Eu sou a Coisa, coisamente. Considerando-se que coisamente ...
Eu, etiqueta
Em minha calça está grudado um nome
Que não é meu de batismo ou de cartório
Um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
Que jamais pus na boca, nessa vida,
Em minha camiseta, a marca de cigarro
Que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produtos
Que nunca experimentei
Mas são comunicados a meus pés.
[...]
Desde a cabeça ao bico dos sapatos,
São mensagens,
Letras falantes,
Gritos visuais,
Ordens de uso, abuso, reincidências.
Costume, hábito, premência, Indispensabilidade,
E fazem de mim homem-anúncio itinerante,
Escravo da matéria anunciada.
[...]
Não sou − vê lá − anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
Para anunciar, para vender
[...]
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
De ser não eu, mas artigo industrial,
Peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é Coisa.
Eu sou a Coisa, coisamente.
(Carlos Drummond de Andrade. Corpo. Rio de Janeiro, Record, 1984)
Eu sou a Coisa, coisamente.
Considerando-se que coisamente não existe no dicionário, é correto afirmar que
Gabarito comentado
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Para resolver essa questão, precisamos interpretar o poema de Carlos Drummond de Andrade e a função da palavra inventada "coisamente" dentro desse contexto. A questão aborda principalmente a interpretação de texto e a licença poética na literatura.
Alternativa C: Correta. A palavra "coisamente" é apropriada ao contexto poético do texto. No gênero literário, especialmente na poesia, há uma ampla liberdade criativa para o autor. Isso permite a invenção de palavras para transmitir sentimentos ou ideias que palavras comuns não expressariam com a mesma força. Neste caso, "coisamente" ressalta a ideia de que o sujeito se identifica com uma "coisa", reforçando o tema de desumanização e materialização presente no poema.
Alternativa A: Incorreta. A palavra "coisamente" não enfraquece o poema nem o torna inconcluso. Pelo contrário, ela sintetiza o sentimento de alienação e perda de identidade que o sujeito lírico expressa, dando um forte fechamento ao texto.
Alternativa B: Incorreta. A invenção de palavras no contexto poético não se trata de induzir o leitor ao erro, mas sim de explorar a riqueza expressiva da língua. A palavra criada serve para enriquecer a interpretação, não para confundir o leitor.
Alternativa D: Incorreta. A afirmação de que palavras novas são inapropriadas para a poesia está equivocada. A poesia é, de fato, um dos gêneros que mais permite a experimentação linguística. A possibilidade de criar e usar palavras novas é uma característica marcante desse gênero.
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