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Ano: 2018
Banca:
Instituto Excelência
Órgão:
Prefeitura de São Carlos - SP
Prova:
Instituto Excelência - 2018 - Prefeitura de São Carlos - SP - Analista de Tecnologia da Informação |
Q1288576
Português
Texto associado
Leia o texto a seguir e responda.
O diamante – Crônica de Fernando Sabino
Em 1933 Jovelino, garimpeiro no interior da Bahia,
concluiu que ali não havia mais nada a garimpar. Os filhos
viviam da mão pra boca, Jovelino já não via jeito de
conseguir com que prover o sustento da família. E resolveu
se mandar para Goiás, onde Anápolis, a nova terra da
promissão, atraía a cobiça dos garimpeiros de tudo quanto
era parte, com seus diamantes reluzindo à flor da terra.
Jovelino reuniu a filharada, e com a mulher, o genro, dois
cunhados, meteu o pé na estrada.
Longa era a estrada que levava ao Eldorado de Jovelino:
quase um ano consumiu ele em andança com a sua tribo,
pernoitando em paióis de fazendas, em ranchos de beira
caminho, em chiqueiros e currais, onde quer que lhe
dessem pasto e pousada.
Vai daí Jovelino chegou aos arredores de Anápolis depois
de muitas luas e ali se estabeleceu, firme no cabo da
enxada, cavando a terra e encontrando pedras que não
eram diamantes. Daqui para ali, dali para lá, ano vai, ano
vem, Jovelino existia de nômade com seu povinho cada vez
mais minguando de fome. Comia como podia — e não
podia. Vivia ao deus- dará — e Deus não dava. Quem me
conta é o filho do fazendeiro de quem Jovelino se tornou
empregado:
— Ao fim de dez anos ele concluiu que não encontraria
diamante nenhum, e resolveu voltar com sua família para a
Bahia onde a vida, segundo diziam, agora era melhorzinha.
Não dava diamante não, mas o governo prometia emprego
seguro a quem quisesse trabalhar.
Jovelino reuniu a família e botou pé na estrada, de volta à
terra de nascença, onde haveria de morrer. Mais um ano
palmilhado palmo a palmo em terra batida, vivendo de favor,
Jovelino e sua obrigação, de vez em quando perdendo um,
que isso de filho é criação que morre muito. Foi nos idos de
43:
— Chegou lá e se instalou no mesmo lugar de onde havia
saído. Governo deu emprego não. Plantou sua rocinha e foi
se aguentando. Até que um dia…
Até que um dia de noite Jovelino teve um sonho. Sonhou
que amanhava a terra e de repente, numa enxadada
certeira, a terra escorreu… A terra escorreu e aos seus
olhos brilhou, reluziu, faiscou, resplandeceu um diamante
soberbo, deslumbrante como uma imensa estrela no céu —
como uma estrela no céu? Como o próprio olho de Deus!
Jovelino olhou ao redor de seu sonho e viu que estava em
Anápolis, no mesmo sítio em que tinha desenterrado a sua
desilusão.
E para lá partiu, dia seguinte mesmo, arrastando sua
cambada. Levou nisso um entreano, repetindo pernoites
revividos, tome estrada! Deu por si em terra de novo goiana.
Quem me conta é o filho do fazendeiro:
— Você precisava de ver o furor com que Jovelino procurou
o diamante de seu sonho. A terra de Goiás ficou para
sempre revolvida, graças à enxada dele. De vez em quando
desmoronava, Jovelino ia ver, não era um diamante, era um
calhau. Até que um dia…
— Encontrou? — perguntei, já aflito.
— Encontrou nada! Empregou-se na fazenda de meu pai, o
tempo passou, os filhos crescidos lhe deram netos, a mulher
já morta e enterrada, livre dos cunhados, os genros bem
arranjados na vida. Um deles é coletor em Goiânia.
O próprio Jovelino, entrado em anos, era agora um velho
sacudido e bem disposto, que tinha mais o que fazer do que cuidar de garimpagens. Mas um dia não resistiu: passou a
mão na sua enxada, e sem avisar ninguém, o olhar
reluzente de esperança, partiu à procura do impossível, do
irreal, do inexistente diamante de seu sonho.
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Leia o excerto a seguir: “Longa era a estrada que
levava ao Eldorado de Jovelino: quase um ano
consumiu ele em andança com a sua tribo,
pernoitando em paióis de fazendas, em ranchos de
beira caminho, em chiqueiros e currais, onde quer que
lhe dessem pasto e pousada.”