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                                        Alfabeto de emojis


      “Paradoxalmente” — escreverá um historiador em 2218 — “foi a disseminação da escrita como principal forma de comunicação o que criou as condições para a sua própria morte”. O alfabeto latino, este fantástico conjunto de 26 letras que, combinadas infinitamente, podem nomear realidades tão distintas quanto “sol”, “cunilingus”, “schadenfreud” e “Argamassa Cimentcola Quartzolite”, começou sua lenta caminhada em direção ao brejo em setembro de 1982.

      Foi ali, não muito depois da derrota do Brasil para a Itália de Paolo Rossi, que o cientista da computação Scott Fahlman sugeriu a colegas de Carnegie Mellon University, com os quais se comunicava online, usarem :-) para distinguirem as piadas dos assuntos sérios. Mal sabia o tal Scott que aquela inocente boca de parêntese era o protótipo da goela que viria a engolir quase 3.000 anos de alfabeto como se fosse uma sopa de letrinhas.

      Os emoticons se espalharam pelo mundo com o ICQ, os chats e, principalmente, os celulares, mas nem todos os seres humanos aderiram imediatamente à moda. [...]

      Emoticons foram o início do fim, mas só o início. O coaxar dos sapos no brejo começou a incomodar mesmo com a chegada dos emojis. Confesso que, de novo, demorei pra entrar na onda. Desta vez não por burrice, mas por senso do ridículo. Quando que um adulto como eu iria mandar pra outro adulto um “smile” bicudo soltando um coração pelo canto da boca, como se fosse uma bola de chiclete? Nunca! “Nunca”, no caso, revelou-se estar a apenas uns cinco anos de distância da minha indignação.

      Hoje eu mando coração pulsante pra contadora que me lembrou dos documentos do IR, mando John Travolta de roxo pro amigo que me pergunta se está confirmado o jantar na quinta e, se eu pagasse imposto sobre cada joia que envio daquele mãozão amarelo, não ia ter coração pulsante capaz de fazer minha contadora resolver a situação.

      “Em meados do século 21” — escreverá o historiador de 2218 — “a humanidade abandonou o alfabeto e passou a se comunicar só por emojis”. A frase, claro, será toda escrita com emojis. Haverá tantos, tão variados, que será possível citar Shakespeare usando apenas desenhinhos. (Shakespeare, aliás, dá pra escrever. Imagem de milk-shake + duas chaves (keys) + pera (pear). Shake + keys + pear).

      Teremos voltado ao tempo dos hieróglifos e não me assombra se as condições de vida regredirem às do antigo Egito, mas ninguém se importará, cada um de nós hipnotizado pela tela que tantos apregoaram ser uma nova pedra de Roseta, capaz de traduzir o mundo em nossas mãos, mas que no fim se revelou só um infernal e escravizante pergaminho. :-(

              (Antônio Prata. Folha de S. Paulo, 15 de abril de 2018. Adaptado.)

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Letra B - Errada: "O florescimento de uma nova linguagem declara uma possível evolução na comunicação estabelecida através dos tempos pela humanidade" --> Na verdade, o autor passa a impressão de regressão com a frase: "não me assombra se as condições de vida regredirem às do antigo Egito"

 

Letra C - Errada: "Não há possibilidade de que a comunicação por meio de símbolos ou imagens seja de alguma forma prejudicada considerando-se sua simplicidade e praticidade" --> Podemos analisar que nao é tão simples assim, observe a complexidade de palavras / simbolos por meio desta frase: "Haverá tantos, tão variados, que será possível citar Shakespeare usando apenas desenhinhos. (Shakespeare, aliás, dá pra escrever. Imagem de milk-shake + duas chaves (keys) + pera (pear). Shake + keys + pear)."

 

Letra D - Errada:  "O autor estabelece uma oposição acirrada contra todo e qualquer tipo de linguagem não verbal, usando para isso ataques a este tipo de linguagem por meio de sua argumentação" --> Ele apresentou certa resistencia inicialmetne, mas hoje, faz uso dos emojis conforme dito: "..Hoje eu mando coração pulsante pra contadora...."

 

Logo, GABARITO LETRA A: "As mudanças comportamentais em relação ao ato de comunicação, especialmente na escrita, têm produzido efeitos questionáveis" --> aqui dá para perceber os efeitos questionáveis: "mas ninguém se importará, cada um de nós hipnotizado pela tela que tantos apregoaram ser uma nova pedra de Roseta, capaz de traduzir o mundo em nossas mãos, mas que no fim se revelou só um infernal e escravizante pergaminho. :-("

GABARITO A

 

A mudança da linguagem escrita é a argumentação trazida pelo autor ao longo do texto. Ele traz questionamentos sobre a sibstituição da linguagem escrita por emojis, que, segundo ele, vai extinguindo o uso do alfabeto latino

 

Trata-se de uma mudança comportamental pelo fato das pessoas estarem utilizando emojis em substituição à linguagem escrita, fato este que não era aceito pelo autor do texto, que logo depois passou a entrar na onda e fazer uso dos emojis em sua comunicação escrita.

a)As mudanças comportamentais em relação ao ato de comunicação, especialmente na escrita, têm produzido efeitos questionáveis. GABARITO

 

Justificativa: diversos trechos no texto revelam o descontentamento do autor em relação aos efeitos das mudanças, especialmente em relação ao uso de em emojis. O último período do texto trás esse descontentamente de forma explícita:  "capaz de traduzir o mundo em nossas mãos, mas que no fim se revelou só um infernal e escravizante pergaminho."

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