Assinale a alternativa INCORRETA quanto à pontuação:
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Ano: 2011
Banca:
CONSULPLAN
Órgão:
CREA-RJ
Provas:
CONSULPLAN - 2011 - CREA-RJ - Advogado
|
CONSULPLAN - 2011 - CREA-RJ - Analista de Sistemas |
Q2759482
Português
Texto associado
Os cabeças-sujas e seu mundinho
A pessoa que joga lixo na rua, na calçada ou na praia se revela portadora de uma disfunção mental e
social que a inabilita para o sucesso no atual estágio da civilização.
Que tipo de gente joga lixo na rua, pela janela do carro ou deixa a praia emporcalhada quando sai? Uma das respostas
corretas é: um tipo que está se tornando mais raro. Sim. A atual geração de adultos foi criança em um tempo em que jogar
papel de bala ou a caixa vazia de biscoitos pela janela do carro quase nunca provocava uma bronca paterna. Foi
adolescente quando amassar o maço vazio de cigarros e chutá-lo para longe não despertava na audiência nenhuma reação
especial, além de um “vai ser perna de pau assim na China”. Chegou à idade adulta dando como certo que aquelas
pessoas de macacão com a sigla do Serviço de Limpeza Urbana estampada nas costas precisam trabalhar e, por isso,
vamos contribuir sujando as ruas. Bem, isso mudou. O zeitgeist, o espírito do nosso tempo, pode não impedir, mas, pelo
menos, não impele mais ninguém com algum grau de conexão com o atual estágio civilizatório da humanidade a se livrar
de detritos em lugares públicos sem que isso tenha um peso, uma consequência. É feio. É um ato que contraria a ideia tão
prevalente da sustentabilidade do planeta e da preciosidade que são os mananciais de água limpa, as porções de terra não
contaminadas e as golfadas de ar puro.
E, no entanto, as pessoas ainda sujam, e muito as cidades impunemente.
Só no mês de janeiro, 3000 toneladas de lixo foram recolhidas das praias cariocas – guimbas de cigarro, palitos de
picolé, cocô de cachorro e restos de alimento. Empilhadas, essas evidências de vida pouco inteligente lotariam cinco
piscinas olímpicas. Resume o historiador Marco Antônio Villa: “Ao contrário de cidadãos dos países desenvolvidos, o
brasileiro só vê como responsabilidade sua a própria casa e não nutre nenhum senso de dever sobre os espaços que
compartilha com os outros – um claro sinal de atraso”.
O flagrante descaso com o bem público tem suas raízes fincadas na história, desde os tempos do Brasil colônia. No
período escravocrata, a aristocracia saía a passear sempre com as mãos livres, escoltada por serviçais que não só
carregavam seus pertences como limpavam a sujeira que ia atirando às calçadas. Não raro, o rei Dom João VI fazia suas
necessidades no meio da rua, hábito também cultivado pelo filho, Pedro I, e ainda hoje presente. Foi com a instauração da
República que o Estado assumiu, de forma sistemática, o protagonismo no recolhimento do lixo, mas isso não significou,
nem de longe, nenhuma mudança de mentalidade por parte dos brasileiros. Cuidar da sujeira continuou a ser algo visto
como aquilo que cabe a terceiros – jamais a si mesmo.
Existe uma relação direta entre o nível de educação de um povo e a maneira como ele lida com o seu lixo. Não por
acaso, o brasileiro está em situação pior que o cidadão do Primeiro Mundo quando se mede a montanha de lixo nas ruas
deixada por cada um deles.
Desde a Antiguidade, as grandes cidades do mundo, que já foram insalubres um dia, só conseguiram deixar essa
condição à custa de um intenso processo de urbanização, aliado à mobilização dos cidadãos e a severas punições em
forma de multa. “A concepção do bem público como algo valoroso nunca é espontânea, mas, sim, fruto de um forte
empenho por parte do Estado e das famílias”, diz o filósofo Roberto Romano.
(Veja 09/03/2011, pág. 72 / com adaptações)
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