O contexto em que ocorre a cena descrita pela autora expõe o...
Marginalzinho: a socialização de uma elite vazia e covarde
Parada em um sinal de trânsito, uma cena capturou minha atenção e me fez pensar como, ao longo da vida, a segregação da sociedade brasileira nos bestializa
01 Era a largada de duas escolas que estavam situadas uma do lado da outra, separadas por um muro altíssimo de uma 02 delas. Da escola pública saíam crianças correndo, brincando e falando alto. A maioria estava desacompanhada e dirigia-03 se ao ponto de ônibus da grande avenida, que terminaria nas periferias. Era uma massa escura, especialmente quando 04 contrastada com a massa mais clara que saía da escola particular do lado: crianças brancas, de mãos dadas com os 05 pais, babás ou seguranças, caminhando duramente em direção à fila de caminhonetes. Lado a lado, os dois grupos não 06 se misturavam. Cada um sabia exatamente seu lugar. Desde muito pequenas, aquelas crianças tinham literalmente 07 incorporado a segregação à brasileira, que se caracteriza pela mistura única entre o sistema de apartheid racial e o de 08 castas de classes. Os corpos domesticados revelavam o triste processo de socialização ao desprezo, que tende a só 09 piorar na vida adulta. [...]
PINHEIRO-MACHADO, Rosana. In http://www.cartacapital.com.br/sociedade/marginalzinho-a-socializacao-de-uma-elite-vazia-e-covarde-
3514.html (acesso em 07/03/16).