Na palavra “afônico” ocorre o prefixo a-, de sentido privat...
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Ano: 2025
Banca:
Avança SP
Órgão:
FUSAM de Caçapava - SP
Provas:
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|
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Q3283051
Português
Texto associado
Leia o texto a seguir para responder à questão.
O homem rouco
Deus sabe o que andei falando por aí;
coisa boa não há de ter sido, pois Ele me tirou a
voz.
Ela sempre foi embrulhada e confusa; a
mim próprio muitas vezes parecia monótona e
enjoada, que dirá aos outros. Mas era, afinal de
contas, a voz de uma pessoa, e bem ou mal eu
podia dizer ao mendigo “não tenho trocado”, ao
homem parado na esquina, “o senhor pode ter a
gentileza de me dar fogo”, e ao garçom, “por
favor, mais um pedaço de gelo”. Dizia
certamente outras coisas e numa delas me perdi.
Fiquei vários dias afônico e, hoje, me comunico
e lamento com uma voz de túnel, roufenha,
intermitente e infame.
Ora, naturalmente que me trato. Deramme várias pastilhas horríveis e um especialista
me receitou uma injeção e uma inalação que
cheguei a fazer uma vez e me aborreceu pelo seu
desagradável jeito de vício secreto ou de rito
religioso oriental. Uma leitora me receitou pelo
telefone chá de pitangueira, laranja da terra e
eucalipto, tudo isso agravado por um dente de
alho bem moído.
Não farei essas coisas. Vejo-me à noite,
no recolhimento do lar, tomando esse chá dos
tempos coloniais e me sinto velho e triste de
cortar o coração.
Alguém me disse que se trata de
rouquidão nervosa, o que me deixa desconfiado
de mim mesmo. Terei muitos complexos?
Precisamente quantos? Feios, graves? Por que
me atacaram a garganta e não, por exemplo, o
joelho? Ou quem sabe que havia alguma coisa
que eu queria dizer e não podia, não devia, não
ousava, estrangulado de timidez, e então engoli a
voz?
Quando era criança, agora me lembro,
passei um ano gago porque fui com outros
moleques gritar “Capitão Banana” diante da
tenda de um velho que vendia frutas, e ele estava
escondido no escuro e me varejou um balde
d’água em cima. Naturalmente devo contar essa
história a um psicanalista. Mas então ele começará a me escarafunchar a pobre alma e isso
não vale a pena. Respeitemos a morna paz desse
brejo noturno onde fermentam coisas estranhas e
se movem monstros informes e insensatos.
Afinal, posso aguentar isso, sou um rapaz
direito, bem comportado, talvez até bom partido
para uma senhorita da classe média que não faça
questão da beleza física, mas sim da moral,
modéstia à parte.
O remédio é falar menos e escrever mais,
antes que os complexos me paralisem os dedos,
pobres dedos, triste mão que... Mas, francamente,
página de jornal não é lugar para a gente falar
essas coisas.
Eu vos direi, senhora, apenas, que a voz é
feia e roufenha, mas o sentimento é límpido, é
cristalino, puro – e vosso.
BRAGA, R. O homem rouco. 3ª ed., Record, 1984.
Disponível <https://cronicabrasileira.org.br/cronicas/13137/ohomem-rouco>.
Na palavra “afônico” ocorre o prefixo a-, de
sentido privativo. A palavra em que esse mesmo
prefixo ocorre, com sentido de privação ou
negação, é: