A alteridade, na perspectiva da autora, refere-se à relação ...
Leia o texto a seguir para responder à questão.
“Por sua vez, o processo de democratização da leitura da literatura acontece quando o leitor dá expressão àquilo que se ofereceu à sua compreensão, porque qualquer discurso, como adverte Bakhtin (BAKHTIN/VOLOSHINOV, 1979), requer necessariamente a alteridade para se evidenciar. A alteridade é o texto, o gesto, a imagem, o som ou o movimento que se apresentar à sua inteligência; mas é igualmente o outro sujeito a quem ele manifesta seu entendimento. O dialogismo funda o ato de ler, supondo uma alteridade que se corporifica, de uma parte, no ser colocado à interpretação, de outra, no(s) outro(s) sujeito(s) a que expõe sua fala.
A alteridade tem fundamento social e coletivo, mostrando-se, também ela, dialética e contraditória. A leitura, intermediária entre sujeitos outros, não é apaziguadora, fortalecendo, pelo contrário, as possibilidades de divergência e debate. Logo, não se conforma com o cânone, autoritário e monológico, que circula graças a instituições que, como ele, calcam-se no arbítrio de detentores do poder. Assim, se almejar a adoção de uma posição democrática, popular e bem sucedida na sala de aula, a leitura da literatura, tomada na amplitude do conceito tradicional, ou considerada desde os distintos objetos que se apresentam à decifração do leitor, não pode se ater à transmissão do cânone enquanto um monumento resistente às intervenções dos seres que fazem funcionar a engrenagem da cultura e, por extensão, daquilo que genérica e insuficientemente é chamado de literatura.
Em sala de aula, esse posicionamento é o ponto de partida da atuação do professor, que,
enquanto docente, promoverá o cotejo entre o patrimônio de cada leitor com o patrimônio social,
histórico, político do grupo ou do público com o qual interage, considerando que a obra literária é
igualmente esse outro sujeito em que o jogo entre o individual – a criação e a inovação – e o coletivo,
traduzido pelos códigos estéticos, ideológicos, tradicionais e canônicos, expõe-se a cada momento em
que se dá o contato com ela.” (ZILBERMAN, R. Leitura na escola – entre a democratização e o cânone.
Revista Literatura em Debate, vol. 11, n. 21, 2017.).