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Q2068311 Português
A pipoca

A culinária me fascina. De vez em quando eu até me até atrevo a cozinhar. Mas o fato é que sou mais competente com as palavras do que com as panelas. (...)

Sabedor das minhas limitações e competências, nunca escrevi como chefe. Escrevi como filósofo, poeta, psicanalista e teólogo — porque a culinária estimula todas essas funções do pensamento.

As comidas, para mim, são entidades oníricas.

Provocam a minha capacidade de sonhar. Nunca imaginei, entretanto, que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois foi precisamente isso que aconteceu. (...)

A pipoca é um milho mirrado, subdesenvolvido.

Fosse eu agricultor ignorante, e se no meio dos meus milhos graúdos aparecessem aquelas espigas nanicas, eu ficaria bravo e trataria de me livrar delas. Pois o fato é que, sob o ponto de vista de tamanho, os milhos da pipoca não podem competir com os milhos normais. Não sei como isso aconteceu, mas o fato é que houve alguém que teve a ideia de debulhar as espigas e colocá-las numa panela sobre o fogo, esperando que assim os grãos amolecessem e pudessem ser comidos. (...)

Repentinamente os grãos começaram a estourar, saltavam da panela com uma enorme barulheira. Mas o extraordinário era o que acontecia com eles: os grãos duros quebradentes se transformavam em flores brancas e macias que até as crianças podiam comer. O estouro das pipocas se transformou, então, de uma simples operação culinária, em uma festa, brincadeira, molecagem, para os risos de todos, especialmente as crianças. É muito divertido ver o estouro das pipocas! (...)

É que a transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação porque devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser. O milho da pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho da pipoca somos nós: duros, quebradentes, impróprios para comer, pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos transformar em outra coisa — voltar a ser crianças! Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo.

Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre.

Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. (...)

O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder um emprego, ficar pobre. Pode ser fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade, depressão — sofrimentos cujas causas ignoramos. (...)

Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pense que sua hora chegou: vai morrer. (...) A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: PUF!! — e ela aparece como outra coisa, completamente diferente, que ela mesma nunca havia sonhado. É a lagarta rastejante e feia que surge do casulo como borboleta voante. (...)

Em Minas, todo mundo sabe o que é piruá. Falando sobre os piruás com os paulistas, descobri que eles ignoram o que seja. Alguns, inclusive, acharam que era gozação minha, que piruá é palavra inexistente. Cheguei a ser forçado a me valer do Aurélio para confirmar o meu conhecimento da língua. Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar.

Meu amigo William, extraordinário professor pesquisador da Unicamp, especializou-se em milhos, e desvendou cientificamente o assombro do estouro da pipoca. Com certeza ele tem uma explicação científica para os piruás. Mas, no mundo da poesia, as explicações científicas não valem. (...)

Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. (...) A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo.

Quanto às pipocas que estouraram, são adultos que voltaram a ser crianças e que sabem que a vida é uma grande brincadeira...

ALVES, Rubem. A pipoca. In:_____. O amor que acende a luaCampinas, SP: Papirus, 1999.
Todos os pronomes pessoais oblíquos átonos, abaixo, destacados podem mudar de posição em relação ao verbo a que se referem; a EXCEÇÃO encontra-se na alternativa:
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Para responder a esta questão o candidato deve ter conhecimento em colocação pronominal. 


Deve-se indicar a assertiva que não possui dupla possibilidade de colocação pronominal.


Os pronomes pessoais oblíquos átonos me, te, se, lhe(s), o(s), a(s), nos e vos podem estar em três posições ao verbo ao qual se ligam.


Próclise é antes do verbo⇾ Nada me faz tão bem quanto passar em concurso.


Mesóclise é no meio do verbo⇾ Abraçar-lhe-ei…


Ênclise é após o verbo⇾ Falaram-me que você está muito bem


A) Incorreta.


“A culinária me fascina." (1º parágrafo).



Como não há atrativo de próclise, o pronome pode ficar em ênclise ou próclise.


São atrativos de próclise  


  • advérbio, 
  • pronome indefinido, 
  • pronome relativo, 
  • pronome interrogativo, 
  • conjunção subordinativa, 
  • frases exclamativas ou interrogativas, 
  • preposição "em" + verbo no gerúndio, 
  • partícula "que"...


B) Incorreta.


“Não vão se transformar na flor branca macia." (15º parágrafo)



Em locuções verbais com palavra atrativa, há preferência na norma pelo uso da próclise antes do verbo auxiliar (não se vão transformar), da ênclise após o verbo principal (não vão transformar-se), mas alguns gramáticos defendem o uso da próclise antes do verbo principal (não vão se transformar).




C) Incorreta.


 “(...) mas o fato é que houve alguém que teve a ideia de debulhar as espigas e colocá-las numa panela sobre o fogo, (...)" (6º parágrafo) 



Diante de conjunção coordenada, pode-se usar ênclise ou próclise. A conjunção coordenada no caso em tela é “e".



D) Incorreta.


“O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos." (11º parágrafo) 


“ A vida" é sujeito e não obriga pronome a estar em próclise  e nem ênclise, podendo o pronome oblíquo estar na frente ou atrás do verbo.



E) Correta.


“Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar." (13º parágrafo)



A partícula “que" atrai o pronome para trás do verbo “recusar". Se “recusar a estourar" fosse uma locução verbal, teríamos o mesmo caso da assertiva B.


Uma forma de descobrir se é ou não locução verbal é tentar colocar o advérbio “não" atrás do último verbo, se fizer sentido não é locução verbal.


Se recusa a não estourar. (Não é locução verbal, pois fez sentido.)

Vão se não transformar (Não faz sentido, então, é uma locução verbal)



Gabarito: E


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Comentários

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Que : pronome relativo atrativo de próclise

O pronome relativo QUE é sempre fator atrativo de próclise

Por que letra B esta errada? o pronome não pode estar depois do verbo já que tem a palavra NÃO que atrai o pronome?

Verbo no infinitivo, facultativo.

“Não vão se transformar na flor branca macia.” 

A oração está certa pois o verbo transformar é indefinido, assim ele pode mudar de posição.

Como a questão está pedindo a errada a alternativa certa é a letra E

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