A partir da leitura do texto, é correto afirmar que o autor 

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Q2172096 Português

Malpassado


     Quanto mais sutil a opressão, mais cruel. Por isso, dentre as mil formas de “subjugar” os outros, tenho uma implicância especial com o bom gosto. Apontar o que há de brega, cafona, fora de moda ou exagerado nas pessoas é uma vaidade disfarçada de virtude.

     Dentre as mil formas de se oprimir pelo gosto, uma das que me dão mais raiva é o ponto da carne. Repare com que orgulho o cidadão declara ao garçom, num restaurante, “malpassado”. Fala alto, para que os outros ouçam, como se a pergunta fosse “Onde você se formou?” e a resposta, “Harvard”.

    Já o pobre diabo que quer seu bife bem passado é quase um proscrito. Eu sou churrasqueiro. Vejo uma amiga ou amigo se aproximar da grelha e pelo jeito que se arrasta, com o rabo entre as pernas, quase ganindo, sei o que vai pedir. Ela(e) chega bem perto. Inclina o corpo. Com cautela sussurra no meu ouvido como quem pede algo ilícito: “Será que rola sair uma um pouquinho mais bem passada?”.

    Venho de uma família dogmática. Minha avó tem uma pousada e no cardápio está escrito, em letras maiores do que as dos pratos: “Não servimos bife bem passado”. “No meu restaurante eu não sirvo comida ruim!”, ela diz. Eu respeito sua posição. Contudo, rompendo com os valores familiares, ajo diferente. Não ao ponto de preferir carne bem passada, mas pelo menos ao de grelhá-la mais pra quem quiser. Acredito que o churrasqueiro é um funcionário público e está a serviço dos comensais, não o contrário.

    “Ah, Antonio, mas e o ketchup na pizza?”. (Não sei por que pus entre aspas, sou eu perguntando pra mim mesmo). “E o cream cheese no sushi?”. “E o macarrão no bufê do rodízio?”. Aceitemo-los — assim como vós aceitais essa mesóclise. São todos filhos da Revolução Francesa, frutos da democracia. O preço da liberdade não é só a eterna vigilância. Entram também na conta o Crocs, a estampa de oncinha e o bife esturricado.

(Antônio Prata. Adaptado).

A partir da leitura do texto, é correto afirmar que o autor 
Alternativas

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Vamos analisar a questão apresentada e entender por que a alternativa correta é a D.

Alternativa D: O autor concorda com sua avó que bifes bem passados configuram “comida ruim”, mas foge à regra de sua família ao servi-los mesmo assim.

Nesta alternativa, o autor expressa seu desacordo com a imposição rígida de preferências pessoais. Ele menciona que, embora respeite a visão de sua avó sobre bifes bem passados, ele está disposto a prepará-los para aqueles que os preferem assim. Isso demonstra uma atitude de respeito à diversidade de gostos, o que está em conformidade com o tema central do texto: a crítica à imposição de gostos pessoais sobre os outros.

Justificativa: O texto aborda a opressão sutil exercida através da imposição de preferências pessoais, como a forma "correta" de comer carne. O autor critica essa atitude, defendendo a liberdade de escolha, algo que ele pratica ao servir bifes bem passados, apesar de não ser sua preferência pessoal. Assim, a alternativa D é a que melhor reflete a essência do texto.

Agora, vamos examinar por que as outras alternativas estão incorretas:

Alternativa A: Esta afirma que o autor quer convencer as pessoas a abandonar maus hábitos como comer bife bem passado ou colocar ketchup na pizza. No entanto, no texto, o autor defende a liberdade de escolha e critica quem impõe suas preferências aos outros. Ele não busca mudar o comportamento de ninguém, mas sim criticar essa imposição.

Alternativa B: Sugere que o preço da liberdade é vigiar quem usa Crocs ou come bifes bem passados. Esse ponto de vista distorce a mensagem do texto, que é justamente o oposto: o autor defende que as pessoas devem ter a liberdade de fazer suas próprias escolhas, mesmo que sejam consideradas "bregas" ou "exageradas" por alguns.

Alternativa C: Alega que o autor critica quem pede bifes bem passados. Na realidade, o autor critica a imposição de gostos, mas ele próprio está disposto a respeitar e atender os pedidos dos outros, como ao servir bifes bem passados, apesar de sua aversão pessoal.

Para interpretar textos com segurança, é importante identificar o tema central e a intenção do autor. Ler cuidadosamente os parágrafos e entender o contexto ajuda a evitar pegadinhas e generalizações inadequadas.

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Comentários

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"pedindo a ele para fazer bifes bem passados sabendo que ele não os aprecia"

Ele quem? O churrasqueiro.

Parece que são as pessoas que gostam de carne malpassada que quer impor sua preferência culinária aos outros. No texto é justamente o contrário que ocorre, comer carne bem-passada é quase um "crime".

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