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Ano: 2013 Banca: FCC Órgão: MPE-AM Prova: FCC - 2013 - MPE-AM - Agente Técnico - Jurídico |
Q499200 Português
     Seria verdade que o homem, ao ser expulso do paraíso, sofreu como condenação ter de trabalhar? O trabalho é um castigo? Seria o ócio uma dádiva? Independentemente da necessidade de trabalhar para ganhar o sustento, muitas vezes enfrentando tarefas enfadonhas e repetitivas, impondo-se o deslocamento de casa até a fábrica ou o escritório, com horas de sacrifício dentro do metrô ou do ônibus, penso que o trabalho dá sentido à vida.
     Somos condenados a viver. Nascemos, e nas condições que se apresentam, devendo enfrentar a situação de filho de beltrano e de sicrana, rico ou pobre, brasileiro, suíço ou angolano. Viver é uma aventura que de plano enfrenta o barulho depois do confortável silêncio do útero materno. Inicia-se o percurso e cabe a cada qual afirmar sua individualidade.
     Cada qual se põe na vida diante desta empreitada: obter sua realização pessoal. Pela via do trabalho a pessoa marca sua individualidade, assinala sua passagem por esta vida, ocupa as horas do cotidiano visando a construir sua autoestima e a conquista importante do reconhecimento dos demais.
     O trabalho atua em duas frentes: permite, de um lado, que as pessoas se afirmem perante si mesmas, motivando a busca de realização, podendo trazer orgulho no sucesso ou dor diante de eventual fracasso; e, de outro lado, faz surgir entre os consorciados o reconhecimento de uma condição própria como sapateiro, mecânico, médico, professor, cozinheiro. Esse espaço na sociedade causa satisfação ou desilusão, se reconhecido como o melhor sapateiro do bairro ou o pior cozinheiro da região.
     Assim, fracassar na execução de uma profissão ou ofício é do jogo da vida. Mais frustrante mesmo é nem sequer entrar no jogo para fazer algo com sua cara, com seu jeito, da sua forma, esperando infantilmente contar com acontecimentos externos para conseguir preencher o vazio de uma existência sem rosto.
    Dois fenômenos da atual sociedade digital, na qual mais se mexem os dedos no iPhonedo que se ativam os neurônios, indicam uma falsa felicidade não derivada da efetivação de um projeto, mas sim de fatores marcadamente efêmeros, visivelmente enganosos: os relacionamentos pela rede Facebook e o culto às celebridades.
     A urgência hoje vivida de compartilhar imediatamente todos os acontecimentos (ouvir uma música, comprar uma roupa, deliciar-se com um vinho, trocar um olhar) retira a vivência da realidade do âmbito individual, pois o essencial é antes dividir com alguém o sucedido para receber imediatamente o assentimento elogioso do que sentir isoladamente o prazer do fato, transformando-se, dessa maneira, o mundo numa grande academia do elogio mútuo. A satisfação, então, vem de fora, pois algo só vale se outrem vier a curtir. Instala-se um novo cartesianismo: eu compartilho, logo, existo.
     Outra futilidade alienante domina os espíritos: a celebração das celebridades, os famosos, a mais perfeita criação artificial da mídia. Ídolos passageiros, sem conteúdo, apenas virtuais, povoam a fantasia. A existência perde consistência. Muitos são os espíritos empreendedores, porém, infelizmente, repetem-se hoje jovens para os quais a conquista árdua, a afirmação profissional deixa de ser importante para que eventuais fracassos não sejam sofridos, mas disfarçados, driblados pelo compartilhamento elogioso de momentos irrelevantes ou pelo consumismo desenfreado, que substitui o ser pelo possuir. A vida deixa de ter cor, passa em branco.


                                                     (Miguel Reale Júnior. O Estado de S. Paulo. A2, 6 de abril de 2013, com adaptações)

Considere as afirmativas seguintes a respeito do emprego de sinais de pontuação no texto.

I. As interrogações que aparecem no início do texto têm função meramente retórica, empregadas como recurso para a introdução do assunto a ser desenvolvido.

II. O trabalho atua em duas frentes: permite, de um lado, que as pessoas... (4 o parágrafo)

... de fatores marcadamente efêmeros, visivelmente enganosos: os relacionamentos pela rede Facebook e o culto às celebridades. (6 o parágrafo)

O emprego dos dois pontos introduz, em ambos os casos, segmentos de valor semelhante.

III. (ouvir uma música, comprar uma roupa, deliciar-se com um vinho, trocar um olhar) (7 o parágrafo)
O segmento entre parênteses constitui enumeração gradativa contraposta ao argumento apresentado.

IV. ... ou pelo consumismo desenfreado, que substitui o ser pelo possuir. (final do texto)
Retirada a vírgula, o período permanecerá correto, embora ocorra alteração de sentido.

Está correto o que se afirma APENAS em
Alternativas

Gabarito comentado

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A resposta correta para a questão é a alternativa A - I, II e IV.

Vamos analisar cada afirmativa para compreender por que esta é a alternativa correta:

I. As interrogações que aparecem no início do texto têm função meramente retórica, empregadas como recurso para a introdução do assunto a ser desenvolvido.

As perguntas iniciais do texto são usadas como recurso retórico. Elas não solicitam respostas diretas, mas introduzem a discussão sobre o papel do trabalho e do ócio na vida humana. Esse é um uso comum de interrogações para fazer o leitor refletir, preparando o terreno para o desenvolvimento do tema. Portanto, a afirmativa I está correta.

II. O emprego dos dois pontos introduz, em ambos os casos, segmentos de valor semelhante.

Nos trechos citados, os dois pontos são usados para introduzir explicações ou exemplificações que complementam a ideia anterior. No quarto parágrafo, os dois pontos introduzem a explicação sobre como o trabalho atua em duas frentes. No sexto parágrafo, eles introduzem os exemplos de fatores efêmeros que indicam uma falsa felicidade. Ambos os usos têm a função de esclarecer algo previamente mencionado, então a afirmativa II também está correta.

III. O segmento entre parênteses constitui enumeração gradativa contraposta ao argumento apresentado.

O trecho entre parênteses no sétimo parágrafo é uma enumeração, mas não é gradativa nem contraposta ao argumento. Ele enumera exemplos de atividades cotidianas que as pessoas compartilham nas redes sociais. A função dos parênteses aqui é apenas listar exemplos, e não oferecer um contraponto. Por isso, a afirmativa III está incorreta.

IV. Retirada a vírgula, o período permanecerá correto, embora ocorra alteração de sentido.

A vírgula no trecho citado separa duas orações: uma principal e uma subordinada adjetiva explicativa. Se a vírgula for removida, a oração "que substitui o ser pelo possuir" passará a ser uma oração restritiva, alterando o sentido original ao especificar que apenas o "consumismo desenfreado" mencionado tem essa característica. Assim, a afirmativa IV está correta, pois a retirada da vírgula altera o sentido, mas mantém a correção gramatical.

Portanto, a alternativa A - I, II e IV é a única que apresenta todas as afirmativas corretas.

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Comentários

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III - Na enumeração gradativa contraposta ao argumento apresentado, temos uma contradição a uma ideia anteriormente exposta. Podem ser expostas duas perspectivas diferentes a respeito de um mesmo argumento, denotando um contraste de opiniões. Estabelecendo uma resposta contrária ao argumento. Dessa forma, ao invés de expor ideias contra determinado assunto, pode-se formar outros argumentos para ele. Para o tema ser contra argumentado precisa ser não factual.

Gabarito: A

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