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Ano: 2023
Banca:
FURB
Órgão:
Prefeitura de Schroeder - SC
Prova:
FURB - 2023 - Prefeitura de Schroeder - SC - Psicólogo |
Q2123056
Português
Texto associado
O texto seguinte servirá de base para responder à questão.
O peso dos ultraprocessados
Trabalhos recentes feitos no Brasil apontam uma
associação estatística significativa entre o consumo em
excesso de alimentos ultraprocessados e a ocorrência de
mortes evitáveis, somada à aceleração do processo de
declínio cognitivo na população brasileira. Um artigo
publicado em novembro de 2022 na revista American
Journal of Preventive Medicine estima que, em 2019,
pelo menos 57 mil óbitos prematuros no país teriam sido
causados pela ingestão em demasia de
ultraprocessados. Outro estudo, que saiu em dezembro
de 2022 na revista científica JAMA Neurology, sugere
que o consumo exacerbado desse tipo de alimento
acelera em 28% o declínio da cognição geral dos
adultos.
Os alimentos ultraprocessados apresentam pouco do
valor nutritivo de seus ingredientes originais. A categoria,
genérica, abrange um conjunto de comidas às quais
foram adicionados altos teores de açúcar, gordura, sal
ou compostos químicos com a finalidade de aumentar
sua durabilidade ou palatabilidade. Como exemplos
desse tipo de alimento, figuram embutidos como
salsicha, nugget de frango, bolacha recheada,
refrigerante, salgadinho, sorvete e doces
industrializados. Os ultraprocessados são altamente
calóricos. Comer um hambúrguer congelado de 80
gramas (g), por exemplo, equivale a ingerir 25% da
quantidade diária recomendada de gordura. Uma lata de
refrigerante representa 12% do total de açúcar que
deveria ser consumido por uma pessoa em 24 horas.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define como
mortes prematuras aquelas que ocorrem entre 30 e 69
anos e, portanto, não estão associadas apenas à
velhice. Acidentes de carro, homicídios, quedas,
envenenamentos estão entre as causas mais comuns de
óbitos preveníveis, além das chamadas doenças não
transmissíveis, como os problemas cardíacos, a
obesidade e o câncer.
A partir de uma modelagem epidemiológica, os
pesquisadores calcularam o número de mortes não
naturais ligadas ao consumo de ultraprocessados no
Brasil em 2019. "Nossa modelagem considera como
fator de risco para a ocorrência de mortes prematuras
quanto uma população consome de ultraprocessados e
associa esse dado à estimativa de risco e morte por
todas as causas, segundo a literatura científica
internacional", explica o biólogo Eduardo Nilson,
pesquisador associado ao Núcleo de Pesquisas
Epidemiológicas em Nutrição e Saúde, da Universidade
de São Paulo (Nupens-USP) e da Fundação Oswaldo
Cruz (Fiocruz), em Brasília, autor principal do primeiro
estudo.
O trabalho considerou a Pesquisa de Orçamento Familiar
2017-2018, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), como indicador do nível de consumo de comidas ultraprocessadas no país. O levantamento
estimou que o percentual diário da dieta composta por
ultraprocessados varia entre 13% e 21% na população
brasileira, de acordo com a idade e o sexo dos
entrevistados. Esses dados, mais as informações do
DataSUS, do Ministério da Saúde, permitiram estimar
que cerca de 57 mil mortes prematuras estavam
associadas, em 2019, ao consumo de ultraprocessados.
O número equivale a 10,5% de todos os óbitos precoces
de brasileiros no período. Se forem consideradas apenas
as vítimas fatais atribuídas a doenças não
transmissíveis, o consumo de alimentos industrializados
responderia por uma fatia substancialmente maior:
21,8% dos óbitos dentro dessa categoria.
O artigo, que também contou com a colaboração de
colegas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
e da Universidade Católica do Chile, projeta, ainda, como
seriam três cenários em que os brasileiros diminuíssem a
média total de calorias obtidas por meio do consumo
desse tipo de alimento pouco saudável. Reduzir em 10%
o peso desses itens na dieta evitaria 5,9 mil mortes
precoces. Uma redução de 20% pouparia 12 mil óbitos.
Um corte mais significativo, de 50% no consumo de
ultraprocessados, implicaria 29,3 mil vidas salvas por
ano.
O segundo artigo indica ter encontrado uma associação
do consumo excessivo de ultraprocessados com um
problema mais sutil: uma piora da performance cognitiva.
O grupo investigou se uma dieta farta em comida
industrializada poderia acelerar o declínio dos domínios
de faculdades mentais, sobretudo das chamadas
funções executivas. Além de serem importantes para o
raciocínio e a capacidade de resolver problemas, essas
funções regulam habilidades ligadas à autonomia, como
o controle consciente de ações, pensamentos e
emoções.
Os dados do trabalho foram coletados entre 2008 e 2017
pelo Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa), que
conta com financiamento da FAPESP e do Ministério da
Saúde. Foram analisadas informações de 10.775
pessoas, de seis cidades brasileiras - as capitais do
Sudeste, além de Porto Alegre e Salvador. Todos os
voluntários eram funcionários universitários ativos ou
aposentados com mais de 35 anos. A média de idade de
todos os participantes era de 50,6 anos. Cada voluntário
foi acompanhado por oito anos, em média, e avaliado em
três momentos diferentes. Os participantes foram
divididos em quatro grupos, de acordo com o nível de
ingestão de comida industrializada.
O desempenho cognitivo de cada grupo foi colocado à
prova em testes de cognição. Quem obtinha mais de
20% de suas calorias diárias comendo ultraprocessados
apresentou uma taxa de declínio geral da cognição 28%
mais rápida do que o grupo que retirava menos de 20%
de sua energia por meio do consumo desse tipo de
alimento. O declínio da função executiva, mais ligada ao
controle dos pensamentos e das ações, foi 25% mais
rápido nas pessoas que ingeriam muitos
ultraprocessados.
Os trabalhos que exploram a associação entre dois
parâmetros, como o consumo de ultraprocessados e a
ocorrência de doenças ou mortes, têm limitações. Eles
indicam que há fortes correlações estatísticas de que a
alteração de uma variável leva a mudanças na outra. No
caso, a quantidade de comida industrializada ingerida
parece influenciar no aparecimento de doenças e na
quantidade de mortes prematuras. Esses estudos, no
entanto, não conseguem demonstrar qual seria o
mecanismo por trás dessa aparente correlação.
Retirado e adaptado de: ELER, Guilherme. O peso dos
ultraprocessados. Revista Pesquisa FAPESP. Disponível em:
https://revistapesquisa.fapesp.br/o-peso-dos-ultraprocessados/ Acesso
em: 13 mar., 2023.
Assinale a alternativa que apresenta correção no
emprego da pontuação: