Racismo? No Brasil? Quem foi que disse? Isso é coisa de amer...

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Q2403830 Sociologia

Racismo? No Brasil? Quem foi que disse? Isso é coisa de americano. Aqui não tem diferença porque todo mundo é brasileiro acima de tudo, graças a Deus. Preto aqui é bem tratado, tem o mesmo direito que a gente tem. Tanto é que, quando se esforça, ele sobe na vida como qualquer um. Conheço um que é médico; educadíssimo, culto, elegante e com umas feições tão finas… Nem parece preto. Por aí se vê que o barato é domesticar mesmo. E se a gente detém o olhar em determinados aspectos da chamada cultura brasileira, a gente saca que, em suas manifestações, mais ou menos conscientes, ela oculta, revelando as marcas da africanidade que a constituem. (Como é que pode?) Seguindo por aí, a gente também pode apontar pro lugar da mulher negra nesse processo de formação cultural, assim como pros diferentes modos de rejeição/integração de seu papel.


GONZALEZ, Lélia. Racismo e sexismo na cultura brasileira. In: GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afrolatino americano: Rio de Janeiro: Zahar, 2020, p. 75-93, com adaptações.


Com base na análise de Lélia Gonzalez quanto ao racismo e sexismo na cultura brasileira, assinale a alternativa que apresenta a crítica realizada pela autora.

Alternativas

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A alternativa correta é E.

Lélia Gonzalez foi pioneira no Brasil na discussão entre raça e gênero, desenvolvendo conceitos como a "neurose cultural brasileira", que denuncia o apagamento da contribuição do povo negro na constituição da cultura brasileira. Gonzalez analisa como a cultura brasileira muitas vezes nega ou invisibiliza a influência afrodescendente, ao mesmo tempo em que incorpora elementos dessa cultura de forma não reconhecida.

Agora, vamos analisar as alternativas incorretas:

A - Lélia Gonzalez discute o racismo e o sexismo na cultura brasileira, mas ela não está indo ao encontro das análises de Gilberto Freyre e Caio Prado Júnior. Na verdade, sua análise crítica difere bastante das visões destes autores, especialmente no que tange à questão racial.

B - A análise da autora sobre o racismo no Brasil não se limita a um cunho filosófico e não se concentra apenas nos fatores econômicos. Gonzalez aborda a questão de maneira mais ampla, incluindo aspectos culturais e psicológicos.

C - Embora Lélia Gonzalez utilize algumas abordagens da psicanálise, ela não desenvolve seu arcabouço crítico a partir da teoria positivista. Sua crítica é mais voltada para a análise cultural e social do racismo e sexismo.

D - Lélia Gonzalez foi realmente uma intelectual de destaque e desenvolveu conceitos como "pretuguês" e "Améfrica Ladina", mas esses conceitos não foram relevantes para a construção da perspectiva da democracia racial no Brasil. Na verdade, Gonzalez se coloca de maneira crítica à ideia de democracia racial.

Entender o trabalho de Lélia Gonzalez é essencial para compreender as nuances da estratificação e desigualdade social no Brasil, especialmente na intersecção entre raça e gênero. Ela expôs como a sociedade brasileira pode ocultar racismo e sexismo sob uma superfície de aparente harmonia racial, algo que é crucial para a análise crítica da realidade social brasileira.

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Gabarito E

GPT

A análise de Lélia Gonzalez quanto ao racismo e sexismo na cultura brasileira foca no reconhecimento das contribuições afro-brasileiras e na crítica à maneira como a sociedade brasileira muitas vezes oculta e minimiza essas contribuições, ao mesmo tempo em que perpetua práticas racistas e sexistas. Vamos analisar cada alternativa para identificar a crítica realizada pela autora.

Análise das Alternativas:

A)

  • Correção: Embora Gilberto Freyre e Caio Prado Júnior sejam importantes intelectuais brasileiros que discutiram questões raciais, as análises de Lélia Gonzalez frequentemente divergem das suas. Freyre, por exemplo, é conhecido por sua visão mais conciliatória da relação racial no Brasil, que Gonzalez critica por mascarar as desigualdades raciais reais.

B)

  • Correção: A crítica de Gonzalez é mais focada nas dimensões culturais e psicanalíticas do racismo, bem como no sexismo, do que exclusivamente nos fatores econômicos. Ela aborda como a cultura brasileira esconde o racismo e o sexismo sob uma fachada de igualdade racial.

C)

  • Correção: Embora Gonzalez utilize conceitos da psicanálise, ela não é conhecida por desenvolver uma análise a partir da teoria positivista. Sua crítica é mais cultural e sociológica, e menos ligada ao positivismo.

D)

  • Correção: Gonzalez, de fato, cunhou os termos “pretuguês” e “Améfrica Ladina” para destacar a influência africana na cultura latino-americana, mas ela criticava a ideia de democracia racial no Brasil, que considera ilusória.

E)

  • Correção: Esta alternativa está correta. Lélia Gonzalez foi pioneira ao discutir a interseção entre raça e gênero, e ao desenvolver conceitos como "neurose cultural brasileira" para descrever a maneira como a sociedade brasileira tenta negar e esconder as contribuições afro-brasileiras, ao mesmo tempo em que perpetua o racismo e o sexismo.

 

1. Neurose Cultural Brasileira:

Definição:

  • A "neurose cultural brasileira" é um conceito que Lélia Gonzalez utiliza para descrever o comportamento contraditório e ambivalente da sociedade brasileira em relação à sua herança africana. Gonzalez argumenta que a cultura brasileira sofre de uma espécie de "neurose" ao negar e ocultar a influência afro-brasileira, enquanto simultaneamente a incorpora de forma distorcida.

Características:

  • Negação da Africanidade: A sociedade brasileira muitas vezes nega ou minimiza a contribuição africana para a sua cultura, relegando-a a uma posição inferior ou exótica.
  • Apropriação Distorcida: Elementos da cultura africana são apropriados, mas frequentemente desprovidos de seu significado original e recontextualizados de maneira a perpetuar estereótipos negativos.
  • Contradição Cultural: Esta neurose resulta em uma contradição onde o Brasil se vê como uma democracia racial, apesar das evidências de discriminação racial e exclusão social.

(continua)

 

Gab. E

Até porque se a gramática jurídica ainda é informada pela democracia racial, não custa recordar que a sua estrutura produz violências engendradas pelo racismo e sexismo, recaindo especialmente sobre as mulheres negras os impactos materiais e simbólicos da “neurose cultural brasileira” (GONZALEZ, 2018: 200).

Fonte: Cultura jurídica e diáspora negra: diálogos entre Direito e Relações Raciais e a Teoria Crítica da Raça.

https://doi.org/10.1590/2179-8966/2021/59627

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