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Crise da Venezuela é teste para instituições da América Latina


    A crise na Venezuela, talvez o maior colapso econômico não provocado por uma guerra nas últimas quatro décadas, deu início a um dos maiores fluxos migratórios do mundo. De acordo com as Nações Unidas, até junho de 2019 mais de 4 milhões de pessoas haviam fugido do país, com uma média de 5 mil pessoas saindo por dia em 2018. Mais de 80% dos imigrantes venezuelanos ficaram em nações da América Latina ou do Caribe, muitas das quais nunca haviam lidado com migrações desse porte anteriormente.
    Com o intenso impacto sentido na região, é de se pensar que a reação seria hostil nesta era em que o nativismo aumenta mundialmente e que o crescimento econômico na região é anêmico. Em um primeiro momento, porém, ela foi positiva, embora a tensão venha aumentando. Com um grupo de estudantes, conduzimos uma pesquisa em sete países da região e encontramos exemplos de boas e más reações, incluindo sinais de piora.
    Boa parte do debate gira em torno da oferta de serviços essenciais, como comida, saúde, moradia, apoio jurídico e inserção no mercado de trabalho. A maioria dos imigrantes venezuelanos é pobre e tem pouca formação acadêmica, precisando, portanto, de diversos tipos de apoio social, algo que tem custos incrivelmente altos para os governos que já não possuem muitos fundos.
    Ainda que a maioria dos países ofereça pelo menos o mínimo desses serviços e que muitos colaborem internacionalmente para assegurar mais apoio estrangeiro, pesquisas mostram que boa parte dos imigrantes não está recebendo apoio suficiente. Em países em que imigrantes venezuelanos representam mais de 1,5% da população (Equador, Chile, Colômbia, Trinidad e Tobago e o estado de Roraima, no Brasil), o esgotamento já é visível. Alguns governos precisaram contar demasiadamente com apoio de organizações estrangeiras (especialmente o Equador), ou até mobilizar as Forças Armadas para auxiliar com operações logísticas e humanitárias, como no caso do Brasil. As duas coisas são sinais de desespero.
    Acolher imigrantes envolve, também, oferecer opções jurídicas para sua chegada e residência. Para os venezuelanos, um passaporte válido pode ser custoso, quando não impossível. O governo venezuelano sempre atrasou consideravelmente a emissão de passaportes — e com taxas desnecessariamente altas — e desde 2017 suspendeu indefinidamente agendamentos e renovações por falta de material. É ainda mais difícil para os venezuelanos conseguir outros documentos, como certidões de bons antecedentes criminais, requisito para a entrada em países mais restritos, como o Equador. [...]
    As instituições e a opinião pública na América Latina têm sido testadas pela crise da Venezuela. O assunto já se tornou motivo de discussão na eleição chilena de 2017, com um dos principais candidatos assumindo um discurso claramente anti-imigração. Felizmente, a região é protegida por normas internacionais pró-imigração, organizações civis robustas e políticos simpáticos à causa. Mas essas defesas podem não ser suficientes para conter o aumento do nativismo causado pela pior onda migratória em décadas.

(Javier Corrales, da Americas Quarterly, traduzido por Daniel Salgado, 14/07/2019. Disponível em: https://epoca.globo.com/crise-davenezuela-teste-para-instituicoes-da-america-latina-23802888. Com adaptações.)
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Comentário sobre a questão:

A questão apresentada trata da interpretação de texto, mais especificamente da compreensão dos impactos da crise na Venezuela em outras nações, especialmente na América Latina.

Análise da alternativa correta:

A alternativa C está correta: "Há um embate entre duas situações que se opõem de acordo com os princípios e necessidades próprios de cada uma: o nativismo e a migração." Esta alternativa captura a essência do texto, que discute o aumento do nativismo em oposição à migração, desencadeada pela crise venezuelana. O autor menciona que, embora inicialmente houvesse uma reação positiva, a tensão vem aumentando, refletindo um conflito entre o desejo de acolher imigrantes e o crescimento de ideias nativistas.

Análise das alternativas incorretas:

A - "A crise da Venezuela, apesar de ser grave, é uma situação passageira que envolve instituições das mais diversas." Esta alternativa está incorreta porque o texto não sugere que a crise é passageira. Pelo contrário, descreve uma situação contínua e complexa, sem previsão de resolução imediata.

B - "As discussões em torno da crise vivida na Venezuela têm estado paralisadas devido a interesses políticos e particulares." Esta alternativa está incorreta porque o texto menciona que o assunto está em debate, como foi o caso na eleição chilena de 2017, e não que está paralisado.

D - "Instituições de diversas categorias têm sido atingidas pela crise da Venezuela não havendo possibilidade de algum tipo de reação que contenha ou diminua os seus efeitos." Esta alternativa está incorreta porque o texto descreve várias reações e esforços para lidar com a crise, como o apoio de organizações estrangeiras e a mobilização das Forças Armadas em alguns países.

Para resolver questões de interpretação de texto, é importante identificar palavras-chave e marcadores discursivos que indicam posições ou mudanças de ideia, como "embate", "nativismo" e "migração" usados no texto. Além disso, é essencial entender o contexto geral e as intenções do autor, evitando focar apenas em detalhes isolados.

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"Mais de 80% dos imigrantes venezuelanos ficaram em nações da América Latina ou do Caribe, muitas das quais nunca haviam lidado com migrações desse porte anteriormente.

    Com o intenso impacto sentido na região, é de se pensar que a reação seria hostil nesta era em que o nativismo aumenta mundialmente e que o crescimento econômico na região é anêmico." 

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