No primeiro parágrafo, no trecho “de modo que não me interes...
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Ano: 2024
Banca:
FAUEL
Órgão:
Prefeitura de Jaguapitã - PR
Prova:
FAUEL - 2024 - Prefeitura de Jaguapitã - PR - Agente de Vigilância Sanitária |
Q3074501
Português
Texto associado
Considere a crônica a seguir, escrita por Cecília Meireles, para responder à questão.
O fim do mundo
A primeira vez que ouvi falar no fim do mundo, o mundo para mim não tinha nenhum sentido, ainda; de
modo que não me interessava nem o seu começo nem o seu fim. Lembro-me, porém, vagamente, de umas
mulheres nervosas que choravam, meio desgrenhadas, e aludiam a um cometa que andava pelo céu,
responsável pelo acontecimento que elas tanto temiam.
Nada disso se entendia comigo: o mundo era delas, o cometa era para elas: nós, crianças, existíamos
apenas para brincar com as flores da goiabeira e as cores do tapete. Mas, uma noite, levantaram-me da cama,
enrolada num lençol, e, estremunhada, levaram-me à janela para me apresentarem à força ao temível cometa.
Aquilo que até então não me interessava nada, que nem vencia a preguiça dos meus olhos pareceu-me,
de repente, maravilhoso. Era um pavão branco, pousado no ar, por cima dos telhados? Era uma noiva, que
caminhava pela noite, sozinha, ao encontro da sua festa? Gostei muito do cometa. Devia sempre haver um
cometa no céu, como há lua, sol, estrelas. Por que as pessoas andavam tão apavoradas? A mim não me
causava medo nenhum.
Ora, o cometa desapareceu, aqueles que choravam enxugaram os olhos, o mundo não se acabou, talvez
eu tenha ficado um pouco triste – mas que importância tem a tristeza das crianças? Passou-se muito tempo.
Aprendi muitas coisas, entre as quais o suposto sentido do mundo. Não duvido de que o mundo tenha sentido.
Deve ter mesmo muitos, inúmeros, pois em redor de mim as pessoas mais ilustres e sabedoras fazem cada
coisa que bem se vê haver um sentido do mundo peculiar a cada um.
Dizem que o mundo termina em fevereiro próximo. Ninguém fala em cometa, e é pena, porque eu gostaria
de tornar a ver um cometa, para verificar se a lembrança que conservo dessa imagem do céu é verdadeira ou
inventada pelo sono dos meus olhos naquela noite já muito antiga.
O mundo vai acabar, e certamente saberemos qual era o seu verdadeiro sentido. Se valeu a pena que
uns trabalhassem tanto e outros tão pouco. Por que fomos tão sinceros ou tão hipócritas, tão falsos ou tão leais.
Por que pensamos tanto em nós mesmos ou só nos outros. Por que fizemos voto de pobreza ou assaltamos os
cofres públicos – além dos particulares. Por que mentimos tanto, com palavras tão judiciosas. Tudo isso
saberemos e muito mais do que cabe enumerar numa crônica.
(“O fim do mundo”, por Cecília Meireles, com adaptações)
No primeiro parágrafo, no trecho “de modo que não me interessava nem o seu começo nem o seu fim”, a expressão “de modo que” carrega um sentido: