Eu, na rua, com pressa, e o menino segurou meu braço, falou qualquer coisa que não entendi. Fui
logo dizendo que não tinha, certa de que ele estava pedindo dinheiro. Não estava. Queria saber a hora.
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Talvez não fosse um Menino de Família, mas também não era um Menino de Rua. É assim que a gente
divide. Menino De Família é aquele bem vestido com tênis da moda e camiseta de marca, que usa relógio
e a mãe dá outro se o dele for roubado por um Menino De Rua. Menino De Rua é aquele que quando a
gente passa perto segura a bolsa com força porque pensa que ele é pivete, trombadinha, ladrão. (...).
Na verdade, não existem Meninos De Rua. Existem meninos na rua. E toda vez que um menino
está NA rua é porque alguém o botou lá. Os meninos não vão sozinhos aos lugares. Assim como são postos
no mundo, durante muitos anos são postos onde quer que estejam. Resta ver quem os põe na rua. E por
quê.
COLASANTI, Marina. “Eu sei, mas não devia”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
O que desencadeia a reflexão do narrador – personagem no texto?