Em “A escrita se diferencia de outras formas de representaçã...
Estamos tão acostumados a ler e escrever na nossa vida diária, que não percebemos que nem todos leem e escrevem como nós, mesmo os que vivem bem próximo. Em muitas famílias de classe social baixa, escrever pode se restringir apenas a assinar o próprio nome ou, no máximo, a redigir listas de palavras e recados curtos. Para quem vive nesse mundo, escrever como a escola propõe pode ser estranhíssimo, indesejável, inútil. Porém, os que vivem num meio social onde se leem jornais, revistas, livros, onde os adultos escrevem frequentemente e as crianças, desde muito cedo, têm seu estojo cheio de lápis, canetas, borrachas, régua etc. acham muito natural o que a escola faz, porque, na verdade, representa uma continuação do que já faziam e esperavam que a escola fizesse. Portanto, alfabetizar grupos sociais que encaram a comunicação como uma simples garantia de sobrevivência na sociedade é diferente de alfabetizar grupos sociais que acham que a escrita e fala, além de necessária, é uma forma de expressão individual de arte, de passatempo. [...]
Ninguém escreve ou lê sem motivo, sem motivação. É justamente por isso que, em certas culturas, o uso da escrita se apresenta como algo secundário e dispensável mesmo e, em outras, como absolutamente imprescindível. Essa atitude perante a escrita não se observa só comparando, por exemplo, a cultura europeia com a cultura de tribos indígenas. Atitudes conflitantes com relação à escrita se podem observar numa grande cidade. Entre seus habitantes, sem dúvida alguma, todos necessitam de um modo ou de outro saber ler certas coisas, mas o número cai enormemente quando se conta quem necessita produzir a escrita na proporção do que lê. Muitas pessoas podem até ler jornal todos os dias, mas escrevem raramente.
Não basta saber escrever, para escrever. É preciso ter uma motivação para isso. Grande parte da população das cidades trabalha em serviços que não exigem a escrita. Por isso, os programas de alfabetização – sobretudo de adultos – precisam ser elaborados não em função de uma cultura julgada ideal e excelente para todos, mas de acordo com as reais necessidades e anseios de cada um. A arte literária não é motivação para a escrita para todas as pessoas [...].
A escrita se diferencia de outras formas de representação do mundo, não só porque induz à leitura, mas também porque essa leitura é motivada, isto é, quem escreve, diferentemente por exemplo de quem desenha, pede ao leitor que interprete o que está escrito, não pelo puro prazer de fazê‐lo, mas para realizar algo que a escrita indica. [...]
A motivação da escrita é sua própria razão de ser; a decifração constitui apenas um aspecto mecânico de seu funcionamento. Assim, a leitura não pode ser só decifração; deve, através da decifração, chegar à motivação do que está escrito, ao seu conteúdo semântico e pragmático completo. Por isso é que a leitura não se reduz à somatória dos significados individuais dos símbolos (letras, palavras etc.), mas obriga o leitor a enquadrar todos esses elementos no universo cultural, social, histórico etc. em que o escritor se baseou para escrever.
(CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e linguística. 11. Ed. São Paulo: Scipione, 2010.)
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Alternativa correta: C - Acréscimo
A questão aborda o uso de uma expressão específica – “mas também” – em um trecho do texto. O objetivo é que o aluno identifique o efeito de sentido produzido por essa expressão. Para responder corretamente, é necessário compreender o funcionamento das conjunções na construção do sentido de uma frase.
A expressão “mas também” tem como função principal adicionar uma informação àquela que já foi apresentada. Nesse caso, a frase diz que a escrita se diferencia de outras formas de representação do mundo não só porque induz à leitura, mas também porque essa leitura é motivada. Ou seja, algo a mais está sendo acrescentado à ideia inicial. Portanto, a alternativa correta é acréscimo.
Vamos analisar agora as alternativas incorretas:
A - Oposição: A oposição é marcada por conjunções como “mas”, “porém”, “contudo”, “todavia”, “entretanto”, entre outras. Elas indicam uma contradição ou contraste entre as ideias. No trecho destacado, porém, não há contraste, mas sim um acréscimo de informação.
B - Explicação: A explicação é introduzida por conjunções como “porque”, “pois”, “que”, “porquanto”, etc. Elas têm a função de esclarecer ou justificar uma declaração anterior. No caso da expressão “mas também”, não há intenção de explicar a primeira parte da frase, mas sim de adicionar mais um motivo.
D - Equivalência: A equivalência sugere que duas ideias são praticamente iguais em valor ou significado. Conjunções como “isto é”, “ou seja”, “em outras palavras” são usadas para isso. No trecho analisado, não se está dizendo que a leitura motivada é equivalente à indução à leitura; está-se adicionando uma nova informação.
Por fim, a alternativa correta é C - Acréscimo, pois “mas também” está adicionando uma nova ideia àquela que já foi apresentada, ampliando o sentido da frase.
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Comentários
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GABARITO: LETRA C
? ?A escrita se diferencia de outras formas de representação do mundo, não só porque induz à leitura, mas também porque essa leitura é motivada [...]?
? não só... mas também (temos uma correlação que forma uma conjunção coordenativa aditiva; soma de ideias; adição de ideias).
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? FORÇA, GUERREIROS(AS)!!
A questão é sobre conjunções e quer saber o sentido de "mas também em “A escrita se diferencia de outras formas de representação do mundo, não só porque induz à leitura, mas também porque essa leitura é motivada [...]”. Vejamos:
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Conjunções coordenativas são as que ligam termos ou orações de mesmo valor. As conjunções coordenativas podem ser: aditivas, adversativas, alternativas, conclusivas e explicativas.
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A) Oposição.
Conjunções coordenativas adversativas: têm valor semântico de oposição, contraste, adversidade, ressalva...
São elas: mas, porém, entretanto, todavia, contudo, no entanto, não obstante, inobstante, senão (= mas sim)...
Ex.: Não estudou muito, mas passou nas provas.
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B) Explicação.
Conjunções coordenativas explicativas: têm valor semântico de explicação, justificativa, motivo, razão...
São elas: porque, pois (antes do verbo), porquanto, que...
Ex.: Vamos indo, porque já é tarde.
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C) Acréscimo.
Conjunções coordenativas aditivas: têm valor semântico de adição, soma, acréscimo...
São elas: e, nem (e não), não só... mas também, mas ainda, como também, ademais, além disso, outrossim...
Ex.: Não só estudaram muito como também passaram no concurso.
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D) Equivalência.
Conjunções coordenativas alternativas: têm valor semântico de alternância, escolha, exclusão.
São elas: ou... ou, ora... ora, já.. já, seja... seja, quer... quer, não... nem...
Ex.: Ora estudava, ora trabalhava..
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Gabarito: Letra C
ainda,mas tanbém,e,tanbém,nem,nao só, como tanbém,bem como,depois de tanto,além disso ////---> aditivas..
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