No período “Enquanto alguém os retiver no pensamento, os mo...

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Q2089495 Português

O ciclo da vida


    Recorro à minha profissão de tradutora, que exerci intensamente por longo tempo, para apresentar aqui versos da poetisa americana Edna St. Vincent Millay, falecida, sobre a morte: “Não me resigno quando depositam corações amorosos na terra dura. É assim, assim será para sempre: entram na escuridão os sábios e os encantadores. Coroados de lírios e louros, lá se vão: mas eu não me conformo. Na treva da tumba lá se vão, com seu olhar sincero, o riso, o amor; vão docemente os belos, os ternos, os bondosos; vão‐se tranquilamente os inteligentes, os engraçados, os bravos. Eu sei. Mas não aprovo. E não me conformo”.

    Conformados ou não, a morte é algo que precisaríamos aceitar, com mais ou menos dor, mais ou menos resistência, mais ou menos inconformidade. E esse processo, mais ou menos demorado, mais ou menos cruel, depende da estrutura emocional e das crenças de cada um.

     O ciclo da vida e morte é um duro aprendizado. Nós, maus alunos.

    Não escrevo sobre o tema pela morte de um ou outro, em acidentes, por doença dolorosa, ou mesmo dormindo, morte abençoada. Morrem mais pessoas aqui de morte violenta do que em guerras atuais. A banalização da morte, portanto a desvalorização da vida, é espantosa. Escrevo porque ela, a senhora Morte, é cotidiana e estranha, ao menos para a maioria de nós. Há alguns anos, menininha ainda, uma de minhas netas me perguntou com a perturbadora simplicidade das crianças: “Por que eu não tenho vovô?”. Respondi, como costumo, da maneira mais natural possível, que o vovô tinha morrido antes de ela nascer, que estava em outro lugar, e, acreditava eu, ainda sabendo da gente, sempre cuidando de nós – também dela. Continuei dizendo que a vida das pessoas é como a das plantas e dos animais. Nascem, crescem, umas morrem muito cedo, outras ficam bem velhinhas, umas morrem por acidente, ou doença, ou simplesmente se acabam como uma vela se apaga.

    Falar é fácil, eu dizia a mim mesma enquanto comentava isso com a criança. O drama da vida não se encerra com o baque da morte, mas começa, nesse instante outra grande indagação.

    Recordo a frase, atribuída a Sócrates na hora em que bebia cicuta, condenado pelos cidadãos de Atenas a se matar: “Se a morte for um sono sem sonhos, será bom; se for um reencontro com pessoas que amei e se foram, será bom também. Então, não se desesperem tanto”. Precisamos de tempo para integrar a morte na vida. Talvez os mortos vivam enquanto lembrarmos suas ações, seu rosto, a voz, o gesto, a risada, a melancolia, os belos momentos e os difíceis. Enquanto eles se repetirem no milagre genético, em filhos, e netos, ou se perpetuarem em fotografias e filmes. Enquanto alguém os retiver no pensamento, os mortos estarão de certa forma vivos? Porque morrer é natural, deveria ser simples: mas para quase todos nós, é um grande e grave enigma.

(Lya Luft. Revista Veja. Em: agosto de 2014. Adaptado.)

No período Enquanto alguém os retiver no pensamento, os mortos estarão de certa forma vivos?” (6º§), a coerência textual seria prejudicada caso a expressão em destaque fosse substituída por
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A questão é de conjunções e quer saber por qual das conjunções abaixo NÃO podemos substituir a conjunção “enquanto" em “Enquanto alguém os retiver no pensamento, os mortos estarão de certa forma vivos?" (6º§). Vejamos:
 

Conjunções subordinativas temporais: têm valor semântico de tempo, relação cronológica...
São elas: logo que, quando, enquanto, até que, antes que, depois que, desde que, desde quando, assim que, sempre que...
Ex.: Enquanto todos saíam, eu estudava.


A) quando. 
ERRADO. “Quando", assim como “enquanto", é conjunção subordinativa temporal.



B) logo que.
ERRADO. “Logo que", assim como “enquanto", é conjunção subordinativa temporal.



C) apesar de.
ERRADO. “Apesar de" é conjunção subordinativa concessiva, mas de acordo com essa a banca, é possível substituir "enquanto" por "apesar de".

 
D) à medida que.
CERTO. “À medida que", diferentemente de “enquanto", é conjunção subordinativa proporcional.

Conjunções subordinativas proporcionais: têm valor semântico de proporcionalidade, simultaneidade, concomitância...

São elas: à medida que, à proporção que, ao passo que, quanto mais (ou menos)... mais/menos, tanto mais (ou menos)... mais/menos...

Ex.: À medida que resolvia questões, aprendia o assunto das provas.


Gabarito: Letra D


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Comentários

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Não entende,foi prejudicada????

Quando não é temporal.

A expressão "Enquanto alguém os retiver no pensamento" indica uma condição que é necessária para que "os mortos estarão de certa forma vivos". Portanto, qualquer expressão que não expresse essa mesma condição pode prejudicar a coerência textual.

Opção A - "quando" não indica uma condição necessária, mas sim um momento específico, o que não mantém a coerência textual.

Opção B - "logo que" indica uma ação que ocorre imediatamente após outra, o que também não mantém a coerência textual.

Opção C - "apesar de" indica uma concessão, ou seja, que algo ocorre mesmo que outra coisa esteja presente, o que não faz sentido no contexto.

Opção D - "à medida que" indica uma relação de proporção ou de grau, o que não mantém a coerência textual.

Portanto, nenhuma das opções apresentadas pode substituir a expressão em destaque sem prejudicar a coerência textual.

São temporais as expressões: Quando, enquanto, assim que, logo que, desde que, até que, mal, depois que, antes que, sempre que. A única que poderia ser trocada seria ''Quando''

LETRA A

Não entendi a resposta.

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