Pela eficácia contra nocautes eletrônicos (1), recentemente...
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Nocaute tecnológico
Abro o freezer e vasculho até capturar uma lasanha. Devorado pela fome, seria capaz de comê-la tal como está, fingindo ser sorvete. Mas ainda não cheguei a esse estado de selvageria. Com um nó no estômago, disponho-me a enfrentar meu novo micro-ondas. Provavelmente é mais fácil pilotar um avião. Possui um painel cheio de opções. Determina como descongelar carne, frango ou peixe. De massas, nenhuma indicação. Minto e, ao tocar as teclas digitais, finjo que não é lasanha, mas peixe. Irredutível, o aparelho marca o tempo que considera adequado. No final, sou constrangido a jantar pedaços de massa ferventes misturados com cubos de gelo.
Meu sonho é o aparelho capaz de fazer uma única coisa, com um único botão. De fato, a tecnologia ainda não resolveu alguns dilemas mais simples do ser humano. Não conheço nenhuma máquina de descascar batatas realmente efetiva. Ou que nos livre das panelas engorduradas. Merece medalha olímpica o sujeito capaz de usar a agenda do celular sem perder nenhum telefone. O mesmo vale para as agendas eletrônicas de bolso. A minha é seletiva: andou perdendo certos endereços repletos de esperanças amorosas. Que raiva! Diante de tantos comandos, utilidades e possibilidades, tenho a sensação de que comprei um jatinho quando só queria uma bicicleta.
Recordo o amigo que recomenda uma agenda de bolso, pequena, prática, barata e à prova de qualquer distúrbio eletrônico. Trata-se do velho e bom caderninho de telefones, acompanhado de uma caneta. É isso aí, e estamos conversados!
(Walcyr Carrasco. VEJA SP, 11.09.1996. Adaptado)