Tal como ocorria na Europa à mesma época, a Belle Époque, cr...
nos trópicos, ela é inteiramente nova. Se nossas classes dominantes se
revelam infecundas, o mesmo não se passa com o povo, no seu
processo de autocriação. E é com essa vantagem de sermos mestiços,
que vamos chegar ao futuro.
Foi, aliás, em busca do futuro que passamos todo um século a
indagar quem somos, e o que queremos ser, e a projetar imagens de
nós mesmos, espelho contra espelho. A cada sístole e a cada diástole
desses cem anos corresponderam visões otimistas e pessimistas,
barrocas e contidas, esperançosas e desalentadas. Pois cada momento
- o da Belle Époque, o da Revolução de 30, o do Estado Novo, o da
redemocratização, o do dia seguinte ao suicídio de Getúlio Vargas, o
do desenvolvimentismo dos anos 50, o do regime militar e o da
segunda redemocratização - refez o retrato do Brasil. Mudou, ao
longo do tempo, a linguagem com que nos descrevemos. E mudou
também o país acerca do qual se dissertava. Lidos um após outro, os
nossos evangelistas soam dissonantes, mas, juntos, se corrigem ou
polifonicamente se completam.
Alberto da Costa e Silva. Quem fomos nós no século XX: as grandes interpretações do
Brasil. In: Carlos Guilherme Mota (org.). Viagem incompleta: a experiência brasileira
(1500-2000) - a grande transação. São Paulo: SENAC, 2000, p. 38, (com adaptações).
A partir da análise contida no texto apresentado e considerando
aspectos significativos da trajetória republicana brasileira, julgue os
itens que se seguem.
Gabarito comentado
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A alternativa correta é errado. Durante a Belle Époque brasileira, diferentemente do que ocorria na Europa, o Brasil não vivenciou uma desconcentração de renda significativa, nem uma ampliação expressiva nos níveis de participação da sociedade em termos políticos. Embora tenha sido um período de urbanização e de certa prosperidade, marcado pelo avanço da indústria do café e pela modernização das cidades, a sociedade brasileira continuou a apresentar uma estrutura bastante concentrada e excludente.
Ademais, apesar de alguns esforços de política externa para estreitar laços com países latino-americanos, a diplomacia brasileira da época enfatizava mais frequentemente as relações com as potências europeias e os Estados Unidos, seguindo uma lógica de busca por investimentos e reconhecimento internacional. Logo, a afirmação de que o Brasil vivenciou uma época semelhante à europeia, em termos de desconcentração de renda, participação política e alianças latino-americanas, não procede.
É importante notar que, ao longo de sua história, o país sofreu diversas mudanças em sua estrutura social, política e econômica, refletindo as complexidades e os desafios de um processo de formação nacional distinto do europeu, marcado pela mestiçagem e por movimentos sociais e políticos próprios.
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Comentários
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A Belle Époque foi um período de cultura cosmopolita na história da Europa que começou no final do século XIX (1871) e durou até a eclosão da Primeira Guerra Mundial em 1914.
Parei de ler em: ... promovendo inédita e relativamente expressiva desconcentração de renda...., etc.
É bom demais para ser verdade.
ERRADA
A prosperidade era limitada a uma elite urbana e não refletia o bem-estar geral da população, que ainda vivia em condições precárias, especialmente no campo.
A Belle Époque no Brasil foi marcada pela manutenção e até o aprofundamento das desigualdades sociais e econômicas. A maior parte da riqueza gerada pela exportação de café, o principal motor da economia brasileira, estava concentrada nas mãos de grandes fazendeiros (os "barões do café") e de uma elite urbana emergente.
Politicamente, o Brasil na Belle Époque ainda vivia sob a Primeira República, também chamada de "República Velha" (1889-1930), que era dominada por oligarquias regionais, especialmente as dos estados de São Paulo e Minas Gerais, que controlavam a política nacional através de um sistema de alianças e clientelismo. O sistema político era excludente e limitava a participação da maioria da população. O voto era censitário (restrito a homens alfabetizados), e as eleições eram frequentemente marcadas por fraudes e manipulações conhecidas como "política dos governadores" e "política do café com leite", que garantiam o controle das elites.
A política externa do Brasil estava mais voltada para a Europa e os Estados Unidos do que para a América Latina. O Brasil, sob a influência do Barão do Rio Branco (ministro das Relações Exteriores entre 1902 e 1912), buscou estreitar laços com países europeus e com os Estados Unidos, que estavam se consolidando como uma potência emergente.
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