De acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, quanto à...
Texto II para responder à questão.
O mundo e os refugiados
[...] Na discussão dos extremos no século 21 cabe um paralelismo com os do século 20. Lembro, assim, a análise de Hannah Arendt a respeito daqueles que na Europa pós-1ª Guerra Mundial se viram, por obra dos totalitarismos, expulsos da trindade Estado-povo-território, tornaram-se indesejáveis não documentados em quase todos os lugares e tidos como descartáveis – ponto de partida dos campos de refugiados, facilitadores dos campos de concentração.
Foi a reação diplomática a essas catástrofes que levou à “ideia a realizar”, que está na origem da ONU, de institucionalizar uma comunidade internacional atenta aos direitos fundamentais e à dignidade do ser humano. Partiu-se conceitualmente do pressuposto kantiano de um direito à hospitalidade universal, lastreado na hipótese de que a violação do direito num ponto da Terra seria efetivamente sentida em todos os demais. É esta, a “ideia a realizar” de uma comunidade internacional tuteladora do direito à hospitalidade universal, que está hoje em questão de maneira dramática.
Na perspectiva do efeito destrutivo atual dos extremos, cabe sublinhar a trágica precariedade que assola a vida de pessoas nas regiões do que pode ser qualificado de o arco da crise. No Oriente Médio e em partes da África há Estados falidos (como o Iraque e a Líbia), Estados em estado pré-falimentar, conflitos e guerras civis que se prolongam com intervenções extrarregionais, como a que desagrega a Síria, a precariedade e artificialidade de fronteiras interestatais, que instigam conflitos étnicos e religiosos. Tudo isso, em conjunto, vem catalisando a existência dessa enorme população de excluídos do mundo comum, refugiados que fogem do arco da crise, sem encontrar destino e acolhida.
O número de pessoas que buscam asilo, estão internamente deslocadas nos seus países ou são refugiadas por obra de guerras e perseguições, se elevou de 59.6 milhões em 2014 para 65.3 milhões de pessoas no final de 2015. Isso significa que uma em cada 113 pessoas da população mundial está fora do mundo comum e não tem acesso ao direito à hospitalidade universal. Cerca de 51% de refugiados do mundo são crianças, muitas separadas dos pais e viajando sozinhas à procura de destino. A situação da Síria, a do Sudão do Sul, a do Iêmen, do Burundi, da República Centro- -Africana são forças alimentadoras desse fluxo de pessoas de países de baixa renda que enfrentam essa dura realidade.
O limbo em que se encontram os excluídos do mundo comum, mais tenebroso que os círculos do inferno de Dante, é, na perspectiva de uma razão abrangente da humanidade, a mais grave tensão difusa que permeia a vida internacional.
(Celso Lafer, 17 Julho 2016. Disponível em: http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,o-mundo-e-os-refugiados,10000063317. Acesso em: janeiro de 2017. Adaptado.)
De acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, quanto às estruturas linguísticas do período “O número de pessoas que buscam asilo, estão internamente deslocadas nos seus países ou são refugiadas por obra de guerras e perseguições, se elevou de 59.6 milhões em 2014 para 65.3 milhões de pessoas no final de 2015.” (4º§), analise as afirmativas a seguir.
I. A forma do reflexivo “se” foi empregada para exprimir a reciprocidade da ação, indicando que tal ação é mútua entre mais de dois indivíduos.
II. A expressão “estão deslocadas” é uma referência ao termo “número” cujo sentido coletivo permite que a concordância seja estabelecida no plural.
III. Ao verbo “buscar”, no trecho destacado, faculta-se a variação quanto ao número – singular ou plural – de acordo com a concordância estabelecida.
Está(ão) correta(s) apenas a(s) afirmativa(s)
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acho que o erro do item II está em dizer que a expressão “estão deslocadas” é uma referência ao termo “número”...
Penso que a referência é com o termo "pessoas" ; que ai sim tem sentido coletivo; permitindo que a concordância seja estabelecida no plural.
Item I: "Se elevou" -> Indice de indeterminação do sujeito, pois o verbo é intransitivo.
Item II: "Estão deslocadas" faz referência ao termo "pessoas"
Item III: O verbo "buscar" é facultativo pois pode concordar com o termo "número" e "pessoas". Ex. "O número de pessoas que busca" ou "O número de pessoas que buscam".
Gabarito B
ANÁLISE DA FRASE
O número de pessoas (1) que buscam asilo, (2) [que] estão internamente deslocadas nos seus países ou (3) [que] são refugiadas por obra de guerras e perseguições, se elevou de 59.6 milhões em 2014 para 65.3 milhões de pessoas no final de 2015.
Em azul a oração principal.
Em vermelho três subordinadas adjetivas, com a peculiaridade de que, na segunda e na terceira, o pronome relativo que está implícito no paralelismo sintático.
ALTERNATIVA I CORRETA.
O número de pessoas se elevou (elevou a si mesmo).
ALTERNATIVA II INCORRETA.
Os três pronomes relativos retomam pessoas (as quais pessoas).
ALTERNATIVA III INCORRETA.
Não é possível a variação quanto ao número no caso, conforme Pasdquale Cipro Neto (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1809200305.htm):
É preciso tomar cuidado particular quando faz parte do sujeito a palavra "número" ("o número de pessoas", "o número de inscritos" etc.). Não parece possível aplicar aí o mesmo raciocínio exposto anteriormente, já que o termo "número" não indica idéia de grupo, conjunto etc. Nesses casos, o verbo concorda com a própria palavra "número", ou seja, fica no singular: "O número de participantes caiu"; "Neste ano, o número de crimes dobrou".
A situação mais delicada não é nenhuma das vistas até agora. Pense neste caso: "O número de jogadores brasileiros que se transferem para a Europa não pára de aumentar". Por que um verbo no plural ("transferem") e outro no singular ("pára")? Porque "transferem" se refere a "jogadores", enquanto "pára" se refere a "número" (os jogadores se transferem; o número não pára de aumentar).
CONSIDERAÇÃO FINAL
Espera-se que a banca altere o gabarito para a letra A.
Esse "se" é pronome apassivador, não?
Se elevou = elevou-se = foi elevado.
O verbo "elevar" é VTD.
Não?
Segue abaixo a resposta da banca aos recursos:
Recurso Improcedente. Ratifica-se a opção divulgada no gabarito preliminar.
A alternativa “D) II e III. ” não pode ser considerada correta. A afirmativa “II. A expressão “estão deslocadas” é uma referência ao termo “número” cujo sentido coletivo permite que a concordância seja estabelecida no plural. ”não está correta, pois uma forma verbal no plural não pode ser referente a um termo isolado no singular.
A alternativa “B) III. ”foi indicada como correta, pois, a afirmativa “III. Ao verbo “buscar”, no trecho destacado, faculta-se a variação quanto ao número – singular ou plural – de acordo com a concordância estabelecida. ” tem como justificativa: Se o sujeito da oração é o pronome relativo “que”, o verbo concorda com o antecedente. Quando o sujeito é uma expressão partitiva e um substantivo ou pronome plural, o verbo pode ir para o singular ou para o plural. O conteúdo utilizado para elaboração da questão foi o item “concordância verbal e nominal” além de “emprego das classes de palavras”.
Fonte:
Bechara, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa.
CUNHA, Celso. & CINTRA, Lindley. Nova Gramática do português contemporâneo. 6ª ed. Lexikon.
Acho que a banca se equivocou e depois se recusou a admitir o erro.
O colega Júlio Júnior, que comentou abaixo, trouxe uma explicação muito boa (muito melhor - e mais correta - que a da banca) para a afirmativa III:
Não é possível a variação quanto ao número no caso, conforme Pasdquale Cipro Neto (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1809200305.htm):
É preciso tomar cuidado particular quando faz parte do sujeito a palavra "número" ("o número de pessoas", "o número de inscritos" etc.). Não parece possível aplicar aí o mesmo raciocínio exposto anteriormente, já que o termo "número" não indica idéia de grupo, conjunto etc. Nesses casos, o verbo concorda com a própria palavra "número", ou seja, fica no singular: "O número de participantes caiu"; "Neste ano, o número de crimes dobrou".
A situação mais delicada não é nenhuma das vistas até agora. Pense neste caso: "O número de jogadores brasileiros que se transferem para a Europa não pára de aumentar". Por que um verbo no plural ("transferem") e outro no singular ("pára")? Porque "transferem" se refere a "jogadores", enquanto "pára" se refere a "número" (os jogadores se transferem; o número não pára de aumentar).
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