Considere as frases: • Ele me contou isso sem mágoa nenhuma...

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Q914082 Português

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O padeiro


    Levanto cedo, ponho a chaleira no fogo para fazer café e abro a porta do apartamento – mas não encontro o pão costumeiro. No mesmo instante me lembro de ter lido alguma coisa nos jornais da véspera sobre a “greve do pão dormido” – uma greve dos patrões, que suspenderam o trabalho noturno; acham que obrigando o povo a tomar seu café da manhã com pão dormido conseguirão não sei bem o quê do governo.
    Está bem. E enquanto tomo meu café vou me lembrando de um homem modesto que conheci antigamente. Quando vinha deixar o pão à porta do apartamento ele apertava a campainha, mas, para não incomodar os moradores, avisava gritando:
    – Não é ninguém, é o padeiro!
    Interroguei-o uma vez: como tivera a ideia de gritar aquilo?
    “Então você não é ninguém?”
    Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera aquilo de ouvido. Muitas vezes lhe acontecera bater a campainha de uma casa e ser atendido por uma empregada ou outra pessoa qualquer, e ouvir uma voz que vinha lá de dentro perguntando quem era; e ouvir a pessoa que o atendera dizer para dentro: “não é ninguém, não senhora, é o padeiro”. Assim ficara sabendo que não era ninguém...
    Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despediu ainda sorrindo. Eu preferi não o deter para explicar que estava falando com um colega, ainda que menos importante. Naquele tempo eu também, como os padeiros, fazia o trabalho noturno. Era pela madrugada que deixava a redação de jornal – e muitas vezes saía já levando na mão um dos primeiros exemplares rodados, o jornal ainda quentinho da máquina, como pão saído do forno.
    Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele tempo! E às vezes me julgava importante porque no jornal que levava para casa, além de reportagens ou notas que eu escrevera sem assinar, ia uma crônica ou um artigo em meu nome. O jornal e o pão estariam bem cedinho na porta de cada lar; e dentro do meu coração eu recebi a lição de humildade daquele homem entre todos útil e entre todos alegre; “não é ninguém, é o padeiro!”
    E assobiava pelas escadas.

(Rubem Braga. Para gostar de ler. Vol. 1 – crônicas. São Paulo: Ática, 1979. Adaptado)
Considere as frases:
• Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despediu ainda sorrindo. • ... estava falando com um colega, ainda que menos importante.
As expressões em destaque nas frases exprimem, respectivamente, ideia de
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Basta notar a locução "ainda que". Ela exprime sentido de concessão e tem valor idêntico a "embora", "conquanto", "apesar de". 

 

Letra B

1- (tempo): a noção de tempo traz sempre um lapso temporal, um momento ... 
No primeiro caso, a locução tem valor de "no momento em que" sorria.

2- (concessão): a noção de concessão traz a ideia de algo que "normalmente" não ocorreria (na visão do autor), mas ocorreu.

Ex. Vou à praia, ainda que chova. 

Observe que, normalmente, o autor não vai à praia quando chove.

Na questão, o autor pretende demonstrar que "normalente" não falaria com o colega, por ser menos importante.

  Gab: B
 

            despediu ainda sorrindo.

               circunstância de tempo

 

 um colegaainda que menos importante.

             fato contrário 

 "Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera aquilo de ouvido."

 

"Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despediu ainda sorrindo."

 

O padeiro ainda estava sorrindo quando se despediu: TEMPO

b-

e se despediu enquanto sorrindo.

apesaer de menos importante.

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