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Não vivemos sem monstros

Os monstros fazem parte de todas as mitologias. Os havaianos acreditam em um homem com uma boca de tubarão nas costas. Os aborígines falam de uma criatura com corpo humano, cabeça de cobra e tentáculos de polvo. Entre os gregos, há relatos de gigantes canibais de um olho, do Minotauro, de uma serpente que usa cabeças de cachorros famintos como um cinto.
Não importam as diferenças de tamanho e forma. Os monstros têm uma característica em comum: eles comem pessoas. Expressam nossos medos de sermos destruídos, dilacerados, mastigados, engolidos e defecados. O destino humilhante daqueles que são comidos é expresso em um mito africano a respeito de uma ave gigante que engole um homem e, no dia seguinte, o expele. Além de significar a morte, este tipo de destino final nos diminui, nos tira qualquer ilusão de superioridade em relação aos outros animais.
Para os homens de milhões de anos atrás esta era uma realidade. Familiares, filhos, amigos eram desmembrados e devorados. Passamos muito tempo da nossa história mais como caça do que caçador. Tanto que até hoje estamos fisiologicamente programados para reagir a situações de estresse da mesma forma com que lidávamos com animais maiores – e famintos.
O arquétipo do monstro, tão recorrente em nossa história cultural, expressa e intensifica nosso medo ancestral dos predadores. A partir do momento em que criamos estes seres e os projetamos no reino da mitologia, nos tornamos capazes de lidar melhor com nossos medos. Em sua evolução no plano cultural, os monstros passaram a explicar a origem de outros elementos que nos assustam e colocam nossas vidas em risco, em especial fenômenos naturais como vulcões, furacões e tsunamis.
Mais que isso, esses seres fictícios nos permitiram lidar com a mudança de nossa situação neste planeta. Conforme nos tornamos predadores, passamos a incorporar os monstros como forma de autoafirmação. E, diante do imenso impacto que provocamos nos ecossistemas que tocamos, também de autocrítica. De certa forma, nos tornamos os monstros que temíamos. Isso provoca uma sensação dupla de poder e culpa.
Começamos com os dragões, os primeiros arquétipos de monstros que criamos, e chegamos ao Tubarão, de Steven Spielberg, e ao Alien, de Ridley Scott. Nessas tramas, o ser maligno precisa ser destruído no final, mesmo que para voltar de forma milagrosa no volume seguinte da franquia.
Precisamos dos monstros. Eles nos ajudam há milênios a manter nossa sanidade mental. É por isso que os mitos foram repetidos através dos séculos, alimentaram enredos literários e agora enchem salas de cinema. Não temos motivo nenhum para abrir mão deles.

(Paul A. Trout. Revista Galileu. Março de 2012, nº 248 I. Editora Globo.)
O excerto “Conforme nos tornamos predadores, passamos a incorporar os monstros como forma de autoafirmação. E, diante do imenso impacto que provocamos nos ecossistemas que tocamos, também de autocrítica.” (5º§) possui um exemplo de figura de linguagem denominada
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ZEUGMA

O zeugma é uma figura de linguagem que ocorre quando um termo que deveria aparecer na oração é omitido, pois já foi mencionado antes. Isso cria um efeito de economia na expressão e chama a atenção para a relação entre as partes do texto.

Na frase "Conforme nos tornamos predadores, passamos a incorporar os monstros como forma de autoafirmação. E, diante do imenso impacto que provocamos nos ecossistemas que tocamos, também (como forma) de autocrítica.", o trecho entre parênteses "(como forma)" está implícito na segunda parte, caracterizando um zeugma.

Em conclusão, o gabarito da questão é a alternativa B - zeugma.

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Comentários

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ZEUGMA

Trata-se de um caso especial de elipse, quando o termo omitido já tiver sido expresso anteriormente. 


Conforme nos tornamos predadores, passamos a incorporar os monstros como forma de autoafirmação.

E, diante do imenso impacto que provocamos nos ecossistemas que tocamos, também (como forma) de autocrítica.


a) Anáfora: é a repetição de vocábulos ou expressões no início de frases ou de versos. Ex: É pau. É pedra. É o fim do caminho.

b) Zeugma: omissão do termo já enunciado anteriormente.

c) Perífrase: Trata-se de uma expressão que designa um ser através de alguma de suas características ou atributos, ou de um fato que o celebrizou. ex: A Cidade Maravilhosa (= Rio de Janeiro) continua atraindo visitantes do mundo todo.

d) Hipérbato: deslocamento de termos ou oração no período. Ex: “Da lua os claros raios rutilavam”.

e) silepse de gênero: é a concordância que se faz com o termo que não está expresso no texto, mas sim com a ideia que ele representa. Ex: A bonita Porto Velho sofreu mais uma vez com o calor intenso.

Conforme nos tornamos predadores, passamos a incorporar os monstros como forma de autoafirmação. E, diante do imenso impacto que provocamos nos ecossistemas que tocamos, passamos a incorporar os monstros como forma  também de autocrítica.” (Zeugma)

Luluzinha, anáfora não se prende a conjuções e sim a sons.

Não existe hipérbato no período: "Conforme nos tornamos predadores, passamos a incorporar os monstros como forma de autoafirmação." ??

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