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Q860763 Português

                                  DISCRETA PRIMAVERA

                                                                             Fernanda Torres


      As petições pululam na tela do computador. Assino, assino todas elas. Peço a demarcação das terras indígenas, a liberação do aborto e a descriminalização das drogas. Grito contra o trabalho escravo, o preconceito racial e de gênero; tento melar o emprego indiscriminado de agrotóxicos, frear o degelo das calotas polares, o desmatamento e a destruição dos corais da Amazônia. Clamo pelo fim da guerra na Síria, da corrupção e do foro privilegiado; exijo a reforma política; voto pela proteção dos micos-leões e falho com os ursos-polares.

      E, em meio ao acúmulo de urgências, ao imenso ruído do planeta, vacilo entre a paralisia e a ação. Entre o engajamento e a reflexão no silêncio. Entre ser e não ser.

      Quem É Primavera das Neves?, documentário de Jorge Furtado e Ana Luiza Azevedo, toca em cheio na histeria do agora, sem falar diretamente dela.

      Primavera Ácrata Saiz das Neves é uma mulher que enfrentou o açoite e os insultos do mundo, a afronta do opressor, o desdém do orgulhoso, as pontadas do amor humilhado, as delongas da lei, a prepotência do mando e o achincalhe do século XX.

      Filha de pai anarquista e mãe sufragista, fugidos das ditaduras de Franco e Salazar, ela cresceu no Catete do pós-guerra, estudou no Licée e dominou seis línguas. Casou-se com um tenente português e retornou para o Brasil em 1964, sozinha, com uma filha pequena. O marido permaneceu em Lisboa, condenado à prisão por ter participado da mal-sucedida Revolta da Beja.

      Em meio à insensatez e às injustiças de seu tempo, Primavera dedicou a vida à amizade, à maternidade, ao amor e à arte. Foi íntima e discreta, e nem por isso mesquinha, pequena ou indiferente.

      Traduziu Lewis Carroll, Vladimir Nabokov, Arthur C. Clarke e Emily Dickinson, Simenon e Julio Verne. Foi poeta, mãe, mulher, amiga e adoradora de Wagner; influenciou de forma profunda os que a conheceram, mas teve uma vida invisível. Morreu aos 47 anos.

      Teria permanecido anônima, não fosse a obstinação de arqueólogo de Furtado e Azevedo, que, intrigados com o nome da tradutora de Alice no País das Maravilhas, desencavaram sua preciosa história.

      Eulalie, a amiga saudosa, que sempre admirou a personalidade livre e contemporânea de Primavera, jamais percebeu nela a vontade de se promover — é o verbo que usa: promover.

      Hoje, estamos todos em promoção, gritando a esmo, como numa liquidação de Natal.

      O século XXI promove revoluções movidas a likes. Não diminuo a importância das petições que, reitero, assino convicta. Mas o milênio que se inicia também produziu uma perturbadora pornografia do ego, do exibicionismo das selfies; o bestialógico da multiplicação de blogueiros e a brutalidade travestida de diversão dos realities. Um confessionário a céu aberto, onde todos, e cada um, têm o quinhão de narcisismo preenchido pela publicação de seu diário de bordo.

      Primavera era em tudo o contrário. Apesar das perseguições que testemunhou e sofreu, da inteligência e sensibilidade que possuiu, nunca se impôs ao mundo, ou impôs o seu mundo aos demais.

     A ela, bastava ser — qualidade cada vez mais rara de ver, ter e encontrar.

         Fonte: http://vejario.abril.com.br/blog/fernanda-torres/discreta-primavera/

“O século XXI promove revoluções movidas a likes”. A palavra em destaque é um:
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Gabarito Comentado

A alternativa correta é a (E) substantivo.

Vamos entender o porquê:

A questão trata de identificar a classe gramatical da palavra "século" no contexto da frase: "O sékulo XXI promove revoluções movidas a likes".

Para responder corretamente, é necessário ter conhecimento sobre morfologia, especificamente a identificação de substantivos, numerais, pronomes, adjetivos e coletivos.

Vamos analisar cada alternativa:

A - numeral: Numerais são palavras que indicam quantidade exata ou ordem de elementos. Exemplo: um, dois, primeiro, segundo. "Século" não indica quantidade numérica, logo, não é numeral.

B - coletivo: Substantivos coletivos designam conjuntos ou agrupamentos de seres da mesma espécie. Exemplo: alcateia (grupo de lobos), equipe (grupo de pessoas). "Século" não indica um grupo de elementos, portanto, não é coletivo.

C - pronome: Pronomes substituem ou acompanham o substantivo, indicando sua posição em relação às pessoas do discurso. Exemplo: eu, tu, ele, meu, teu. "Século" não é um termo que substitui ou acompanha substantivo, então, não é pronome.

D - adjetivo: Adjetivos qualificam ou caracterizam substantivos. Exemplo: bonito, inteligente, rápido. "Século" não está qualificando outro substantivo; portanto, não é adjetivo.

E - substantivo: Substantivos são palavras que nomeiam seres, objetos, lugares, sentimentos, entre outros. "Século" é um substantivo comum que designa um período de cem anos. No contexto dado, "século" é claramente um substantivo.

Perceba que "século" é a palavra que dá nome ao período de cem anos, o que a classifica como um substantivo. Assim, a alternativa correta é (E) substantivo.

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Comentários

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O (artigo) + século ( substantivo )

 

letra E

Seria sujeito tbm?

Arthur Monteiro, acredito que SÉCULO seria sim um sujeito, mas como a questão pedia uma classificação do ponto de vista apenas morfológico, a alternativa seria suficiente. 

Gabarito: E

Acredito que todas as palavras precedidas de artigo tornar-se-ão substantivos.

 

É o que a regra pede para colocar, precedido de artigo, eu vou de substantivo;

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