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Q2089492 Português

O ciclo da vida


    Recorro à minha profissão de tradutora, que exerci intensamente por longo tempo, para apresentar aqui versos da poetisa americana Edna St. Vincent Millay, falecida, sobre a morte: “Não me resigno quando depositam corações amorosos na terra dura. É assim, assim será para sempre: entram na escuridão os sábios e os encantadores. Coroados de lírios e louros, lá se vão: mas eu não me conformo. Na treva da tumba lá se vão, com seu olhar sincero, o riso, o amor; vão docemente os belos, os ternos, os bondosos; vão‐se tranquilamente os inteligentes, os engraçados, os bravos. Eu sei. Mas não aprovo. E não me conformo”.

    Conformados ou não, a morte é algo que precisaríamos aceitar, com mais ou menos dor, mais ou menos resistência, mais ou menos inconformidade. E esse processo, mais ou menos demorado, mais ou menos cruel, depende da estrutura emocional e das crenças de cada um.

     O ciclo da vida e morte é um duro aprendizado. Nós, maus alunos.

    Não escrevo sobre o tema pela morte de um ou outro, em acidentes, por doença dolorosa, ou mesmo dormindo, morte abençoada. Morrem mais pessoas aqui de morte violenta do que em guerras atuais. A banalização da morte, portanto a desvalorização da vida, é espantosa. Escrevo porque ela, a senhora Morte, é cotidiana e estranha, ao menos para a maioria de nós. Há alguns anos, menininha ainda, uma de minhas netas me perguntou com a perturbadora simplicidade das crianças: “Por que eu não tenho vovô?”. Respondi, como costumo, da maneira mais natural possível, que o vovô tinha morrido antes de ela nascer, que estava em outro lugar, e, acreditava eu, ainda sabendo da gente, sempre cuidando de nós – também dela. Continuei dizendo que a vida das pessoas é como a das plantas e dos animais. Nascem, crescem, umas morrem muito cedo, outras ficam bem velhinhas, umas morrem por acidente, ou doença, ou simplesmente se acabam como uma vela se apaga.

    Falar é fácil, eu dizia a mim mesma enquanto comentava isso com a criança. O drama da vida não se encerra com o baque da morte, mas começa, nesse instante outra grande indagação.

    Recordo a frase, atribuída a Sócrates na hora em que bebia cicuta, condenado pelos cidadãos de Atenas a se matar: “Se a morte for um sono sem sonhos, será bom; se for um reencontro com pessoas que amei e se foram, será bom também. Então, não se desesperem tanto”. Precisamos de tempo para integrar a morte na vida. Talvez os mortos vivam enquanto lembrarmos suas ações, seu rosto, a voz, o gesto, a risada, a melancolia, os belos momentos e os difíceis. Enquanto eles se repetirem no milagre genético, em filhos, e netos, ou se perpetuarem em fotografias e filmes. Enquanto alguém os retiver no pensamento, os mortos estarão de certa forma vivos? Porque morrer é natural, deveria ser simples: mas para quase todos nós, é um grande e grave enigma.

(Lya Luft. Revista Veja. Em: agosto de 2014. Adaptado.)

Sem prejuízo da coerência textual, as palavras destacadas podem ser substituídas pelo termo sugerido, EXCETO: 
Alternativas

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A questão é de sinônimos e quer saber em qual das alternativas abaixo NÃO podemos substituir a palavra destacada pelo termo sugerido. Vejamos:



A) “Não me resigno quando depositam corações amorosos na terra dura." (1º§) – conformo 

ERRADO. Podemos substituir “resigno"" por “conformo", sem nenhum problema.

Resignar: conformar-se pacientemente, sem se revoltar.



B) “[...] com mais ou menos dor, mais ou menos resistência, mais ou menos inconformidade." (2º§) – força

ERRADO. Podemos substituir “resistência"" por “força", sem nenhum problema.

Resistência: força que se opõe ao movimento de um corpo que se desloca.



C) “O drama da vida não se encerra com o baque da morte, [...]" (5º§) – aparecimento 

CERTO. NÃO podemos substituir “baque" por “aparecimento", por haver mudança de sentido.

Baque: choque, abalo, emoção forte.



D) “Recordo a frase, atribuída a Sócrates na hora em que bebia cicuta, [...]" (6º§) – veneno

ERRADO. Podemos substituir “cicuta"" por “veneno", sem nenhum problema.

Cicuta: suco muito venenoso extraído de algumas plantas.



Gabarito: Letra C

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Comentários

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Resistência = Força?

FGV, é você?

Baque

Desastre ou ruína súbita.

Fonte: Dicio

GAB. C

O sinônimo para a palavra "baque" seria ruína e não é substituível pela palavra aparecimento, a qual o sinômino mais evidente seria "surgimento".

Quem treina sabe que força e resistência são coisas totalmente distintas. que loucura!

Resistência:

1.ato ou efeito de resistir.

2.qualidade do que é resistente.

3.força com que um corpo reage contra a ação de outro.

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