Ainda no poema, o verso (Por seus filhos mortos.), indica um...
Genocídio. (Emmanuel Marinho, poeta de Dourados-MS).
(Crianças batem palmas nos portões).
Tem pão velho?
Não, criança.
Tem o pão que o diabo amassou
Tem sangue de índios nas ruas
E quando é noite
A lua geme aflita
Por seus filhos mortos.
Tem pão velho?
Não, criança.
Temos comida farta em nossas mesas
Abençoada de toalhas de linho, talheres
Temos mulheres servis, geladeiras
Automóveis, fogão Mas não temos pão.
Tem pão velho?
Não, criança.
Temos asfalto, água encanada
Supermercados, edifícios
Temos pátria, pinga, prisões
Armas e ofícios
Mas não temos pão.
Tem pão velho?
Não, criança.
Tem sua fome travestida de trapos
Nas calçadas
Que tragam seus pezinhos
De anjo faminto e frágil
Pedindo pão velho pela vida
Temos luzes sem alma pelas avenidas
Temos índias suicidas
Mas não temos pão.
Tem pão velho?
Não, criança.
Temos mísseis, satélites
Computadores, radares
Temos canhões, navios, usinas nucleares
Mas não temos pão.
Tem pão velho?
Não, criança.
Tem o pão que o diabo amassou
Tem sangue de índios nas ruas
E quando é noite
A lua geme aflita
Por seus filhos mortos.
Tem pão velho?