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MANUAL DA DEMISSÃO


Por Nelson Vasconcelos – 02/02/2018 4:30



RIO — Desemprego não é assunto que costuma ser encarado com bom humor. Dá para entender. Em geral, significa perdas, lamentos, incógnitas e, por isso mesmo, medo do futuro. No entanto, quando esse desastre cai no colo da escritora carioca Julia Wähmann, é impossível não rir. Tendo em mãos o seu ”Manual da demissão”, que será lançado na Travessa de Ipanema no próximo dia 7, a gente ri até de nervoso. Mas ri muito.

A narradora J. inicia sua história numa segunda-feira de terror corporativo, quando o patrão maluco começa a liquidar um quinto da equipe sob um lema universal: “É a crise, você sabe”. A longa manhã sacramenta o tormento de quem sai em busca de novos desafios e, também, de quem fica segurando a barra, sob a possibilidade permanente de estar na próxima lista de demissões. Se você já tiver vivido algo assim, vai se identificar com cada palavra do livro, e só não vai se acabar em tremedeiras porque o humor de Julia derruba qualquer tristeza.



MUITAS EMOÇÕES


Como sofrimento pouco é bobagem, J. é demitida dias depois de ser abandonada pelo namorado. Mas essa perda acaba em segundo plano — o que não quer dizer que desapareça de vez. Só cai um pouco em importância, tornando-se mais um fantasminha de J.

O que importa, agora, é vencer as várias etapas que surgem na vida da nova desempregada. J. as enumera sempre com muita graça. O périplo começa já ao desfazer as gavetas e segue ao encarar as agências da Caixa atrás do FGTS, unir-se a novos parceiros de desventura, afogar-se no veneno do tempo ocioso, criar desculpinhas a respeito de projetos inexistentes, conceber ideias mirabolantes para garantir o sustento, a praia, a opção preferencial pelos chinelos, a depressão, o mergulho nos remedinhos-antidepressivos-que-nos-deixam-dementes, o êxodo dos amigos, a pós-depressão, a recuperação, os próximos capítulos... São muitas emoções.

Falando assim, “Manual da demissão” parece assustador, deprimente. Nada disso. A narradora mostra (ou reitera) que o humor é fundamental para que a gente encare situações adversas. Humor é inteligência, é reflexão, é salvação, jogo rápido, não é fuga.

No fim das contas, o livrinho se torna um guia de ajuda para quem passa por momentos difíceis. E até podemos pensar que a própria autora exorcizou ali seus fantasmas em relação à perda dos tão amados emprego e namorado. Tanto que, no meio de tantas frases bem sacadas, temos aí uma associação deveras interessante, que deveria estar clara na cabeça de todo mundo viciado em ter carteira assinada. É mais ou menos isso: você devota ao emprego um amor verdadeiro que não é recíproco, por mais que o RH diga algo diferente. Você se dedica à empresa, sofre por ela, vira as noites com ela, e acha que ficará nessa por toda a eternidade. Mas um dia o patrão fica maluco e a moça do RH vai chamar para uma conversinha... É a crise, você sabe.

Guardadas as proporções, acontece a mesma coisa na relação com namorados, amantes, peguetes. Pensar que uma paixão de ocasião será infinita é, no mínimo, inocência. E tem gente que nunca se recupera do pé na bunda — seja por parte do namorado, seja por parte do patrão maluco. Mas Julia Wähmann mostra que tudo isso passa. O problema é que, enquanto não passa, dói pra burro.


“Manual da demissão”, romance de Julia

Wähmann. Editora Record, 142 páginas.

Texto acessado em 13/03/2018 em https://

oglobo.globo.com/cultura/livros/livro-manual-da-

demissao-carinho-bem-humorado-em-quem-perde-

emprego-22356164


“O périplo começa já ao desfazer as gavetas e segue ao encarar as agências da Caixa...”. O autor utilizou o termo périplo, “s.m., navegação à volta de um mar, país ou continente; relação de uma viagem desse gênero”, porque:

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