Há no poema de Drummond
Eu, etiqueta
Em minha calça está grudado um nome
Que não é meu de batismo ou de cartório
Um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
Que jamais pus na boca, nessa vida,
Em minha camiseta, a marca de cigarro
Que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produtos
Que nunca experimentei
Mas são comunicados a meus pés.
[...]
Desde a cabeça ao bico dos sapatos,
São mensagens,
Letras falantes,
Gritos visuais,
Ordens de uso, abuso, reincidências.
Costume, hábito, premência, Indispensabilidade,
E fazem de mim homem-anúncio itinerante,
Escravo da matéria anunciada.
[...]
Não sou − vê lá − anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
Para anunciar, para vender
[...]
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
De ser não eu, mas artigo industrial,
Peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é Coisa.
Eu sou a Coisa, coisamente.
(Carlos Drummond de Andrade. Corpo. Rio de Janeiro, Record, 1984)
Gabarito comentado
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Para resolver a questão sobre o poema "Eu, etiqueta" de Carlos Drummond de Andrade, é essencial focar na interpretação do texto. O poema aborda a relação do indivíduo com a publicidade e a sociedade de consumo, expressando uma crítica ao modo como as pessoas se tornam veículos de propaganda involuntários.
Alternativa Correta: D
A alternativa D é correta porque destaca a crítica à sociedade de consumo feita pelo eu lírico, que se sente transformado em um "homem-anúncio" ou "escravo da matéria anunciada". O poema expressa descontentamento com o fato de que o corpo humano está sendo utilizado para exibir marcas de produtos através das roupas e acessórios. Essa análise é confirmada por versos como "E fazem de mim homem-anúncio itinerante" e "Escravo da matéria anunciada", que mostram o incômodo do sujeito poético com essa situação.
Análise das Alternativas Incorretas:
- A - Esta alternativa está incorreta porque não há no poema um incentivo ao uso de frases de efeito em vestimentas. Pelo contrário, o poema critica essa prática, ao mostrar como as pessoas se transformam em veículos de propaganda.
- B - Embora o poema possa indiretamente questionar a preocupação excessiva com a aparência, não é essa a sua crítica central. A principal crítica é à transformação do indivíduo em portador de marcas e produtos, não à busca de bem-estar.
- C - A alternativa sugere uma opinião favorável sobre a criatividade das agências, o que contrasta com o tom crítico do poema. O texto não elogia a publicidade; em vez disso, critica seu impacto na individualidade das pessoas.
Para interpretar corretamente textos em questões de concurso, é importante identificar palavras-chave e analisar o tom e a intenção do autor. No poema, a repetição de termos como "escravo", "homem-anúncio" e "coisa" ajuda a captar a crítica subjacente à sociedade de consumo.
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