Considere o trecho “Eu tive pena foi de sair de casa calçado e, além disso, com 30 anos de idade mais do que o conveniente.” (3º§).
Dele, é correto depreender que o autor:

Question

Chuva

Houve um prefeito, paisano e sem imaginação, que resolveu acabar com as inundações do Rio. Foi o engenheiro João Carlos Vital, cujo breve reinado se perde, na série imensa dos prefeitos, entre um calvo general atrabiliário que construiu o Maracanã e um bravo coronel do P.T.B. que ali recebeu a mais estrondosa das manifestações.

Vital foi um Frontin às avessas, e conseguiu livrar o Rio do excesso de água com esta providência original: mandou desentupir os bueiros. Nunca ninguém se lembrara disso antes; e depois, como se viu no dia de ontem, nunca ninguém voltou a se lembrar. Tivemos ruas, praças e amplas avenidas transformadas em córregos, lagoas e rios. Foi a bela resposta do coronel à populaça que no estádio lhe gritava: água, água! “Pois tomem água”! – Disse ele.

Eu tive pena foi de sair de casa calçado e, além disso, com 30 anos de idade mais do que o conveniente. Descalço e menino, faria o que os meninos descalços eu vi fazendo: entraria na enchente, patinaria na lama, soltaria na esquina meus barcos de papel, e me divertiria imenso com a aflição da gente grande a empilhar trastes e móveis no andar térreo e a buzinar nervosamente atrás de um carro de capota levantada e distribuidor enlameado.

A infância pobre do Rio, sempre esquecida, teve ontem um lindo dia de folga e festa: desculpa para não ir à escola e divertimentos animados na grande alegria das enxurradas.

Quando a infância ri, Deus está contente. O telhado de minha mansarda amanheceu limpinho, e as árvores da rua engordaram de verde, pingando alegria, muito gratas ao senhor prefeito. Os chauffeurs de táxi tungaram alegremente seus passageiros; não é à toa que esses marotos gostam de ter, no quadro do carro, a imagem de São Cristóvão carregando o menino Jesus no ombro durante uma enchente.

Salve, portanto, a chuva, amiga das crianças, da lavoura e dos motoristas. Cheguei em casa de pés molhados, mas um gole de pisco, lembrança do Peru, me esquentou os pés e a alma. Para dizer a verdade, foi um gole para os pés e outro para a alma; e para dizer toda a verdade, houve mais um de lambuja. Haja pisco; motivos para beber não hão de faltar neste país sempre desgovernado e às vezes, graças a Deus, chuvoso.

(BRAGA, Rubem. Dois pinheiros e o mar: e outras crônicas sobre meio ambiente. Brasil, Global Editora, 2017.) Considere o trecho “Eu tive pena foi de sair de casa calçado e, além disso, com 30 anos de idade mais do que o conveniente.” (3º§).
Dele, é correto depreender que o autor:  Alternativa A: Não queria sair descalço, pois não gostava da chuva. Ou Alternativa B: Não queria sair descalço, pois não queria se molhar. Ou Alternativa C: Queria sair descalço, mas se sentiu muito velho para isso. Ou Alternativa D: Queria sair descalço, mas se sentiu muito jovem para isso.

Qconcursos · Accepted Answer

Alternativa [C] Queria sair descalço, mas se sentiu muito velho para isso. Interpretação do Texto:

A questão aborda a interpretação de um trecho da crônica de Rubem Braga, onde o autor expressa uma sensação de saudade e reflexão sobre a infância e a chuva. Para responder corretamente, é importante analisar o contexto e as emoções transmitidas no texto.

Alternativa Correta:

A alternativa C é a correta porque o autor menciona que “tive pena foi de sair de casa calçado e, além disso, com 30 anos de idade mais do que o conveniente”. Isso indica que ele desejava voltar a ser criança, quando poderia sair descalço e brincar na chuva, mas se sentia muito velho para isso. A expressão “30 anos de idade mais do que o conveniente” sugere um sentimento de nostalgia e a percepção de que a juventude permite brincadeiras e liberdade que a idade adulta não proporciona.

Análise das Alternativas Incorretas:

A alternativa A está incorreta porque não se trata de uma aversão à chuva, mas sim de uma vontade de reviver momentos da infância.

A alternativa B também é errada, pois o foco não está em não querer se molhar, mas em uma reflexão sobre a idade e as limitações que ela traz.

A alternativa D é incorreta, pois o autor não expressa um desejo de se sentir jovem, mas sim uma frustração por já não ser mais uma criança que poderia aproveitar a chuva de forma despreocupada.

Portanto, a análise do trecho e a compreensão das emoções e sentimentos do autor são fundamentais para chegar à alternativa correta, que reflete a essência do texto.

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