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Ano: 2022 Banca: FGV Órgão: TJ-GO Prova: FGV - 2022 - TJ-GO - Juiz Leigo |
Q1951253 Português

Literatura e justiça


Clarice Lispector



Hoje, de repente, como num verdadeiro achado, minha tolerância para com os outros sobrou um pouco para mim também (por quanto tempo?). Aproveitei a crista da onda, para me pôr em dia com o perdão. Por exemplo, minha tolerância em relação a mim, como pessoa que escreve, é perdoar eu não saber como me aproximar de um modo “literário” (isto é, transformado na veemência da arte) da “coisa social”. Desde que me conheço o fato social teve em mim importância maior que qualquer outro: em Recife os mocambos foram a primeira verdade para mim. Muito antes de sentir “arte”, senti a beleza profunda da luta. Mas é que tenho um modo simplório de me aproximar do fato social: eu queria “fazer” alguma coisa, como se escrever não fosse fazer. O que não consigo é usar escrever para isso, ainda que a incapacidade me doa e me humilhe. O problema de justiça é em mim um sentimento tão óbvio e tão básico que não consigo me surpreender com ele – e, sem me surpreender, não consigo escrever. E também porque para mim escrever é procurar. O sentimento de justiça nunca foi procura em mim, nunca chegou a ser descoberta, e o que me espanta é que ele não seja igualmente óbvio em todos. Tenho consciência de estar simplificando primariamente o problema. Mas, por tolerância hoje para comigo, não estou me envergonhando totalmente de não contribuir para algo humano e social por meio do escrever. É que não se trata de querer, é questão de não poder. Do que me envergonho, sim, é de não “fazer”, de não contribuir com ações. (Se bem que a luta pela justiça leva à política, e eu ignorantemente me perderia nos meandros dela.) Disso me envergonharei sempre. E nem sequer pretendo me penitenciar. Não quero, por meios indiretos e escusos, conseguir de mim a minha absolvição. Disso quero continuar envergonhada. Mas, de escrever o que escrevo, não me envergonho: sinto que, se eu me envergonhasse, estaria pecando por orgulho.

O texto que serve de base para as questões desta prova mostra um desabafo pessoal da autora; o segmento abaixo que se insere no mundo objetivo e NÃO no subjetivo, é:
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Comentários

Veja os comentários dos nossos alunos

Excerto que trata do mundo objetivo e NÃO no subjetivo, é:

A - Falso

Mas, por tolerância hoje para comigo, não estou me envergonhando totalmente de não contribuir para algo humano e social por meio do escrever; A autora fala sobre si

B - Falso

É que não se trata de querer, é questão de não poder; Ao falar de seu querer, autora fala sobre si

C - Falso

Do que me envergonho, sim, é de não “fazer”, de não contribuir com ações; A autora fala sobre si

D - Verdadeiro

Se bem que a luta pela justiça leva à política; Não se encontra subjetividade da autora, mas uma constatação objetiva.

E- Falso

Disso me envergonharei sempre. ; A autora fala sobre si

subjetivo é se tratando dela. algo objetivo é o que de fato acontece se for ''fazer'' ou ''praticar''

Dizendo adeus a ti INSS, fica pra próxima, infelizmente, não dá pra vencer a FGV não.

FGV, sempre destruindo minhas estatísticas :)

Não concordo com o gabarito, mas ok, devemos vencer a banca, não ficar contra ela. mundo subjetivo é um mundo que depende grandemente da interpretação particular de cada um ou seja, não existe por exemplo o melhor gosto de comida, e sim, subjetivamente, cada um tem o seu sabor preferido de comida.

Para mim, quando ela fala que a luta leva à justiça, isso é uma opinião dela, tanto que a luta está no aspecto figurado e não literal, é um momento de divagação.

Para mim a questão tinha que ser anulada.

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