No trecho “O acento diferencial consegui esquecer, mas há ou...

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Q2368923 Português
Tropeçando nos acentos


       Quero começar com uma declaração de amor: escritor brasileiro, adoro a língua portuguesa, esta “última flor do Lácio, inculta e bela”, de que falava Bilac, o idioma em que foram escritas tantas e tão grandiosas obras de escritores como Saramago, Cardoso Pires, Lobo Antunes, Lídia Jorge, Pepetela (para não citar os brasileiros). Para celebrar o português, a riqueza do português, a musicalidade do português, nenhum elogio é bastante.

         Mas...

       O mas é o objeto destas mal-traçadas linhas. E este mas refere-se a uma questão que não é só do português, claro, mas que incomoda a quem escreve em português. É a questão dos acentos.

      Alguém já disse que os ingleses conquistaram o mundo porque não precisavam perder tempo acentuando as palavras. Pode não ser verdade, mas o gasto de energia representado pelos agudos, pelos circunflexos, pelos tremas, é uma coisa impressionante. E a pergunta é: para quê, mesmo? Alguém já disse que a crase não foi feita para humilhar ninguém. Tenho minhas dúvidas: acho que a crase foi feita, sim, para humilhar. A população brasileira se divide em pobres e ricos, mas também se divide em dois grupos, os que sabem usar a crase, a minoria, e a maioria que tem um medo existencial a este sinal.

      É possível aprender? É possível. Mas tomem o meu caso: escritor, médico, homem razoavelmente informado, eu deveria acentuar bem as palavras. Pois tenho minhas dúvidas. É que durante a minha existência o país passou por umas três reformas ortográficas que tiveram o mérito de esculhambar a minha cabeça. O acento diferencial consegui esquecer, mas há outros que ainda me causam dúvidas.

       Há duas soluções para este problema. Uma é representada por esses dispositivos de correcção que hoje fazem parte dos programas de computação (mas que às vezes cometem erros lamentáveis). Outra seria uma revolução na grafia que reduzisse os acentos ao mínimo possível ou, melhor ainda, a zero.

      A primeira máquina de escrever que eu ganhei, ainda menino, era uma velha Royal, importada dos Estados Unidos, e que não tinha acentos. Eu escrevia, e depois acentuava à mão. Com uma tremenda inveja dos americanos que estavam dispensados desta tarefa inglória. Não sei onde andará essa máquina. E nem quero saber. Ela me lembraria que há neste mundo pessoas felizes que podem escrever sem a preocupação de acentuar certo. Uma coisa que eu gostaria de esquecer.


(Moacyr Scliar. Disponível em: Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Consultado em: 16/01/2024.)
No trecho “O acento diferencial consegui esquecer, mas há outros que ainda me causam dúvidas.” (5º§), o autor se refere à queda da acentuação de diversas palavras que anteriormente eram acentuadas para diferenciá-las de outras de mesma pronúncia. No entanto, o acento diferencial não foi abolido do idioma e a acentuação se mantém em determinados casos com o mesmo propósito. Um exemplo que ainda perdura na língua portuguesa mesmo com a reforma ortográfica se dá no par de palavras: 
Alternativas

Comentários

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Consoante o nome sugere, os acentos diferenciais são utilizados para diferenciar vocábulos, a exemplo de por (preposição) e pôr (verbo). O Novo Acordo Ortográfico determinou que não mais se deve usar o acento que diferenciava pares como pára/para, péla(s)/pela(s), pêlo(s)/pelo(s), pólo(s)/polo(s) e pêra/pera.

Fonte: Gran Cursos

Gabarito A

Alternativa correta letra A!

Complementando;

De acordo com o novo acordo ortográfico permanece o acento diferencial em Pôr/Por.

Pôr é verbo(timbre fechado) e Por é preposição.

Ex: Vou "pôr" o livro na estante que foi feita "por" mim.

Os acentos mantidos são os que ainda possuem a mesma classe gramatical mesmo com a mudança, como por exemplo o TEM e o TÊM, que se aplicam para singular e plural, respectivamente, mas ainda mantêm a mesma classe gramatical (verbo). A exceção é o POR e PÔR, em que um é preposição e o outro é verbo.

Lembrando que verbo parar e preposição para, não há acento diferencial.

Fôrma e forma é facultativo para evitar ambiguidade, por exemplo:

  • Não gostei da forma do bolo.
  • Não gostei da fôrma do bolo.

Os dois exemplos estão corretos, porém o primeiro se refere ao utensílio de cozinha, e o segundo ao formato do bolo.

Gabarito letra A

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