No trecho selecionado, em dado momento de sua reflexão, Nels...
Próximas questões
Com base no mesmo assunto
Ano: 2023
Banca:
FAUEL
Órgão:
Prefeitura de Piên - PR
Prova:
FAUEL - 2023 - Prefeitura de Piên - PR - Professor |
Q2129964
Português
Texto associado
Considere o trecho a seguir, extraído de uma das crônicas de Nelson Rodrigues, para responder a próxima questão.
“Que estaria fazendo eu, ontem, às três da madrugada? Sei que isso é intranscendente, irrelevante, mas vamos
lá. Simplesmente, eu estava adulando minha úlcera com leite gelado. (Minha úlcera lambe leite como uma gata).
Pacificada a dor, vim para a janela espiar a noite. E comecei a pensar no teatro brasileiro. (É triste ser inteligente
com dor). Escrevi, há dois ou três dias, que lavra, por todo o Brasil, a doença infantil do palavrão. Não há lembrança de outra época tão pornográfica. Dirá alguém que o brasileiro sempre foi um neto retardatário e ululante
de Bocage. Isso é e não é verdade. De fato, o povo sempre teve a boca suja. O nosso Pedro I, segundo informam
a história e a lenda, soltava, com larga e cálida ênfase, alguns dos mais truculentos palavrões da língua. E, assim, através dos tempos, cada geração recebe das anteriores um farto legado obsceno. (Claro que a linguagem
das mulheres sempre foi muito mais limpa). Eis o que eu queria dizer: — no passado, o palavrão era muito mais
solene, patético, vital. Bem me lembro de uma vizinha nossa, que perdeu a filhinha, de febre amarela. (Era ainda
a cidade dos lampiões e da febre amarela). Quando a menina morreu, e a mãe sentiu a morte, podia ter rezado.
Rezado, em pé, ereta, a fronte alçada. Não. Ela se esganiçou em palavrões hediondos, inclusive alguns que os
homens, os latagões presentes, não conheciam. Houve, junto à cama da agonia, um escândalo total. Mas logo
todos perceberam que a dor pornográfica é ainda mais terrível”. (“A doença infantil do palavrão, de Nelson Rodrigues,
com adaptações).
No trecho selecionado, em dado momento de sua reflexão, Nelson Rodrigues faz referência ao poeta português Bocage. Pela interpretação do texto, fica subentendido que esse poeta: