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Q2235848 Português
A TOMADA DA LIBERDADE EM TERMOS GRAMATICAIS

(1º§) Na correspondência dos jesuítas eram frequentes as referências à dificuldade que certos padres tinham com a gramática no seu trabalho de catequese, nas Missões. Frequentes e obscuras: não se sabia se a dificuldade tão citada era com a gramática que os próprios padres ensinavam ou se era com a gramática dos nativos. Até descobrirem que “gramática” era um código para castidade.
(2º) Todos sabemos que o problema de alguns padres era definitivamente manter seus votos de abstinência em meio aos índios. Ou no caso, às índias.
(3º§) Conscientemente ou não, o código foi bem escolhido. Pecar contra a castidade, se aceitar que a correção gramatical é uma norma de boa conduta e as regras da língua equivalem a parâmetros morais. Fala-se na “pureza” do vernáculo e na sua poluição, ou violentação, vinda de fora e de um jeito ou de outro todo o vocabulário da perdição da língua (seu abastardamento, sua vulgarização, sua entrega a estrangeirismos como prostitutas do cais) tem conotações sexuais.
 (4º§) Tomar liberdade com a língua é uma atividade tão mal vista pelos guardiões da sua virtude como seria tomar liberdade com suas filhas. Que o povo peque contra a linguagem é aceitável, para a moral gramatical, já que ele vive na promiscuidade mesmo.
(5º§) Mas pessoas educadas, que conhecem as regras, dedicarem-se a neologismos exibicionistas, à introdução de pronomes em lugares impróprios e ao uso de academicismos para fins antinaturais é visto como devassidão imperdoável. De escritores profissionais, principalmente, se espera que se mantenham carretos e castos a qualquer custo.
(6º§) Mas vivemos com relação à gramática como viviam os jesuítas com relação à “gramática”, esforçando-nos para cumprir nossa missão – que não deixa de ser uma catequese, mesmo que só se dê o exemplo de como botar uma palavra depois da outra e viver disso com alguma dignidade – sem sucumbir às tentações à nossa volta. Também não conseguimos. O ambiente nos domina, a libertinagem nos chama, e pecamos o tempo todo.
(7º§) Deve-se ter cuidado com o estudo da gramática normativa da língua portuguesa, pois seus preceitos são padronizados. Pense nisso!
(8º§) Estude, valorize sua língua pátria! Imponha-se pela correção dos seus atos comunicativos e vá tomando liberdade de usar corretamente os aspectos linguísticos gramaticais da língua oficial de sua pátria!

(...)
(VERÍSSIMO, Luís Fernando). - (Texto adaptado)
Julgue as assertivas com V(Verdadeiro) ou F(Falso). Após julgamento, marque a alternativa correta.
I – A expressão sublinhada em: “não se sabia se a dificuldade” equivale a não “era sabido”.
II – O uso do acento da crase em: “eram frequentes as referências à dificuldade” é obrigatória por imposição da regência nominal.
III – As “Missões” representam o ponto de partida para o relacionamento dos jesuítas com os nativos.
IV – O título do texto se relaciona com a necessidade de os missionários se familiarizarem com a língua dos nativos.
Alternativas

Gabarito comentado

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A questão exigiu conhecimento em aspecto gramatical, semântico e de interpretação textual. Vejamos:


I – Verdadeira.


A expressão sublinhada em: “não se sabia se a dificuldade” equivale a não “era sabido”.


Ambos os trechos possuem o significado de indicar ue algo não era do conhecimento, a diferença é que o primeiro está na forma passiva sintética com “se” e a segunda passiva analítica com particípio.


II – Verdadeira.


O uso do acento da crase em: “eram frequentes as referências à dificuldade” é obrigatória por imposição da regência nominal, pois o substantivo “referência” rege a preposição A e o substantivo “dificuldade” aceita o artigo A. Assim, é feita a união das vogais A + A= À.


III – Verdadeira.


As “Missões” representam o ponto de partida para o relacionamento dos jesuítas com os nativos.


O texto menciona que os jesuítas enfrentavam dificuldades com a gramática em seu trabalho de catequese nas Missões. Portanto, as Missões representam o contexto em que os jesuítas estavam envolvidos no relacionamento com os nativos, tornando a afirmação III verdadeira



IV– Verdadeira.


O título do texto se relaciona com a necessidade de os missionários se familiarizarem com a língua dos nativos.


Nesta afirmação, o autor está fazendo uma comparação entre o uso incorreto da língua (tornar-se "libertino" com a língua) e o comportamento sexual impróprio (tomar liberdade com suas filhas). O autor sugere que, de acordo com a moral gramatical, é mais aceitável que o povo cometa erros linguísticos (peque contra a linguagem) do que cometer erros de comportamento sexual.


A ideia central aqui é que algumas pessoas tendem a ser muito rigorosas com a correção gramatical e consideram qualquer desvio das regras da língua como algo inaceitável, enquanto são mais tolerantes com comportamentos inadequados em outras áreas da vida, como questões sexuais. O autor está destacando essa discrepância de valores e criticando o foco excessivo na correção gramatical em detrimento de outros aspectos da moral e do comportamento humano.


Portanto, a afirmação IV aborda a questão da importância dada à correção gramatical em comparação com outras normas morais, como a sexualidade, no contexto do texto



Portanto, a sequência correta é:  V; V; V; V. 




Gabarito: D

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Comentários

Veja os comentários dos nossos alunos

V; V; V; V. 

É uma Tautologia kk

Acertei excluindo e só depois vi que tinha texto. Não recomendo

pela premissa da crase acertei a questão

Essas bancas desconhecidas inventam um bocado de maluquice.

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