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Q1279596 Português

A fada sensata sem defeitos

Não basta elogiar, a bajulação nas redes sociais exige uma hipérbole.

Manuela Cantuária*


      1. O espelho da madrasta adverte: existe alguém mais belo, mais próspero e mais feliz do que você. A vida no Instagram é um conto de fadas, e isso não é necessariamente uma coisa boa. Na Internet, a rede social é a que mais prejudica a saúde mental de seus usuários, especialmente mulheres, segundo pesquisas que chocaram um total de zero pessoas.

      2. Ironicamente, nossa interação pelo aplicativo é marcada por uma intensa troca de elogios. E põe intensa nisso. No Instagram, não basta dizer: "Bela foto". A bajulação virtual exige uma hipérbole: "Socorro, alguém chama o Samu, tragam desfibriladores, pois estou enfartando perante tamanha beleza" (seguido por uma rabiola de emojis de corações e palminhas).

      3. A intenção pode ser das melhores – um shiatsu na autoestima da próxima –, mas a sensação é a de que os elogios estão ali para serem vistos pelos outros e viraram um espetáculo à parte, vazio de sentido. Todas nós já ouvimos pelo menos um desses elogios genéricos, que não nos representam em nenhuma instância. Entre os mais absurdos que já recebi, estão:

      4. “Perfeita”" ou “Com um total de zero defeitos”. Caramba! Seria mais razoável me chamar de Pé Grande, chupa-cabra ou ET Bilu. Se existisse mesmo uma pessoa isenta de defeitos, ela não daria motivos para os outros falarem mal dela, e eu jamais negaria esse prazer aos meus amigos.

      5. “Aquela que nunca errou”. Não se deixe levar por fake news! Eu já errava no útero da minha mãe. Fiquei de cócoras quando era para ficar em posição fetal. Respeita a minha história!

      6. “Rainha”. O que fiz para merecer a alcunha de tirana e sanguessuga do povo? Peço que não me chamem de monarca e deem preferência a elogios mais democráticos.

      7. “Gostosa”. Não frequento a academia para ser chamada de perspicaz – mas, se você for homem, por favor, mantenha seus pensamentos para você, assim como eu quero manter meu almoço no estômago. Já as amigas podem me objetificar à vontade.

      8. “Deusa”. Se eu fosse uma deusa, já tinha erradicado a fome, o câncer e a acne na idade adulta.

      9. No mais, obrigada pelo carinho. E não se esqueçam de elogiar com moderação.

*Roteirista e escritora.

Folha de São Paulo. Ilustrada, 11 jun. 2019, p.C7. Adaptado.

Preencha corretamente as lacunas do texto.


A(O) _______________ ocorre quando um determinado gênero toma emprestadas características que não são, por convenção, suas. Isso acontece em virtude do propósito comunicacional e está exemplificado em: "No mais, obrigada pelo carinho. E não se esqueçam de elogiar com moderação." (§ 9). Assim, relendo o texto na íntegra, considerando a sua estrutura e esse último parágrafo, observa-se, de maneira clara, a _______________ de dois diferentes gêneros: o gênero crônica e o gênero _______________.


A sequência que preenche corretamente as lacunas do texto é

Alternativas

Comentários

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Gabarito: D

➥ PRIMEIRA LACUNA: INTERGENERICIDADE ocorre quando um determinado gênero toma emprestadas características que não são, por convenção, suas.

De fato, a intergenericidade ocorre quando um determinado gênero apresenta uma forma mista. Um exemplo disso são aqueles convites de casamento disfarçados de outros gêneros, como bula de remédio ou artigo científico.

➥ SEGUNDA LACUNA: Assim, relendo o texto na íntegra, considerando a sua estrutura e esse último parágrafo, observa-se, de maneira clara, a FUSÃO de dois diferentes gêneros...

De fato, há uma junção de dois gêneros distintos. Logo, nesta lacuna caberiam as seguintes palavras: fusão, mescla, mistura, reunião, união.

➥ TERCEIRA LACUNA:  ... a fusão de dois diferentes gêneros: o gênero crônica e o gênero CARTA PESSOAL.

O texto em questão tem traços de uma crônica, pois debate acerca de um assunto atual e socialmente relevante. Além disso, a autora tece críticas a comportamentos comuns às pessoas em geral. No trecho "Não se deixe levar por fake news", temos o imperativo negativo do verbo deixar. Na língua portuguesa, o uso de verbos no imperativo corresponde a um diálogo entre o escritor e o leitor, com uma ideia de ordem, pedido. O imperativo é empregado em situações informais de uso, como em cartas pessoais.

➥ FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

D - intergenericidade / fusão / carta pessoal.

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