"Os elementos da textualidade representam as conexões e arti...
A fada sensata sem defeitos
Não basta elogiar, a bajulação nas redes sociais exige uma hipérbole.
Manuela Cantuária*
1. O espelho da madrasta adverte: existe alguém mais belo, mais próspero e mais feliz do que você. A vida no Instagram é um conto de fadas, e isso não é necessariamente uma coisa boa. Na Internet, a rede social é a que mais prejudica a saúde mental de seus usuários, especialmente mulheres, segundo pesquisas que chocaram um total de zero pessoas.
2. Ironicamente, nossa interação pelo aplicativo é marcada por uma intensa troca de elogios. E põe intensa nisso. No Instagram, não basta dizer: "Bela foto". A bajulação virtual exige uma hipérbole: "Socorro, alguém chama o Samu, tragam desfibriladores, pois estou enfartando perante tamanha beleza" (seguido por uma rabiola de emojis de corações e palminhas).
3. A intenção pode ser das melhores – um shiatsu na autoestima da próxima –, mas a sensação é a de que os elogios estão ali para serem vistos pelos outros e viraram um espetáculo à parte, vazio de sentido. Todas nós já ouvimos pelo menos um desses elogios genéricos, que não nos representam em nenhuma instância. Entre os mais absurdos que já recebi, estão:
4. “Perfeita”" ou “Com um total de zero defeitos”. Caramba! Seria mais razoável me chamar de Pé Grande, chupa-cabra ou ET Bilu. Se existisse mesmo uma pessoa isenta de defeitos, ela não daria motivos para os outros falarem mal dela, e eu jamais negaria esse prazer aos meus amigos.
5. “Aquela que nunca errou”. Não se deixe levar por fake news! Eu já errava no útero da minha mãe. Fiquei de cócoras quando era para ficar em posição fetal. Respeita a minha história!
6. “Rainha”. O que fiz para merecer a alcunha de tirana e sanguessuga do povo? Peço que não me chamem de monarca e deem preferência a elogios mais democráticos.
7. “Gostosa”. Não frequento a academia para ser chamada de perspicaz – mas, se você for homem, por favor, mantenha seus pensamentos para você, assim como eu quero manter meu almoço no estômago. Já as amigas podem me objetificar à vontade.
8. “Deusa”. Se eu fosse uma deusa, já tinha erradicado a fome, o câncer e a acne na idade adulta.
9. No mais, obrigada pelo carinho. E não se esqueçam de elogiar com moderação.
*Roteirista e escritora.
Folha de São Paulo. Ilustrada, 11 jun. 2019, p.C7. Adaptado.
"Os elementos da textualidade representam as conexões e articulações que tornam um texto um todo compreensível e encadeado, e não um conjunto de frases sem sentido." (SARMENTO, 2013, p.66).
Com base no conceito apresentado, é correto afirmar que, no primeiro parágrafo, identifica-se um elemento da textualidade responsável pela relação e o diálogo entre textos denominado
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Comentários
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✅ Gabarito: D
➥ Basicamente, a intertextualidade consiste na conversa entre os textos. Ainda que possa ocorrer de modo pouco aparente, é muito comum os textos dialogarem entre si. E, naturalmente, é interessante explorar a intertextualidade até mesmo para aumentar o nível de compreensão do leitor.
➥ Sempre que você se deparar com comandos como "diálogo entre textos", "conversa entre textos", "interação entre textos", tratar-se-á de um recurso denominado INTERTEXTUALIDADE.
➥ FORÇA, GUERREIROS(AS)!!
O conceito de intertextualidade é: influência de um texto sobre outro que o toma como modelo ou ponto de partida, e que gera a atualização do texto citado.
Nesse caso, no primeiro parágrafo isso é encontrado na expressão: "O espelho da madrasta adverte..." fazendo-nos remeter ao conto de fadas da Cinderela.
Gabarito: D - intertextualidade
Diz respeito a interação entre textos:
"Ministério da Saúde Adverte" &
"Espelho, espelho meu, existe alguém mais bela do que eu?"
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