver sem usar essa palavra. Está em moda. Fala-se em releitura de tudo: de músicas, de receitas, de livros. Em culinária, releitura serve para falar de alguém que achou uma receita antiga e lhe deu um toque pessoal. Críticos culinários e donos de restaurantes badalados adoram falar em cardápios com releitura disso e daquilo. Ora, um cozinheiro não bota seu tempero até na feijoada? Isso é releitura? Então minha avó fazia releitura e não sabia, coitada. O caso fica mais complicado em outras áreas. Fazer uma releitura de uma história não é disfarçar falta de ideia? Claro que existem casos e casos. Mas que releitura serve para disfarçar cópia e plágio, serve. Seria mais honesto dizer “adaptado de..." ou “inspirado em...", como faziam antes.

      Daria para escrever um livro inteiro a respeito. Fico arrepiado quando alguém vem com uma conversa abarrotada de termos como esses. Parece que vão me passar a perna. Ou a culpa é minha, e não sou capaz de entender a profundidade da conversa. Nessas horas, fico pensando: será que sou bobo? Ou tem gente esperta demais?

(CARRASCO, Walcyr. In: SILVA, Carmem Lucia da & SILVA, Nilson Joaquim da. (orgs.) Lições de Gramática para quem gosta de Literatura. São Paulo: Panda Books, 2007. p. 77-79.)
Em “Um candidato a intelectual jamais confessa que não perde um episódio da série Sexta-Feira 13, por exemplo.", a oração destacada possui o mesmo valor que o de um:
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Para resolver questões de concursos públicos como esta, precisamos entender o tema central que é a análise da função sintática de orações subordinadas. O enunciado nos pede para identificar o valor semântico de uma oração destacada na frase: “que não perde um episódio da série Sexta-Feira 13, por exemplo”. Vamos detalhar isso de forma acessível.

Alternativa correta: D - substantivo

A oração subordinada adjetiva destacada “que não perde um episódio da série Sexta-feira 13, por exemplo” tem a função de complementar um substantivo que está implícito na frase: "intelectual". Na realidade, essa oração funciona como um substantivo porque ela está qualificando e complementando o sujeito "candidato a intelectual". Em termos técnicos, ela oferece uma característica ou informação sobre esse sujeito, funcionando, portanto, como uma oração subordinada substantiva.

Agora, vamos analisar as outras alternativas:

A - advérbio de tempo: Advérbios de tempo expressam quando uma ação ocorre, como "hoje", "amanhã", "depois". A oração destacada não fornece essa informação, pois não indica um momento em que a ação acontece.

B - advérbio de causa: Advérbios de causa indicam o motivo ou a razão de uma ação, como "porque", "já que". A oração não está explicando a razão de o candidato não perder os episódios, então não se trata de causa.

C - advérbio de finalidade: Advérbios de finalidade indicam o objetivo de uma ação, como "para", "a fim de". A oração destacada não expressa objetivo, portanto, não é uma advérbio de finalidade.

E - adjetivo: Adjetivos qualificam ou caracterizam substantivos, como "bonito", "inteligente". Apesar de parecer que a oração está qualificando o "intelectual", ela funciona estruturalmente como um substantivo, cumprindo o papel de um complemento.

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Comentários

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Um candidato a intelectual jamais confessa -> O Que? 

Isso -> que não perde um episódio da série Sexta-Feira 13, por exemplo.

Oração Subordinada Substantiva Objetiva Direta -> Substantivo

 d)substantivo;

Verbo confessar é objetivo direto. quem confessa, confessa ALGO (esse algo sempre é sempre um substantivo, ou equivale a um). Confessa o quê? que não perde um episódio da série Sexta-Feira 13, por exemplo

 

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