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Q860769 Português

                                  DISCRETA PRIMAVERA

                                                                             Fernanda Torres


      As petições pululam na tela do computador. Assino, assino todas elas. Peço a demarcação das terras indígenas, a liberação do aborto e a descriminalização das drogas. Grito contra o trabalho escravo, o preconceito racial e de gênero; tento melar o emprego indiscriminado de agrotóxicos, frear o degelo das calotas polares, o desmatamento e a destruição dos corais da Amazônia. Clamo pelo fim da guerra na Síria, da corrupção e do foro privilegiado; exijo a reforma política; voto pela proteção dos micos-leões e falho com os ursos-polares.

      E, em meio ao acúmulo de urgências, ao imenso ruído do planeta, vacilo entre a paralisia e a ação. Entre o engajamento e a reflexão no silêncio. Entre ser e não ser.

      Quem É Primavera das Neves?, documentário de Jorge Furtado e Ana Luiza Azevedo, toca em cheio na histeria do agora, sem falar diretamente dela.

      Primavera Ácrata Saiz das Neves é uma mulher que enfrentou o açoite e os insultos do mundo, a afronta do opressor, o desdém do orgulhoso, as pontadas do amor humilhado, as delongas da lei, a prepotência do mando e o achincalhe do século XX.

      Filha de pai anarquista e mãe sufragista, fugidos das ditaduras de Franco e Salazar, ela cresceu no Catete do pós-guerra, estudou no Licée e dominou seis línguas. Casou-se com um tenente português e retornou para o Brasil em 1964, sozinha, com uma filha pequena. O marido permaneceu em Lisboa, condenado à prisão por ter participado da mal-sucedida Revolta da Beja.

      Em meio à insensatez e às injustiças de seu tempo, Primavera dedicou a vida à amizade, à maternidade, ao amor e à arte. Foi íntima e discreta, e nem por isso mesquinha, pequena ou indiferente.

      Traduziu Lewis Carroll, Vladimir Nabokov, Arthur C. Clarke e Emily Dickinson, Simenon e Julio Verne. Foi poeta, mãe, mulher, amiga e adoradora de Wagner; influenciou de forma profunda os que a conheceram, mas teve uma vida invisível. Morreu aos 47 anos.

      Teria permanecido anônima, não fosse a obstinação de arqueólogo de Furtado e Azevedo, que, intrigados com o nome da tradutora de Alice no País das Maravilhas, desencavaram sua preciosa história.

      Eulalie, a amiga saudosa, que sempre admirou a personalidade livre e contemporânea de Primavera, jamais percebeu nela a vontade de se promover — é o verbo que usa: promover.

      Hoje, estamos todos em promoção, gritando a esmo, como numa liquidação de Natal.

      O século XXI promove revoluções movidas a likes. Não diminuo a importância das petições que, reitero, assino convicta. Mas o milênio que se inicia também produziu uma perturbadora pornografia do ego, do exibicionismo das selfies; o bestialógico da multiplicação de blogueiros e a brutalidade travestida de diversão dos realities. Um confessionário a céu aberto, onde todos, e cada um, têm o quinhão de narcisismo preenchido pela publicação de seu diário de bordo.

      Primavera era em tudo o contrário. Apesar das perseguições que testemunhou e sofreu, da inteligência e sensibilidade que possuiu, nunca se impôs ao mundo, ou impôs o seu mundo aos demais.

     A ela, bastava ser — qualidade cada vez mais rara de ver, ter e encontrar.

         Fonte: http://vejario.abril.com.br/blog/fernanda-torres/discreta-primavera/

“Eulalie, a amiga saudosa, que sempre admirou a personalidade livre e contemporânea de Primavera (...)”. O termo entre vírgulas é um(a):
Alternativas

Comentários

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GABARITO LETRA E:

Aposto:

Quanto ao significado, aposto em geral é o termo responsável por trazer detalhes, explicar com maior clareza ou precisão, dar outras referências ao nome ao qual se refere, como nos exemplos “Machado de Assis, autor de A mão e a luva, é considerado o maior escritor brasileiro”, em que o termo sublinhado é um aposto porque é utilizado na oração com o objetivo de dar maiores esclarecimentos sobre a quem se refere o nome próprio. Semanticamente, o aposto funciona como uma etiqueta com detalhes.

Quanto à forma, de maneira geral, é comum que o aposto se apresente entre vírgulas e seguido do nome ao qual se refere.

Fonte: https://www.infoescola.com/portugues/aposto/

 

“Eulalie, a amiga saudosa, que sempre admirou..."

Aposto explicativo.

Existem 3 tipos de aposto:

Explicativo: Jonas, aluno aplicado, chegou.

Resumitivo: Marcelo, Ricardo, Rodrigo, todos saíram.

Enumerativo: Preciso de três itens: papel, canêta e lápis.

 

gabarito Letra E 

 

 

Tipos de aposto.

O aposto pode aparecer antes ou depois do termo ao qual se refere e fornece novas informações. Podem ser classificados em.

Aposto  Explicativo É usado para explicar ou esclarecer um termo da oração anterior. O aposto explicativo sempre vem isolado na frase, podendo aparecer entre sinais de pontuação como vírgulas, parênteses ou travessões  

I)exemplo:     

A) -Priscila, estudante muito dedicada, conseguiu notas altas nas provas.

B)“Eulalie, a amiga saudosa, que sempre admirou a personalidade livre e contemporânea de Primavera 

Amém a todas as questões de português que colocam direto a frase a ser examinada e não te fazem voltar à porcaria do texto para procurar uma única palavrinha informando tão somente a linha em que ela fica.

e) aposto. 

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