Embora o texto 2 apresente uma linguagem predominantemente ...
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Ano: 2023
Banca:
FGV
Órgão:
DPE-RS
Provas:
FGV - 2023 - DPE-RS - Técnico - Apoio Especializado - Segurança do Trabalho
|
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FGV - 2023 - DPE-RS - Técnico - Apoio Especializado - Logística |
Q2225433
Português
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Texto 2
Cidade sã, mente sã?
Por Carlos Leite, Hermano Tavares e Paulo Saldiva
As cidades surgiram da necessidade de sobrevivência da espécie
humana. Em regiões onde o modo de vida de nossos
antepassados caçadores/coletores não era possível, tornou-se
imperioso obter alimentos por meio de técnicas agropecuárias. O
aumento da produção de nutrientes permitiu o crescimento e a
fixação da população humana em cidades.
[...]
Porém, junto com as aglomerações vieram o saneamento
precário e a proliferação de patógenos que trouxeram consigo o
adoecimento. Talvez seja válido dizer que Logos e Páthos
caminham de braços dados pelas ruas das cidades mundo afora.
[...]
Nesse contexto, a cidade é o resultado de uma complexa
interação entre governança, ambientes urbanos físicos, sociais e
econômicos, tendo como protagonista a biologia dos seus
habitantes. De fato, segmentos populacionais menos
privilegiados, que ocupam, em sua maioria, as periferias urbanas,
combinam um ambiente mais hostil (moradia precária, mau
saneamento, maior exposição à poluição do ar e risco de doenças
infecciosas) com mais comorbidades, deficiência nutricional,
menor acesso à informação, à educação e, sem dúvida, à saúde
em si – não apenas física como também mental. [...]
No Brasil, as doenças mentais são o terceiro maior conjunto de
morbidades a pesar na sociedade [...]. Um estudo epidemiológico
conduzido na região metropolitana de São Paulo mostra que
aproximadamente 40% da população urbana preencheu critérios
para ao menos um diagnóstico psiquiátrico ao longo da vida [...].
Exposição ao ambiente urbano e privação social foram associados
como fatores de risco para todas as condições mentais [...]
Nas favelas, outra questão que se impõe é a da violência urbana.
Um estudo epidemiológico sobre o tema mostrou elevada
exposição da população a eventos traumáticos (86%), dos quais
11% apresentariam risco para desenvolvimento de um transtorno
do estresse pós-traumático (TEPT), sendo que as mulheres teriam
um risco três vezes maior do que homens nesse aspecto. Chama
atenção no estudo, o fato de que 35% dos casos identificados de
TEPT foram desencadeados pela perda inesperada de um ente
querido e 40% devido à violência interpessoal.
Um outro estudo de natureza qualitativa soma a esse panorama,
já desolador, o elemento da coerção social. Em muitas dessas
comunidades, o poder do arbítrio e o uso da violência como
instrumento de controle social, funções atribuídas ao Estado, são
complementados – quando não completamente substituídos –
pelas sociedades dedicadas ao tráfico de drogas e o crime
organizado. [...] Em uma complementaridade pungente ao relato
mais técnico do levantamento epidemiológico, o estudo
qualitativo dá voz ao sofrimento principalmente de mães,
esposas e cuidadoras em geral [...]
Contudo, o ambiente urbano desafia a saúde mental para além
dos seus aspectos sociais, envolvendo questões físicas e materiais
como a poluição ambiental e sonora; o espraiamento das cidades
e a necessidade de longos períodos de deslocamento de casa
para o trabalho e vice-versa; e, ainda, a progressiva substituição
da paisagem natural pela chamada “selva de concreto”. No caso
dos longos deslocamentos diários casa-trabalho-casa, eles podem
ser agravados quando, por força da baixa remuneração, a
população mais vulnerável tem que assumir dois ou mais
empregos para garantir uma renda condizente. Isso se traduzirá
em mais horas de afastamento do domicílio, da família e dos
filhos, com maior sofrimento para mulheres e crianças. Os
pequenos, necessitados de uma presença parental mais efetiva,
crescerão no ambiente adverso, com pouca supervisão, disso
resultando, entre outros problemas, um reduzido
aproveitamento escolar, evasão e baixa qualificação –
perpetuando assim tal ciclo negativo. A evolução dos transtornos
mentais reforça a percepção da relevância do amparo à infância
como o meio mais efetivo de prevenção desses males. Metade
desses transtornos identificados em adultos tiveram seu início
antes dos 15 anos de idade – e a maioria começa antes dos
20 anos. [...]
[...]
Nesse sentido, os programas do urbanismo social podem ser
instrumento poderoso. [...] Consagrado em Medellín, [...] o
urbanismo social é um modelo que pode e deve ganhar maior
robustez nas cidades. Ou seja, urge otimizar as valiosas
metodologias do urbanismo social para além de seus focos
essenciais – urbanização do território, promoção de
infraestruturas urbanas, habitação social, equipamentos e
serviços públicos, mobilidade etc. [...] Sabe-se que não são
apenas as intervenções físicas que transformam o território, mas
o tecido social de confiança, com articulação comunitária
construída na vida coletiva e no exercício cidadão. Não à toa, o
sucesso de Medellín em grande parte se deve à promoção, desde
o início do processo, dos espaços públicos e dos grandes
equipamentos públicos onde a vida comunitária é valorizada.
[...]
Melhorar as condições de vida dos habitantes das favelas de
modo integral, considerando sempre os aspectos sociais coletivos
que impõem diversos tipos de sofrimentos mentais individuais, e
ampliar o direito à cidade é também promover o direito à saúde
mental. Assim, reciclando a célebre citação do poeta italiano
Juvenal, que no século I já pedia uma mente sã em um corpo são,
cabe-nos trabalhar para promover um ambiente são de modo
que mentes-corpos periféricos tenham mais condições de saúde.
Disponível em https://piaui.folha.uol.com.br/cidade-sa-mente-sa
Embora o texto 2 apresente uma linguagem predominantemente
objetiva, diversas passagens exibem marcas da subjetividade do
enunciador.
Dentre as alternativas abaixo, a única em que o elemento
sublinhado NÃO é uma marca de subjetividade é: