A definição de língua como código, segundo a linguista, é re...
Leia o texto a seguir para responder à questão.
Que é língua?
Esta é uma questão que prefiro discutir partindo das noções de trabalho, de atividade. Assim, ao pensar a questão da linguagem e da língua, vejo a linguagem como uma atividade, como um trabalho. Um trabalho de homens, ou seja, de sujeitos que são histórica, social e culturalmente situados e que, através desse trabalho, dessa atividade, organizam, interpretam e dão forma a suas experiências e à realidade em que vivem. Começo, então, a refletir sobre a questão colocada a partir de uma definição de linguagem construída nesses termos, porque foi na relação com atividades de uma linguagem assim concebida – que se manifesta sempre em situações sociais de interlocução – que, por hipótese, se constituíram as chamadas línguas naturais, cada uma com suas características estruturais próprias, manifestas nos seus vários níveis de organização (fonológico, morfológico, sintático, semântico). Quero com isso dizer que é a linguagem, portanto, o lugar natural para se iniciarem os estudos sobre qualquer aspecto das línguas naturais, ainda que o recorte que se venha a fazer incida apenas sobre algum aspecto estrutural desses sistemas linguísticos. O fato de esses estudos se terem voltado – particularmente no momento em que a linguística, durante o movimento estruturalista, buscava se constituir como ciência – quase que exclusivamente para aquilo que parecia mais estruturado – o sistema linguístico – fez com que se desse ênfase a uma definição de língua como código, o que hoje se passou a questionar, por ser uma definição excessivamente redutora. Vejo a língua, portanto, como um sistema estruturado que, por situar-se no âmbito da linguagem, apresenta constante instabilidade e mutabilidade, características de quaisquer atividades do homem, tomado enquanto sujeito historicamente situado.
(Entrevista de Bernadete Abaurre na obra Conversas com lingüistas: virtudes e controvérsias da
lingüística, organizada por Antonio Carlos Xavier e Suzana Cortez, 2005).