É correto afirmar que, nas três passagens em que há emprego...
Leia o texto, para responder à questão.
O valor da mentira
Durante o conclave de 1522, que terminaria por ungir
Adriano VI em papa, as estátuas no entorno da Piazza Navona, no centro de Roma, passaram a amanhecer com pequenos pedaços de papel pregados. Eram textos de autoria do
escritor e poeta Pietro Aretino (1492-1556), já então uma das
mais conhecidas “penas de aluguel” da Itália. Com seu estilo
satírico e mordaz, inteligente e ferino, Aretino dedicava-se a
atacar um por um dos cardeais que poderiam vir a ser o novo
pontífice. Os ataques eram financiados pelo cardeal Giulio
de Medici, que acabou se tornando o papa Clemente VII um
ano depois, com a morte de Adriano VI. A partir daí, o gênero
dos “panfletos difamatórios” ficou conhecido como “pasquim”.
Aretino transformou a difamação em negócio e fez fortuna
com os jornalecos.
Em 2016, as mentiras veiculadas com o objetivo de
beneficiar um indivíduo ou um grupo – ou simplesmente franquear ao seu disseminador o prazer de manipular multidões
– ganharam o nome de fake news. Aquele foi o ano em que
o mundo se surpreendeu com a vitória do Brexit no Reino
Unido e também o ano em que, nos Estados Unidos, as redes
sociais foram infestadas por textos que diziam que a então
candidata democrata, Hillary Clinton, havia enviado armas
para o Estado Islâmico, ou que o papa Francisco declarara
apoio ao rival dela, o hoje presidente Donald Trump.
Nas fake news não cabem relativismos nem discussões
filosóficas sobre o conceito de “verdade” – trata-se, pura e
simplesmente, de informações deliberadamente enganosas.
São lorotas destinadas a ludibriar os incautos, ou os nem tão
incautos assim, ávidos por pendurar seus argumentos em
fatos que não podem ser comprovados. O suposto desconhecimento de uns, aliado ao oportunismo de outros, ampliou
o significado da expressão de forma a adequá-lo a demandas
de ocasião. Em prática recém-inaugurada, a expressão fake
news passou a ser usada por poderosos para classificar tudo
o que a imprensa profissional publica a respeito deles e que
lhes desagrada – apesar de ser invariavelmente verdadeiro.
Ajuda no sucesso dessa estratégia maliciosa a popularidade
dos novos meios de comunicação nascidos com a internet.
(Anna Carolina Rodrigues, Veja, 26.10.2018. Adaptado)