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Q3105294 História
    Ao estudioso das relações internacionais o principal foco está na interpretação do sentido e das implicações decorrentes dos fatos visíveis em dados ou em imagens transmitidas pelos noticiários. Pode-se pensar na questão como uma espécie de jogo de Lego: os acontecimentos, os fatos, os dados contidos em relatórios seriam como peças postas em uma caixa, mas a capacidade de reunir essas peças para formar figuras vai depender de recursos teóricos que permitam interpretar o significado e as conexões possíveis das peças.

Raphael Spode e, Gabriel G. Xavier. Abordagens clássicas das relações internacionais. São Paulo: Conceito Editorial, 2012, p. 23 (com adaptações).

Tendo o texto precedente como referência inicial, julgue (C ou E) o item a seguir, referentes ao período entre as duas guerras mundiais, à Segunda Guerra Mundial e a declarações da Organização das Nações Unidas (ONU).

Segundo o economista John Maynard Keynes, após a Primeira Guerra Mundial, sem a restauração da economia alemã, era impossível a recomposição de uma civilização e economia liberais estáveis na Europa, pensamento que influenciou os franceses a tolerar uma política de realização alemã após 1924, o que, mesmo assim e devido à longa relutância francesa, terminou por enfraquecer a economia na Alemanha.  
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Considero essa questão bem complexa. No entanto, ao marcar o gabarito como ERRADO, acredito que a banca tenha levado em consideração alguns aspectos: Primeiro, em As Consequências Econômicas da Paz (1919), Keynes criticou o Tratado de Versalhes, alertando que as reparações excessivas poderiam gerar instabilidade na Europa. Porém, embora tenha defendido a recuperação econômica alemã como essencial, seu foco não era a construção de uma "civilização liberal", mas sim evitar o colapso econômico europeu. Além disso, a política de realização alemã, após 1924, não foi fruto de tolerância francesa, mas de negociações como o Plano Dawes, liderado pelos EUA, que buscou aliviar a pressão sobre a Alemanha. Por fim, o enfraquecimento econômico alemão decorreu principalmente da hiperinflação e da crise interna, não apenas da postura francesa.


Gabarito - ERRADO


Indicação Bibliográfica:


Colombo, Arthur Osvaldo, and Diego Gonçalves Favorato. "JOHN MAYNARD KEYNES E ÉTIENNE MANTOUX: Deduções Divergentes sobre o Tratado de Versalhes." Revista de Economia da UEG (ISSN 1809-970X) 16.2 (2020): 87-107.

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Comentários

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keynes alertou sobre a hiperinflação na obra "As consequências econômicas da paz", e defendia uma interferência mais liberal

A questão está errada porque apresenta uma distorção do contexto histórico relacionado à política de reparações e à visão de John Maynard Keynes.

1. John Maynard Keynes e a Primeira Guerra Mundial: No livro As Consequências Econômicas da Paz (1919), Keynes criticou os termos do Tratado de Versalhes, argumentando que as reparações impostas à Alemanha eram economicamente inviáveis e poderiam levar à instabilidade na Europa. Ele defendia que uma Alemanha economicamente saudável era essencial para a reconstrução da Europa, mas não associou diretamente essa visão ao "liberalismo econômico" ou "civilização liberais estáveis" como foco central. Seu argumento era mais amplo, voltado à recuperação econômica europeia e aos efeitos das reparações excessivas.

2. Política de realização alemã após 1924: A "política de realização" (ou policy of fulfilment) refere-se aos esforços alemães para cumprir parcialmente os termos do Tratado de Versalhes, a fim de renegociá-los no futuro. Contudo, ela não foi uma política diretamente tolerada pelos franceses, mas sim uma resposta alemã. O que marcou 1924 foi o Plano Dawes, proposto pelos Estados Unidos, que reestruturou as reparações para aliviar a pressão econômica sobre a Alemanha, buscando a estabilização do continente.

3. Relutância francesa e economia alemã: A França, até 1924, manteve uma postura rígida em relação às reparações e ocupou o Ruhr em 1923 para forçar pagamentos. O enfraquecimento da economia alemã até 1924 deveu-se mais à hiperinflação alemã e às pressões das reparações, e não exclusivamente à relutância francesa. Após o Plano Dawes, a França passou a adotar uma abordagem mais pragmática em busca de cooperação, mas não necessariamente "tolerante" ou diretamente ligada ao pensamento de Keynes.

Portanto, a questão erra ao:

Conectar Keynes diretamente a uma "civilização liberal" como argumento central.

Apresentar uma visão distorcida da política francesa como tolerante após 1924.

Atribuir o enfraquecimento econômico alemão exclusivamente à relutância francesa.

Item retirado de Era dos Extremos. Não há erro na primeira parte do item. Conforme Hobsbawm, "sem uma restauração da economia alemã, argumentava [Keynes], seria impossível a restauração de uma civilização e economia liberais estáveis na Europa". A parte relativa aos franceses também está correta: "A política francesa de manter a Alemanha fraca para sua “segurança” era contraprodutiva. Na verdade, os franceses estavam fracos demais para impor sua política, mesmo quando ocuparam por breve período o coração industrial da Alemanha ocidental em 1923, com a desculpa de que os alemães se recusavam a pagar. Acabaram tendo de tolerar uma política de “realização” alemã após 1924, que fortaleceu a economia alemã." O único erro do item, portanto, está na parte final ("terminou por enfraquecer a economia na Alemanha").

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