Considerando o trecho “Agora, ainda que os jornais e revis...
Leniro leu um jornal pela primeira vez aos 40 anos. Hoje, aos 50 e poucos, só lamenta não ter podido se deliciar com as entrevistas do Pasquim quando tinha 20 e tantos. Agora, ainda que os jornais e revistas não facilitem muito, ele lê de tudo.
Leniro é cego. Ele lê graças a um programa de computador, com sintetizador de voz, criado no Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro por um professor chamado Antonio Borges. Ao encontrar um aluno cego, Marcelo Pimentel, na sua sala da disciplina de computação gráfica, Antonio descobriu que precisava inventar algo que tornasse possível aos deficientes visuais ter acesso ao computador e à internet. Isso era início dos anos 90 e, naquele momento, as opções existentes eram bastante precárias. Antonio criou um programa chamado Dosvox, que permite aos cegos acessar a internet, ler e escrever, mandar e receber e-mails, participar de chats e trocar ideias como qualquer um que pode ver.
Até então, cegos como Leniro viviam num universo restrito. Muito pouco era convertido ao braille. E, se um cego escrevesse em braille, seria lido apenas entre cegos. Também havia as fitas cassetes, com a gravação de livros lidos em voz alta. Mas era sempre a leitura de um outro. E continuavam sendo poucos os livros disponíveis em fitas. Jornais e revistas em geral só podiam ser alcançados se alguém se oferecesse para ler em voz alta. A internet era inacessível. E o mundo, muito pequeno. E pouco permeável.
Eu nunca tinha parado para enxergar o mundo de Leniro. Ali, a cega era eu. Começamos a conversar por e-mail. Fiz uma pergunta atrás da outra. Fazia tempo que não me sentia tão criança ao olhar para uma realidade nova. De novo, eu estava na fase dos porquês. Só faltou perguntar de onde vinham os bebês… Acho até que importunei o Leniro com minhas perguntas seriadas.
Como é o teclado? O que você sente? Leniro teve muita paciência comigo. Graças à aparição dele na minha vida, percebi que olhar para a deficiência apenas como a falta de algo, de um sentido, não é toda a verdade. Não só não é toda a verdade, como é um modo pobre de enxergar. Dentro de mim, surgiu algo novo: o reconhecimento de um mundo diverso, com possibilidades diversas.
Para um cego, desbravar a internet se assemelha a uma daquelas viagens dos grandes navegadores do passado. Os sites pouco se preocupam em ser acessíveis para quem não pode ver e há monstros marinhos escondidos logo ali. Para os cegos, uma mudança de layout é uma tempestade daquelas capazes de virar o barco. Pesquisando na internet sobre o tema, encontrei a página pessoal da educadora cega Elisabet Dias de Sá. Em um dos textos, assim ela explica a epopeia: “guardadas as devidas proporções, navegar na web é como aventurar-se pelas ruas e avenidas da cidade guiada por uma bengala, exposta ao perigo e a toda sorte de riscos decorrentes dos obstáculos, suspensos ou ao rés do chão, espalhados pelas vias públicas”.
Há vários modos de ser cego. Aqueles com quem converso têm uma deficiência visual-orgânica, concreta. Mas criaram outras maneiras de se conectar ao mundo, outras formas de enxergar. O mais triste é quando nosso sistema visual funciona perfeitamente, mas só enxergamos o óbvio, o que estamos condicionados a ver. Quando acordamos, a cada manhã, as cenas da nossa vida se repetem como se assistíssemos sempre ___ mesmo filme. Às vezes, choramos diante da tela não por emoção, mas pela falta dela. O filme é chato, mas sabemos o que vai acontecer em cada cena. É chato, mas é seguro. Em nome da segurança, abrimos mão de experimentar novos enredos, tememos nos arriscar ___ possibilidade do diferente, temos tanto medo que fechamos os olhos ao espanto do mundo.
Ser cego é não ver o mundo do outro por estarmos fechados ao que é diferente de nós. Nem sei dizer o quanto meu universo se ampliou ao ser vista por Leniro. A vida é sempre surpreendente quando não temos medo dela: foi preciso que os cegos me vissem para que eu os enxergasse. E, depois deles, tornei-me menos cega.
(Texto adaptado especialmente para esta prova. Disponível em
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI99114-
15230,00-A+CEGA+ERA+EU.html. Acesso em: 25/10/2019.)
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Alternativa correta: C - Concessão
A questão aborda a identificação do tipo de relação expressa por uma locução conjuntiva específica dentro de um contexto textual. Nesse caso, a locução "ainda que" está destacada e é necessário entender o significado dessa expressão para resolver a questão corretamente.
Para isso, é importante conhecer os tipos de conjunções e locuções conjuntivas na língua portuguesa, principalmente as que expressam relações de condição, conclusão, concessão e comparação.
Vamos analisar as alternativas:
A - Condição: Conjunções e locuções conjuntivas condicionais introduzem uma condição para que algo aconteça, como em "se", "caso", "desde que". Nesse caso, a frase, "Ainda que os jornais e revistas não facilitem muito, ele lê de tudo" não expressa uma condição que precisa ser atendida para que ele leia de tudo. Portanto, essa alternativa está incorreta.
B - Conclusão: Conjunções conclusivas expressam uma conclusão, como "portanto", "logo", "assim". A ideia de conclusão não está presente na frase em questão. A locução "ainda que" não indica uma conclusão, mas sim uma concessão. Portanto, essa alternativa está incorreta.
C - Concessão: Conjunções concessivas expressam um contraste ou oposição entre duas ideias, geralmente introduzindo uma ideia que, apesar de contrária, não impede a realização da outra. Exemplos são "embora", "ainda que", "mesmo que". Na frase "Ainda que os jornais e revistas não facilitem muito, ele lê de tudo", a locução "ainda que" introduz uma ideia de concessão, indicando que, mesmo com a dificuldade, ele continua a ler de tudo. Portanto, essa alternativa está correta.
D - Comparação: Conjunções comparativas são usadas para comparar dois elementos, como em "como", "assim como", "tal qual". A frase não está estabelecendo uma comparação entre duas situações ou elementos. Portanto, essa alternativa está incorreta.
Conclusão: A locução conjuntiva "ainda que" exprime a ideia de concessão, pois indica que, apesar da dificuldade apresentada pelos jornais e revistas, Leniro continua a ler de tudo. Esta é a razão pela qual a alternativa C está correta.
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GABARITO: LETRA C
“Agora, ainda que os jornais e revistas não facilitem muito, ele lê de tudo.” (1º§)
→ Temos, em destaque, uma conjunção subordinativa concessiva (exprime contrariedade, ressalva, oposição a uma ideia sem invalidá-la, equivale a "mesmo que", "embora", "apesar de que").
☛ FORÇA, GUERREIROS(AS)!!
são conjunções concessivas:São elas: embora, ainda que, apesar de que, se bem que, mesmo que, por mais que, posto que, conquanto, etc.
Sucesso,bons estudos não desista!
Leia atentamente o enunciado. Expressa-se uma ação (os jornais e revistas não facilitam) e uma ocorrência posterior a essa ação (ele ler). Note que, embora haja uma obstaculização dos jornais e revistas, isso não se torna impeditivo para a leitura. Essa característica é inerente à concessão. O termo abaixo destacado, porquanto, é uma locução subordinativa concessiva:
“Agora, ainda que os jornais e revistas não facilitem muito, ele lê de tudo.”
a) Incorreto. Não há nenhum elemento que impõe condição, a exemplo das locuções "desde que" e "contanto que";
b) Incorreto. Não há conclusão a respeito de nada, tampouco elemento que nos leve a assim pensar, a exemplo de "portanto", "porquanto" ou "pois (isolado por vírgulas)";
c) Correto. A locução "ainda que" é sinônima daquela que mais tem uso para expressar concessão: "embora";
c) Incorreto. Não há elemento comparativo, a exemplo de "como" ou "tal...qual".
Letra C
Conjunção concessiva. Mesmo que os jornais não facilitem a leitura ele continua lendo. A existência de um fato não anula a existência do outro.
6C FTP L
CAUSAL; como(começo de frase), pois, porque, porquanto
CONFORMATIVAS; como
COMPARATIVAS; como
CONSECUTIVAS; que, Tezão(aula de Sidney Martins-Focus)
CONCESSIVAS : Embora, a despeito de, ainda que, conquanto
CONDICIONAIS: Caso, se
FINAIS; A fim de que, para
TEMPORAIS, quando
PROPORCIONAIS, a medida que
LOCATIVAS, onde
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