I. Às vezes, um estratagema bem simples, como o utilizado po...
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Ano: 2010
Banca:
FCC
Órgão:
TJ-PI
Prova:
FCC - 2010 - TJ-PI - Analista Judiciário - Assistência Social |
Q55805
Português
Texto associado
"Tratamos de Obama a Osama nos hospitais e
postos de saúde da organização não governamental
Emergency. Não sou terrorista." O desabafo acaba de ser
pronunciado por um médico especializado em cirurgias
traumáticas emergenciais. Gino Stada trabalha nos cenários
de guerra e de insurgências em nome da Emergency,
que fundou com a esposa, Teresa Sarti, em 1994. Nas
zonas de conflito, Stada e sua organização declaram-se
neutros. A preocupação centra-se nas vítimas das violências
bélicas. Em outras palavras, a Emergency, com um
corpo composto de mais de mil profissionais, faz, sem
indagar sobre ideologias e partidarismos, cirurgias de
urgência e reabilita lesionados com próteses e terapias.
Humanista de 61 anos nascido em Milão, Stada
instalou e administra postos de saúde e hospitais no
Afeganistão, Serra Leoa, Camboja, Sri Lanka, República
Centro-Africana e Iraque. No mês de abril, uma "arapuca",
a caracterizar terrorismo de Estado, foi montada a fim de
desmoralizar o médico, que estava em Veneza. A meta
era provocar um escândalo internacional, de modo a levar
o governo afegão a cassar as licenças para funcionamento
da Emergency. Com efeito, agentes do serviço de
inteligência do Afeganistão prepararam uma falsa situação
de flagrante e prenderam nove funcionários da
Emergency. Dentre eles, o cirurgião Marco Garatti e os
paramédicos Matteo Pagani e Matteo Dell'Aira.
O flagrante preparado consistiu numa blitz em sala
da administração do hospital de Lashkar Gah. Os 007
de Karzai fingiram-se surpresos com o encontro de
duas pistolas, nove granadas e dois cinturões costurados
com explosivos. Durante oito dias, os funcionários da
Emergency ficaram incomunicáveis. Enquanto isso, Karzai
falava que os serviços de inteligência tinham abortado um
plano dos terroristas talebans para matar o governador da
província de Helmand. Nesse plano figuravam como suspeitos
o cirurgião Marco Garatti e os demais presos.
Após as prisões, o coronel Tood Vician, porta-voz da
Otan, informou que soldados da força internacional não tinham
participado das prisões. Não sabia o coronel Vician
que, imediatamente, Stada, ladeado de jornalistas, acionou
o celular do cirurgião Marco Garatti. A ligação completou-
se com um soldado britânico a responder que não podia
informar nada sem autorização dos seus superiores
hierárquicos. Numa segunda chamada, limitou-se a dizer
que todos os nove presos estavam bem. Sequestrados em
10 de abril, os integrantes da Emergency foram colocados
em liberdade às 18 horas do domingo, dia 18, depois de
forte mobilização de organizações humanitárias internacionais
e do Estado italiano. Para Karzai, ficou provada a
inocência deles.
O móvel dessa urdidura remonta a março de 2007,
quando da libertação do correspondente de guerra do jornal
italiano La Repubblica, Daniele Mastrogiacomo, sequestrado
pelos talebans. Stada aceitou procurar os
talebans com a condição de o governo afegão e as forças
de ocupação se afastarem das tratativas. Teve sucesso
pela sua força moral e isso ainda não foi digerido por
Karzai, pela Otan, pela CIA ou pelos 007 da rainha da
Inglaterra.
(Adaptado de Wálter Maierovitch. "Um humanista e o terror de
Estado", CartaCapital, 30/04/2010.
http://www.cartacapital.com.br/app/coluna.jsp?a=2&a2=5&i=6585)
postos de saúde da organização não governamental
Emergency. Não sou terrorista." O desabafo acaba de ser
pronunciado por um médico especializado em cirurgias
traumáticas emergenciais. Gino Stada trabalha nos cenários
de guerra e de insurgências em nome da Emergency,
que fundou com a esposa, Teresa Sarti, em 1994. Nas
zonas de conflito, Stada e sua organização declaram-se
neutros. A preocupação centra-se nas vítimas das violências
bélicas. Em outras palavras, a Emergency, com um
corpo composto de mais de mil profissionais, faz, sem
indagar sobre ideologias e partidarismos, cirurgias de
urgência e reabilita lesionados com próteses e terapias.
Humanista de 61 anos nascido em Milão, Stada
instalou e administra postos de saúde e hospitais no
Afeganistão, Serra Leoa, Camboja, Sri Lanka, República
Centro-Africana e Iraque. No mês de abril, uma "arapuca",
a caracterizar terrorismo de Estado, foi montada a fim de
desmoralizar o médico, que estava em Veneza. A meta
era provocar um escândalo internacional, de modo a levar
o governo afegão a cassar as licenças para funcionamento
da Emergency. Com efeito, agentes do serviço de
inteligência do Afeganistão prepararam uma falsa situação
de flagrante e prenderam nove funcionários da
Emergency. Dentre eles, o cirurgião Marco Garatti e os
paramédicos Matteo Pagani e Matteo Dell'Aira.
O flagrante preparado consistiu numa blitz em sala
da administração do hospital de Lashkar Gah. Os 007
de Karzai fingiram-se surpresos com o encontro de
duas pistolas, nove granadas e dois cinturões costurados
com explosivos. Durante oito dias, os funcionários da
Emergency ficaram incomunicáveis. Enquanto isso, Karzai
falava que os serviços de inteligência tinham abortado um
plano dos terroristas talebans para matar o governador da
província de Helmand. Nesse plano figuravam como suspeitos
o cirurgião Marco Garatti e os demais presos.
Após as prisões, o coronel Tood Vician, porta-voz da
Otan, informou que soldados da força internacional não tinham
participado das prisões. Não sabia o coronel Vician
que, imediatamente, Stada, ladeado de jornalistas, acionou
o celular do cirurgião Marco Garatti. A ligação completou-
se com um soldado britânico a responder que não podia
informar nada sem autorização dos seus superiores
hierárquicos. Numa segunda chamada, limitou-se a dizer
que todos os nove presos estavam bem. Sequestrados em
10 de abril, os integrantes da Emergency foram colocados
em liberdade às 18 horas do domingo, dia 18, depois de
forte mobilização de organizações humanitárias internacionais
e do Estado italiano. Para Karzai, ficou provada a
inocência deles.
O móvel dessa urdidura remonta a março de 2007,
quando da libertação do correspondente de guerra do jornal
italiano La Repubblica, Daniele Mastrogiacomo, sequestrado
pelos talebans. Stada aceitou procurar os
talebans com a condição de o governo afegão e as forças
de ocupação se afastarem das tratativas. Teve sucesso
pela sua força moral e isso ainda não foi digerido por
Karzai, pela Otan, pela CIA ou pelos 007 da rainha da
Inglaterra.
(Adaptado de Wálter Maierovitch. "Um humanista e o terror de
Estado", CartaCapital, 30/04/2010.
http://www.cartacapital.com.br/app/coluna.jsp?a=2&a2=5&i=6585)
I. Às vezes, um estratagema bem simples, como o utilizado por Gino Stada, ao ligar para o celular de Marco Garatti diante dos jornalistas, é capaz de revelar a mentira das declarações oficiais, por mais enfáticas que pareçam.
II. Nos conflitos internacionais, quase sempre se releva os fins em detrimento dos meios, chegando-se mesmo a desconsiderar direito e garantias individuais, constante dos próprios acordos de que é signatário a maioria dos países do globo.
III. Organizações como a Emergency têm de enfrentar não apenas os enormes desafios da ajuda humanitária a que se propõem, como também a desconfiança e mesmo a perseguição por parte dos que as veem como aliadas de seus inimigos.
As regras de concordância verbal e nominal estão corretamente observadas em
II. Nos conflitos internacionais, quase sempre se releva os fins em detrimento dos meios, chegando-se mesmo a desconsiderar direito e garantias individuais, constante dos próprios acordos de que é signatário a maioria dos países do globo.
III. Organizações como a Emergency têm de enfrentar não apenas os enormes desafios da ajuda humanitária a que se propõem, como também a desconfiança e mesmo a perseguição por parte dos que as veem como aliadas de seus inimigos.
As regras de concordância verbal e nominal estão corretamente observadas em