Pode-se inferir acerca das aspas no texto delimitando o vo...
Olhos para ver um mundo novo a cada dia
Em maio de 2019, o quadro “Meules”, do pintor francês Claude Monet (1840-1926), foi vendido na tradicional casa de leilões Sotheby’s, em Nova York, por nada menos que US$ 110,7 milhões (mais de R$ 580 milhões), um recorde para quadros do Impressionismo. O estilo, segundo os leiloeiros, é marcado por, entre outras coisas, contornos pouco definidos, cores não misturadas e ênfase na representação precisa da luz natural.
Mas Monet tinha ainda outra “característica” que o aproximava de outros expoentes do estilo, como Pierre Auguste Renoir, Paul Cezanne e Edgar Degas: eles eram míopes. E de acordo com artigo do neurocirurgião Noel Dan, publicado em 2003 no Journal of Clinical Neuroscience, é tentador atribuir o desenvolvimento do Impressionismo, “ao menos em parte, à visão míope de seus praticantes”. A afirmação, claro, desperta até hoje debates acalorados entre especialistas, tanto em oftalmologia quanto em arte.
Já numa chave mais médica e menos romantizada, a miopia é um distúrbio visual que faz com que a imagem entre em foco antes de chegar à retina. Isso faz com que objetos vistos a alguma distância pareçam desfocados – a visão parece embaçada. Segundo a AAO (Academia Americana de Oftalmologia, na sigla em inglês), se nada for feito para impedir o avanço da miopia, até 2050 metade da população mundial (que, lembremos, no mês passado alcançou 8 bilhões de pessoas) poderá ter a visão afetada por ela. O problema nada tem de trivial: ainda, segundo a AAO, o custo da miopia em perda de produtividade está estimado em cerca de US$ 244 bilhões por ano.
No Brasil, dados de um levantamento feito pelo Hospital de Olhos mostram um aumento de 23% nos diagnósticos de miopia para pacientes com idades entre zero e doze anos no primeiro semestre deste ano: foram 538, contra 425 no mesmo período de 2021. Especialistas apontam como possíveis causas o uso excessivo de aparelhos eletrônicos (celulares, tablets, computadores etc.). Alguns talvez tenham ouvido de mães, tias ou avós para não assistir TV muito perto da tela. Embora seja tentador achar que elas poderiam estar certas desde o início, não há comprovação científica para se estabelecer uma relação de causa e efeito entre a exposição a telas e mais casos de miopia. Mas uma meta-análise publicada na revista especializada The Lancet sugere uma associação desse tipo.
O fato desse avanço da miopia entre crianças possivelmente ter relação com a exposição a telas de gadgets é causa para alguma preocupação. Afinal, estamos rumando a um futuro em que as telas serão cada vez mais presentes nas vidas de todos. A pandemia deu um vislumbre disso: aulas passaram a ser ministradas via on-line – e as crianças, então, ficaram bem mais tempo com olhos voltados às telinha. Sem poderem sair de casa, jogos de celular, ou em consoles ligados à TV, filmes, desenhos animados e outras formas de diversão se tornaram a regra. Até para os adultos foi assim, com as muitas reuniões de trabalho em videoconferências.
E não se trata de uma tendência vista apenas no Brasil e nem que tenha surgido agora, claro. Reportagem do The New York Times já do ano passado lembrava que, em 2020, o Jama (Jornal da Associação Médica Americana, na sigla em inglês) trouxe um editorial intitulado “2020 como o ano da miopia de quarentena” (em tradução livre). O texto diz que lockdowns precisam considerar “um planejamento cuidadoso de atividades internas e, de preferência, não restringir as brincadeiras ao ar livre em crianças pequenas”. Isso ajudaria a controlar “uma onda de miopia de quarentena”.
Por mais que nossas atividades, no trabalho, no estudo e na vida pessoal, estejam atreladas a dispositivos digitais e suas telas, o corpo humano tem limites: não é sem consequências – como o avanço da miopia tem mostrado – que nos expomos a toda e qualquer inovação sem considerar possíveis desdobramentos. A moderação precisa encontrar espaço: para as crianças, isso pode significar algum tempo longe das telas. Brincar em espaços abertos, em que possam tentar enxergar coisas ao longe, é uma excelente alternativa para preservar seus olhos. Há muito mais lá fora para se ver do que cabe nas telinhas, e elas precisam ter olhos saudáveis para descobrir o mundo a cada dia.
(Cláudio L. Lottenberg*, Veja. Disponível em: https://veja.abril.com.br/
coluna/coluna-claudio-lottenberg/olhos-para-ver-um-mundo-novo-acada-dia/15 dez 2022. * Mestre e doutor em Oftalmologia pela Escola
Paulista de Medicina (Unifesp), é presidente institucional do Instituto
Coalizão Saúde e do conselho do Hospital Albert Einstein.)
- Gabarito Comentado (1)
- Aulas (2)
- Comentários (7)
- Estatísticas
- Cadernos
- Criar anotações
- Notificar Erro
Gabarito comentado
Confira o gabarito comentado por um dos nossos professores
Tema da Questão: A questão trata do uso de aspas em um texto, em especial para indicar nuances de significado. O foco está em como as aspas são usadas para dar um sentido específico ao termo "característica" no contexto apresentado.
Alternativa Correta: B - Destaque do vocábulo cuja expressão, pode-se inferir pelo contexto, remete a determinada suavização em referência a um distúrbio visual.
A alternativa B é a correta porque, no texto, as aspas em "característica" são utilizadas para suavizar o impacto do termo, conferindo-lhe um sentido diferente do usual. Nesse contexto, a miopia é tratada como uma "característica" dos pintores impressionistas, mas o uso das aspas indica que esse termo está sendo usado de maneira atenuada, já que miopia é, na verdade, um distúrbio visual.
Justificativa das Alternativas Incorretas:
A - Expressão de uma citação: A opção A sugere que as aspas são usadas para indicar uma citação, o que não é o caso aqui. No texto, as aspas não estão citando uma frase direta ou um trecho específico de outra fonte, mas sim destacando um termo.
C - Aproximação de significados: A alternativa C sugere que as aspas servem para aproximar os significados de "característica" e "miopia". Porém, as aspas não têm essa função de equivalência semântica, mas de suavização.
D - Emprego irônico: Embora a ironia possa estar presente em outros contextos, no caso específico do texto, o uso das aspas não é para ironizar. Elas são usadas para atenuar o termo, reconhecendo a miopia como uma característica mencionada com cautela.
Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!
Clique para visualizar este gabarito
Visualize o gabarito desta questão clicando no botão abaixo
Comentários
Veja os comentários dos nossos alunos
O vocábulo “característica” suaviza algo que é muito maior e mais complexo do que uma simples “característica”, é um distúrbio visual.
Não poderia ser uma forma irônica também ?
Achei que a banca extrapolou nessa alternativa B, mas, fazer o quê, sigamos!
Acho que D caberia muito mais, afinal é uma característica comparada a outros autores.
enfim.
segundo a NET, acho que cabe anulação:
As aspas são um sinal de empregado para destacar palavras ou expressões, como citações, títulos de obra, palavras incomuns do idioma, expressões irônicas, entre outros casos. Elas abrem e fecham os termos, de modo a indicar o início e o fim da expressão destacada. As aspas podem ser duplas ou simples. O ponto-final pode ser empregado dentro ou fora delas, a depender da estrutura do enunciado.
a questao foi mais pelo que ela acha do que pelo que pode ser inferido no texto, interpretação de texto é a pior coisa que existe namoral
Clique para visualizar este comentário
Visualize os comentários desta questão clicando no botão abaixo