Os pais
perderam a intimidade com as
crianças. Esse
e outros efeitos da terceirização da
educação e dos
cuidados de saúde
[...]Todos os dias as mulheres provam que
são capazes de
se dividir em muitas. Elas conciliam casa,
trabalho, filhos,
estudos, beleza com notável habilidade. O
segredo é não
almejar a perfeição.
Administro a vida como o
equilibrista de
pratos
daqueles circos antigos. O importante não
é manter cada
prato girando perfeitamente. O importante
é acudir cada um
no momento certo para evitar que eles
caiam.
Quando o
bebê nasce, toda profissional
vive o dilema
do retorno ao trabalho. E, antes disso,
vive o dilema da
terceirização dos cuidados. O que é
melhor? Deixar a
criança na creche, com uma babá ou com a
avó?
Todas as
possibilidades têm prós e
contras.
A escolha depende da estrutura familiar e
do
orçamento do casal. O importante, em todas
as opções, é não exagerar na
terceirização.
Minha filha teve babá. Creches que
funcionam em horário
comercial não são uma alternativa para
jornalistas.
Trabalhamos em horários irregulares,
frequentemente à
noite e de madrugada.
Nossa saída foi criar um
sistema de
semiterceirização.
A babá não dormia no trabalho e folgava
todos os sábados,
domingos e feriados.
Eu e meu marido fazíamos um
revezamento.
Um
dos dois chegava em casa a tempo de
substituir a babá
quando a jornada diária dela terminava. Em
boa parte
das manhãs e nos finais de semana, nossa
filha era só
nossa. Nunca a babá nos acompanhou ao
pediatra, ao
supermercado, ao restaurante, ao hotel, ao
teatrinho infantil.
Pudemos acompanhar o desenvolvimento do
paladar. Com
alegria, levávamos a Bia para conhecer
frutas e legumes no
hortifrutti ou na feira. Apresentamos
sabores e texturas e hoje
nos orgulhamos de ver as escolhas que ela
é capaz de fazer.
Aos sábados ou domingos, eu preparava
cardápios para a
semana inteira e comprava os ingredientes.
Faço isso até
hoje. Facilita a vida, evita desperdício e
nos dá a certeza de
comer bem durante a semana toda, mesmo que
o preparo
das refeições seja terceirizado.
Os pais
precisam reassumir seu papel na
educação
alimentar. Durante a entrevista, Becker
mencionou
contradições comuns. “Os pais se preocupam
com
vento encanado e pés no chão frio, mas
oferecem
aos filhos lixo tóxico para eles comerem”,
afirma.
Ao ouvir isso, me lembrei de outra
historinha. Quando
minha filha ainda estava na fase da
papinha e decidíamos
viajar de férias, a alimentação era um
desafio. A babá
preparava as sopinhas da semana em casa,
congelávamos
em diferentes potinhos e colocávamos numa
bolsa térmica.
No hotel, transferíamos tudo para o
freezer. Como eram
viagens curtas, sempre dava certo.
Um
dia fizemos uma viagem um pouco mais
longa, de
carro. Resolvi passar no supermercado e
comprar uma papinha
pronta, dessas industrializadas, para
oferecer a ela quando fizéssemos uma
parada num restaurante de beira de
estrada.
Planejei tudo direitinho. Só não contei
com o apurado
controle de qualidade da minha bebê. Tirei
a tampa do
produto e, na primeira colherada, ela
cuspiu a gororoba
longe. Fez uma careta horrível, como se eu
estivesse
oferecendo a ela alguma coisa imprópria
para consumo
humano.
Como
desprezar essa sabedoria? Foi a
primeira e última
vez que uma papinha pronta entrou no nosso
carrinho de
supermercado.
Aprender a comer bem é um patrimônio
para
a vida
toda, mas os pais negligenciam esse
aprendizado. Acham
que isso não é importante ou que não é
função deles. Se
preocupam mais em comprar o último iPad
para os filhos
do que em saber se eles reconhecem uma
berinjela. Educar
é difícil. Ter filhos é conhecer a vida
selvagem. Precisamos
menos de manuais de instrução e mais de
bom senso.
Acertamos aqui, erramos ali. É preciso ter
serenidade para
aceitar isso.
Sou
mãe há quase 14 anos. Muita coisa vem
por aí.
O balanço geral, até agora, deixa a
família satisfeita. Não
terceirizamos além da conta. Não perdemos
o contato. Não
nos arrependemos.
Adaptado
de
http://epoca.globo.com/colunas-e-
blogs/cristiane-segatto/
noticia/2013/12/quem-e-bo-seu-
filhob.html
Em “Ao ouvir isso, me lembrei de outra historinha.”,
há uma inadequação gramatical quanto à