Assinale a alternativa INADEQUADA quanto à classificação se...
Festa íntima
Nem todos têm a fortuna de comemorar o décimo aniversário de seu automóvel. Os que têm não se podem furtar ao prazer de uma festa íntima, com recordações amáveis e o elogio do aniversariante.
O nosso encontro deu-se numa pequena e adorável cidade da Holanda. Pela avenida principal, vejo-lhe ainda as árvores, o vento que descia os degraus dourados do sol. Muitos adolescentes a caminho da escola. Um ritmo de alegria matinal, simples e comunicativo.
O automóvel resplandecia na perfeição intacta da sua recente fabricação. O vendedor fitava-o com orgulho, amava- -o com um amor de especialista, grave e sincero. Nós o amávamos timidamente, ainda, contemplando-lhe linhas, esmaltes, metais, forro... – mas o vendedor proclamava, acima de tudo, a excelência da máquina. Era um homem sensível e engenhoso. Até nos queria vender um dispositivo especial que fazia descer uma leve cortina d’água para lavar o vidro da frente.
Partimos emocionados. O vendedor dizia-nos adeus com bondade. Recomendava-nos certo óleo, moderação na rodagem... E quando nos voltamos, na derradeira despedida, continuava a acompanhar o carro com olhos de pai despedindo- -se de um filho.
Ele aprendeu a rodar pela terra da Holanda, e seu padrinho foi um holandês. Entre as nuvens de bicicletas daquelas encantadoras cidades, sua presença era um pouco escandalosa.
Em cada posto de gasolina, todos o vinham observar por dentro e por fora. Os entendidos em máquinas caíam em êxtase. Era um assombro, o que viam e o que adivinhavam.
E assim foi ele vivendo a sua infância pelos campos floridos da Bélgica, fazendo levantar os olhos aos belos cavalos brancos que pasciam; e conheceu os castelos do Loire e a luz formosa do sul da França; e deslumbrou as donzelinhas espanholas que passavam pela tarde, abraçadas e risonhas, e deslizou pelas estradas de Portugal.
E assim chegou ao Brasil, viu as paisagens cariocas, fluminenses, mineiras e paulistas. Talvez estranhasse, às vezes, o clima (ah! os patrões obrigam a tanto)!
Mas logo as distâncias o seduziam e atirava-se por elas feliz e leve como se fosse voar.
Carro tão sensato jamais houve: não cometeu nunca a menor infração e até se desvia a tempo para que os outros não as cometam. Com o tempo, tem tido suas pequenas crises: mas os mecânicos continuam a amá-lo tanto quanto seu vendedor, e tratam-no com o carinho de um médico devotado por um paciente precioso.
E eis que agora cumpre dez anos. E jamais nos ocorreria trocá-lo por outro mais novo, fosse qual fosse a atração do modelo. Nós o amamos como a uma pessoa viva, a um amigo fiel, a um companheiro impecável. Faz parte da família. Vence todos os obstáculos das estradas e das ruas, resiste a todas as gasolinas; quando enguiça é porque as adversidades são enormes. Outros, quebravam-se. Ele para, espera que o ajudem, e logo recupera seu alento, sua coragem, sua vontade de bem servir. Mesmo entre as criaturas humanas, poucos se lhe podem comparar.
Eis porque festejamos com ternura este aniversário. Que lhe podemos oferecer de presente? Uma boa lubrificação, um bom passeio por uma bela estrada, ao longo da qual se possa expandir seu coração trabalhador. E buzinaremos a nossa alegria por onde passarmos, celebrando as suas virtudes e proclamando-lhe a nossa gratidão.
(Cecília Meireles. Literatura Comentada. Inéditos, 1968. Editora Abril.)
- Gabarito Comentado (1)
- Aulas (10)
- Comentários (4)
- Estatísticas
- Cadernos
- Criar anotações
- Notificar Erro
Gabarito comentado
Confira o gabarito comentado por um dos nossos professores
Vamos entender melhor a questão apresentada e a classificação semântica das palavras destacadas. A alternativa correta é a A. Vamos analisar detalhadamente o porquê:
Alternativa A: “Mas logo as distâncias o seduziam [...]” - condição.
A palavra "mas" é um conectivo adversativo, e não expressa uma condição. Conectivos adversativos são usados para introduzir uma ideia oposta ou contrastante ao que foi dito anteriormente. A classificação correta para "mas" seria oposição ou contraste, e não condição.
Alternativa B: “Nós o amamos como a uma pessoa viva, a um amigo fiel, a um companheiro impecável.” - comparação.
A palavra "como" aqui está corretamente classificada como uma expressão de comparação. Ela estabelece uma relação comparativa entre o carro e uma pessoa viva, um amigo fiel e um companheiro impecável.
Alternativa C: “Até nos queria vender um dispositivo especial que fazia descer uma leve cortina d’água para lavar o vidro da frente.” - finalidade.
"Para" é corretamente classificado como uma expressão de finalidade. Ela indica o objetivo de descer a cortina d’água, que é lavar o vidro da frente.
Alternativa D: “Carro tão sensato jamais houve: não cometeu nunca a menor infração e até se desvia a tempo para que os outros não as cometam.” - negação.
"Nunca" aqui é corretamente classificado como uma expressão de negação. Ela nega que o carro tenha cometido qualquer infração.
Dessa forma, a alternativa A é a única inadequada quanto à classificação semântica das palavras destacadas, pois "mas" não expressa uma condição, mas sim uma ideia de contraste ou oposição.
Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!
Clique para visualizar este gabarito
Visualize o gabarito desta questão clicando no botão abaixo
Comentários
Veja os comentários dos nossos alunos
Mas é conjunção adversativa e no contexto tem o mesmo sentido, não expressa condição como tratado na assertiva.
Gabarito: A
Fiquem atentos ao "inadequada" no comando da questão.
Ler o comando! Ler o comando!!!!
Tem que ter cuidado, pois o (MAS) pode ter sentido de adição dependendo do contexto,por isso, é importante ler a frase.
nesse caso apresentado ,é adversativo
O "nunca" não tem sentido de tempo?
Clique para visualizar este comentário
Visualize os comentários desta questão clicando no botão abaixo