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TEXTO (Interpretação de Texto)
Amazônia Centro do Mundo
Encontro histórico reúne, neste momento, líderes da
floresta, ativistas climáticos internacionais,
cientistas do clima e da Terra e alguns dos melhores
pensadores do Brasil
Neste momento, na Terra do Meio, coração da maior
floresta tropical do planeta, uma formação humana
inédita está reunida para criar uma aliança pela
Amazônia. É um encontro de diferentes em torno de
uma ideia comum: barrar a destruição da floresta e
dos povos da floresta, hoje devorada por predadores
de toda ordem. Entre eles, as grandes corporações de
mineração e o agronegócio insustentável. É também
um encontro para salvar a nós mesmos e as outras
espécies, estas que condenamos ao nos tornarmos
uma força de destruição. Nesta luta, devemos ser
liderados pelos povos da floresta – os indígenas,
beiradeiros e quilombolas que mantêm a Amazônia
ainda viva e em pé. Este é um encontro de
descolonização. Por isso, não um encontro na
Europa nem um encontro nas capitais do Sudeste do
Brasil. Deslocar o que é centro e o que é periferia é
imperativo para criar futuro. Na época em que nossa
espécie vive a emergência climática, o maior desafio de nossa trajetória, a
Amazônia é o centro do mundo. É em torno dela que
nós, os que queremos viver e fazer viver, precisamos
atravessar muros e superar barreiras para criar um
comum global. [...]
Todas estas pessoas deixaram suas casas e seus
países convidadas por mim, pelo Instituto
Ibirapitanga, pelo Instituto Socioambiental e pela
Associação dos Moradores da Reserva Extrativista
Rio Iriri. Algumas viajaram semanas num barco à
vela, para conhecer de forma profunda, com seu
corpo no corpo do território, a floresta e os povos da
floresta. É instinto de sobrevivência o que as move,
mas é também amor. É movimento de vida numa
geopolítica que impõe a morte da maioria para o
benefício e os lucros da minoria que controla o
planeta. É uma pequena grande COP da Floresta
criada a partir das bases. Aqui, não há cúpula. [...]
No encontro Amazônia Centro do Mundo haverá
população da cidade e da floresta. E também os
produtores rurais que colocam alimento na mesa da
população, aqueles que respeitam os povos
tradicionais e atuam preservando a Amazônia,
porque sabem que dela depende o seu sustento.
Sabemos que há fazendeiros que destroem a floresta,
mas também sabemos que há agricultores que a respeitam e têm mudado suas práticas para
responder aos desafios do colapso climático que
atingirá a todos, produtores que respeitam a lei e a
democracia e que também querem viver em paz.
Pessoas que perceberam que precisam não apenas
parar de desmatar, mas reflorestar a floresta.
O fim do mundo não é um fim. É um meio. É o que
os povos indígenas nos mostram em sua resistência
de mais de 500 anos à força de destruição promovida
pelos não indígenas. À tentativa de extermínio
completo, seja pela bala, seja pela assimilação. Hoje,
meio milênio depois da barbárie produzida pelos
europeus, as populações indígenas não apenas não se
deixaram engolir como aumentam. E erguem, mais
uma vez, suas vozes para denunciar que os brancos
quebraram todos os limites e constroem rapidamente
um apocalipse que, desta vez, atinge também os
colonizadores: a maior floresta tropical do mundo
está perto de alcançar o ponto de não retorno. Dizem
isso muito antes do que qualquer cientista do clima.
Alguns de seus ancestrais plantaram essa floresta.
Eles sabem.
Como Raoni tem repetido há décadas: “Se continuar
com as queimadas, o vento vai aumentar, o sol vai
ficar muito quente, a Terra também. Todos nós, não
só os indígenas, vamos ficar sem respirar. Se
destruir a floresta, todos nós vamos silenciar”.
Os humanos, estes que sempre temeram a catástrofe
na larga noite do mundo, tornaram-se a catástrofe
que temiam. Alteraram o clima do planeta.
Ameaçaram a sobrevivência da própria espécie na
única casa que dispõem. Mas não todos os humanos.
Uma minoria dos humanos, abrigada nos países
desenvolvidos demais, consumiu o planeta. As
consequências, porém, já são sentidas pelas maiorias
pobres e pelos povos que não cabem nas categorias
de rico e de pobre impostas pelo capitalismo. [...]
BRUM, Eliane. El País. Disponível em: <encurtador.com.br/BHTVI>. Acesso em: 16 nov. 2019.
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