“Não fossem aqueles passeios, jamais saberíamos, por exempl...
Fora Uber! E leve o Facebook junto.
Pode parecer conversa de tiozão, mas essa geração do polegar está cada dia
mais desconectada da realidade. Não sei o que vai ser do mundo
se essa modinha de internet pegar.
Vou confessar uma coisa: acho uma grande sacanagem essa história de Uber. Não vou entrar no mérito sobre legalidade, ilegalidade, pirataria e regulamentação. Mas não me parece certo esse caminho, aparentemente sem volta, para uma vida facilitada pela internet e seus aplicativos.
O Uber é um desses. Ele tira do cliente a experiência de caminhar até o ponto e negociar a corrida. Tira também o prazer de jogar roleta‐russa enquanto levantamos as mãos no fio da calçada e experimentamos as delícias do acaso: ao volante pode estar alguém que nos ensine as propriedades do chá de carqueja ou alguém que relate em detalhes as frieiras no pé esquerdo. Pode estar também alguém com o atalho para tudo, inclusive para exterminar a bandidagem, a corrupção, o tédio dos domingos e a própria frieira. Um amigo jura ter encontrado, certa feita, um taxista com uma tese bastante bem fundamentada sobre a mobilidade urbana: que São Paulo só teria jeito quando a Teodoro começasse a descer e a Cardeal, a subir.
Nada contra o Uber. Tenho até amigos que são usuários. O que não gosto é dessa ideia de adaptar a vida a partir das inovações tecnológicas. Elas são o problema.
Já não gostei quando começaram a oferecer o serviço em automóveis. Gostava mesmo era dos cavalos. Naquele tempo, sim, as coisas funcionavam: os taxistas criavam os equinos nos estábulos perto de casa. Podíamos acompanhar o desenvolvimento dos animais: a alimentação, o tratamento dos dentes, o ajuste da sela, a aplicação dos xampus para a crina. Não esses xampus comprados em qualquer farmácia, mas feitos em casa com babosa e amor.
Quando os bichos estavam prontos, aí sim podíamos assobiar a eles, sentar na sela de trás e observar a frugalidade da paisagem enquanto o cavaleiro‐taxista nos falava sobre as sacanagens da monarquia testemunhadas por outros clientes. Não fossem aqueles passeios, jamais saberíamos, por exemplo, que o filho de Dom Pedro I era o verdadeiro dono da Friboi.
Mas eu confesso também: gostava do tempo do imperador e até hoje não me conformo com esse aplicativo chamado República. Naquele tempo não recebíamos convites, o tempo todo, para nos mobilizar em campanhas e petições pela causa A ou B. Nem textões de Facebook de pessoas jogando em nossa cara o desconforto com nossos privilégios.
Ninguém precisava dizer “sou contra”, “sou a favor, mas veja bem”, sobretudo mulheres. Elas cuidavam de nossos filhos e nós trazíamos o javali ao fim do dia. E ninguém reclamava. Hoje querem até ser presidente.
Maldita inclusão digital.
Antes, o que o soberano decidia estava decidido. Não tinha essa necessidade boba de participar e dar pitaco sobre tudo. Sobrava‐nos o resto do dia para escrever cartas, perfumar o papel, beijar a assinatura, colar o envelope, escolher a melhor roupa, o melhor chapéu, fazer a barba, chamar o táxi, montar no cavalo, viajar por dias até o posto dos Correios na capital, pagar o serviço com dinheiro, ser assaltado sem precisar lembrar a senha, voltar para casa e esperar a resposta do destinatário.
Hoje em dia com um clique matamos todo esse procedimento. Podemos enviar mensagens sem precisar nos vestir – muitas vezes puxamos conversa sobretudo por NÃO estar com roupa alguma.
Pense no tanto de trabalho eliminado desde que inventaram o botão “compartilhar”. Perderam o posto o lenhador, o sujeito que transformava madeira em papel, o fabricante de tinta, de caneta tinteira e da cola, o entregador de papel, o criador de cavalo, o cavaleiro...tudo com um clique.
O resultado? O resultado é essa geração blasé que, em pleno almoço de família, pega o smartphone e mergulha num mundo paralelo de cristal líquido sem dar a mínima para os questionamentos educativos de pais, avós e tios sobre “e o vestibular?”, “tá estudando?”, “já tá rico?”, “e a namorada?”, “tá usando camisinha?”, “que brinquinho é esse?”, “seu amigo é meio esquisito, não?”, “e esse decote?”. Sem contar as conversar construtivas sobre as aleivosias da vida íntima da cunhada. Que não está à mesa.
Pode parecer conversa de tiozão, mas essa geração do polegar está cada dia mais desconectada da realidade. Não sei o que vai ser do mundo se essa modinha de internet pegar.
(Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/cultura/fora‐uber‐e‐leve‐o‐facebook‐junto‐6001.html. Acesso em: 16/09/2015.)
Gabarito comentado
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Gabarito: Alternativa A
Vamos analisar a questão em detalhes e entender por que a alternativa correta é a letra A. Esta questão avalia seu conhecimento sobre a classificação das palavras na morfologia da língua portuguesa.
Os termos sublinhados na frase são: aqueles, jamais e que. Vejamos suas classificações:
1. Aqueles - Pronome: Este é um pronome demonstrativo, usado para indicar algo que está distante da pessoa que fala e/ou da pessoa com quem se fala.
2. Jamais - Advérbio: Este é um advérbio de negação, indicando algo que nunca acontecerá.
3. Que - Pronome: Aqui, "que" atua como um pronome relativo, conectando a oração subordinada à oração principal.
Agora, analisaremos as alternativas incorretas para entender por que elas não são a resposta correta:
B - Pronome, preposição, pronome: Esta alternativa está incorreta porque "jamais" não é uma preposição, mas sim um advérbio de negação.
C - Preposição, advérbio, preposição: Esta alternativa está equivocada porque "aqueles" é um pronome demonstrativo, e não uma preposição.
D - Pronome, conjunção, preposição: Esta alternativa também está errada porque "jamais" não é uma conjunção, mas um advérbio de negação.
Assim, com base na análise acima, podemos concluir que a alternativa correta é a letra A, que classifica os termos corretamente como pronome, advérbio e pronome, respectivamente.
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Comentários
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GABARITO: LETRA A
? ?Não fossem aqueles passeios, jamais saberíamos, por exemplo, que o filho de Dom Pedro I era o verdadeiro dono da Friboi.?
? aqueles (pronome demonstrativo); jamais (advérbio de tempo); o "que" foi classificado incorretamente pela banca (ele é uma CONJUNÇÃO INTEGRANTE; equivale a "isso"; saberíamos algo; dá início a uma oração subordinada substantiva objetiva direta).
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? FORÇA, GUERREIROS(AS)!!
essa questão na minha humilde concepção está errada, pois esse QUE é uma conjunção integrante e não um pronome relativo.
Questão passível de anulação.
sinceramente, por isso que essas bancas não chegam nem perto da Cespe, seria demais pedir uma gramática alinhada ao texto....
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